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Honras de Macron a opositores de Bolsonaro refletem polarização política da França, diz pesquisador

© AP Photo / Domenico StinellisPresidente da França, Emmanuel Macron, fala durante coletiva de imprensa da cúpula do G20 em Roma, 31 de outubro de 2021
Presidente da França, Emmanuel Macron, fala durante coletiva de imprensa da cúpula do G20 em Roma, 31 de outubro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 06.12.2021
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Nesta segunda-feira (6), o senador brasileiro Randolfe Rodrigues (Rede-AP) foi condecorado na França por sua atuação em defesa do meio ambiente. Para discutir os efeitos diplomáticos e o contexto da honraria, a Sputnik Brasil conversou com o pesquisador de Relações Internacionais Christopher Mendonça.
O senador Randolfe Rodrigues recebeu do presidente francês, Emmanuel Macron, o grau de Cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra, ainda em junho deste ano. A cerimônia de entrega do título, porém, foi realizada nesta segunda-feira (6). A comenda é considerada a mais alta honraria francesa e homenageia a atuação do senador em defesa do meio ambiente e pelo combate à COVID-19 na região fronteiriça de seu estado, o Amapá, com a Guiana Francesa.
A homenagem é mais um aceno de Macron a opositores do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), uma vez que Rodrigues representa um estado da Amazônia e teve papel destacado na CPI da Covid. A mais importante dessas movimentações do presidente francês aconteceu em novembro, quando Macron recebeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com honras de chefe de Estado, em uma cerimônia no Palácio do Eliseu.
© Foto / Agência Senado / Waldemir BarretoÀ bancada, em pronunciamento no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), 2 de setembro de 2021
À bancada, em pronunciamento no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), 2 de setembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 06.12.2021
À bancada, em pronunciamento no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), 2 de setembro de 2021
Para o pesquisador Christopher Mendonça, professor de Relações Internacionais do IBMEC, as recentes movimentações de Macron refletem a situação doméstica da França que, assim como o Brasil, vive um momento de polarização política.
"Macron tem utilizado a política externa para se aproximar de lideranças de esquerda, de forma geral, na tentativa de fortalecer sua posição dentro do seu próprio país", destaca Mendonça em entrevista à Sputnik Brasil.
O pesquisador do IBMEC explica que a polarização marcada pela presença de políticos de extrema-direita serve como pano de fundo das movimentações do presidente francês em direção ao Brasil. Segundo Mendonça, a aproximação de Macron com lideranças latino-americanas busca "demarcar o território do próprio presidente", tendo em vista as eleições presidenciais na França, marcadas para abril de 2022.

"Não há dúvidas de que nós estamos passando, tanto no Brasil quanto na França, por um processo muito importante de polarização. Aqui no Brasil nós temos, de um lado, Bolsonaro e, de outro, o ex-presidente Lula, que lideram cada um dos seus campos - à direita e à esquerda, respectivamente. Lá na França, algo muito semelhante tem acontecido e o presidente Macron tem liderado esses grupos mais de centro-esquerda, enquanto outros nomes como Marine Le Pen, da Frente Nacional, e [Éric] Zemmour estão tentando fixar, organizar a questão dos partidos de direita mais extremistas", explica.

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Diante das movimentações de Macron em direção aos opositores de Bolsonaro, Mendonça ressalta a importância das relações de Estado entre França e Brasil, sublinhando que essas relações estão acima de governos e das escolhas da atual política externa brasileira.
Essa questão ficou em evidência após o encontro do ex-presidente Lula com Macron. O evento foi visto no Brasil como um recado para Bolsonaro, que tem rusgas pessoais com o mandatário francês. Apesar disso, o pesquisador Christopher Mendonça ressalta que honras a ex-chefes de Estado são comuns e que a cerimônia com Lula demonstra a relevância do Estado brasileiro.

"O Brasil não deixou de ser um país importante, não deixou de manter contato muito próximo com a França. O que tem existido é um discurso ao redor dessa rivalidade, ainda que discursiva, entre os dois presidentes [Macron e Bolsonaro], mas que, na prática, não é tão negativa, tão catastrófica", pondera o pesquisador, que ressalta que apesar de "críticas contundentes" à atual política externa brasileira, o país segue como um ator internacional de peso.

Mesmo diante da relevância internacional do Brasil como Estado, Mendonça pontua que as recentes participações do país nas reuniões do G20 e na COP26 refletem escolhas da política externa que afetam a imagem brasileira de forma negativa mundo afora. Segundo Mendonça, o balanço geral das relações exteriores do Brasil durante o governo Bolsonaro deve render efeitos negativos ao atual presidente em sua campanha pela reeleição.

"Nesse sentido não há dúvidas de que essa postura internacional mais isolacionista e de menor diálogo, de menor protagonismo, que o presidente Bolsonaro tem empreendido na nossa política externa afeta, sim, o plano internacional e enfraquece o nome do presidente [brasileiro] para o pleito que já se aproxima", aponta.

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