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Retomada do acordo nuclear do Irã é chance para EUA mostrarem sucesso ao mundo, diz analista

© AP Photo / Agência de Notícias Fars / Mehdi MarziadExercícios militares no Irã com lançamento de míssil terra-mar Saegheh
Exercícios militares no Irã com lançamento de míssil terra-mar Saegheh - Sputnik Brasil, 1920, 30.12.2021
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A Sputnik Brasil conversou com dois especialistas para compreender mais um episódio envolvendo os EUA e o Irã com relação à retomada das conversações sobre o acordo nuclear em Viena.
As negociações para tentar salvar o acordo nuclear iraniano foram retomadas na segunda-feira (27), em Viena, e devem conduzir ao levantamento das sanções americanas e ao regresso dos EUA ao acordo.
As conversas foram retomadas após cinco meses de interrupção e já chegam à oitava rodada de negociações.
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Para Cláudio Esteves Ferreira, especialista nuclear, a tecnologia nuclear é uma tecnologia dual, ou seja, pode ser usada para aplicação civil, como a produção de energia, e para a produção de armas nucleares, portanto, aquele que domina a tecnologia civil tem capacidade de produzir armamentos nucleares.
De acordo com o especialista, diversos países abriram mão desta tecnologia, mesmo tendo condições para isso, pelo fato de transformar o ambiente em um de alto risco em termos de segurança. Contudo, todos aqueles países que possuem a ambição de serem grandes potências procuram obter a tecnologia nuclear.
"Há países envolvidos em conflitos prolongados ou rivalidades persistentes que não desfrutam de uma proteção de um guarda-chuva nuclear de uma grande potência que, sendo pressionados ou amparados por potências nucleares, vêm a arma nuclear como um grande equalizador", explicou.
Como exemplo, o especialista cita o Paquistão, que busca armas nucleares para equalizar a superioridade militar convencional da Índia. Já a Coreia do Sul não precisa de armas nucleares na sua rivalidade persistente com a Coreia do Norte por contar com o guarda-chuva americano, caso contrário, o país também seria uma potência nuclear.
Cláudio Esteves Ferreira também afirma que o Irã não tem intenção de se tornar uma grande potência nuclear internacional, mas sim regional, já que é cercado por países que possuem armas nucleares, como é o caso de Israel, com quem os iranianos possuem uma rivalidade. Dessa forma, o Irã teria razões para buscar seu arsenal nuclear com a justificativa de estar desenvolvendo a tecnologia para fins pacíficos.

Exportação de petróleo iraniano

O representante permanente da Rússia junto das Organizações Internacionais em Viena, Mikhail Ulyanov, classificou a declaração iraniana de querer voltar ao acordo, com a retirada de sanções e possibilidade de lucrar com petróleo, como uma "mensagem positiva".
O especialista concordou com o representante russo e disse que, provavelmente, ele expressa o desejo de todos os envolvidos no acordo, inclusive dos EUA.
Ele também ressalta que "ninguém queria o fim do acordo, exceto Trump", e agora a dificuldade é como o acordo poderá ser retomado.
"Como a iniciativa de sair foi americana, eu acredito que o primeiro passo para o reestabelecimento do acordo tem que ser dado pelos EUA", declarou Cláudio Esteves Ferreira, ressaltando que a confiança entre os países deve ser reestabelecida.
Além disso, ele acredita que um novo acordo seria muito positivo para a amenização das tensões políticas no Oriente Médio, destacando que este é um acordo que todos os países gostariam que fosse retomado, inclusive os EUA, que se não fosse por Trump provavelmente jamais teriam deixado o acordo.
Para Pedro Costa Junior, especialista em política externa dos EUA, professor de Relações Internacionais da FACAMP e autor do livro "Colapso ou Mito do Colapso", o Irã pretende retomar o acordo do ponto de vista daquele que foi firmado em 2015. Contudo, o atual governo iraniano coloca algumas exigências, como o levantamento das sanções norte-americanas, para que o país possa lucrar com o fornecimento do petróleo.
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Por sua vez, a estratégia iraniana está sendo mal recebida pelos EUA, porém, os iranianos querem apenas que seja cumprido aquilo que foi firmado no acordo de 2015.
Além disso, Pedro Costa Junior afirma que a retomada do acordo é uma chance que os EUA têm de mostrar sucesso ao mundo, transformando uma possibilidade de conflito em cooperação.
Falando sobre os impactos no mercado internacional caso os EUA "permitam" a entrada iraniana no comércio petroleiro, Pedro Costa Junior opina que a entrada iraniana significaria um aumento brutal da oferta de petróleo, o que naturalmente pode provocar a queda no preço do petróleo.
Além disso, isso pode provocar a retomada da economia mundial, podendo ser interessante para os próprios EUA, que têm um plano de retomar a economia do país.

Relações entre Irã e Israel

De acordo com Cláudio Esteves Ferreira, há algumas tendências que podem ser notadas, como a ascensão de uma linha mais dura no governo do Irã e a derrota da extrema direita em Israel, o que deve ou pode facilitar um encaminhamento positivo para um acordo ou para seu restabelecimento.
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Os exercícios militares destes países na região servem apenas para fazer uma pressão, contudo, o especialista acredita que Israel tenha interesse em um acordo que limite a possibilidade de o Irã vir a ter armas nucleares.
"Acredito que todos têm interesse nesse acordo, e ele acontecendo essas tensões devem diminuir, voltando a um nível mais aceitável de convivência", opinou.
O especialista também destacou que Israel é conhecido por dar respostas desproporcionais quando se sente ameaçado, o que é um fator intensificador de crises, elevando a tensão. Contudo, o especialista não acredita que os israelenses tenham interesse no agravamento da tensão.

Saída dos EUA do acordo nuclear e desfecho final

Para Cláudio Esteves Ferreira, a questão da pandemia da COVID-19, bem como os assuntos internos do país, podem ter sido um fator importante no atraso da retomada das negociações para um novo acordo nuclear, já que os EUA estavam voltados para a resolução da séria crise de saúde no país.
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Contudo, com o avanço iraniano na produção nuclear, os EUA passaram a se focar nas questões de interesse internacional.
Apesar da retomada das negociações, o especialista acredita que é difícil prever um acerto no começo do ano, porém, há um interesse mútuo na consistência deste acordo.
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