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Brasil é o único país que pode atingir nova cota da Rússia para importação de carnes, diz analista

© REUTERS / Aleksei MalgavkoAçogueira russa atenta ao cliente em um mercado em Omsk, 29 de outubro de 2021
Açogueira russa atenta ao cliente em um mercado em Omsk, 29 de outubro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 22.11.2021
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Na semana passada, foi anunciado que o governo russo abrirá cota de 300 mil toneladas para importação de carne com tarifa zero por seis meses. A Sputnik Brasil ouviu analista para saber se a medida pode beneficiar o setor agropecuário brasileiro.
Desde setembro, a exportação de carne bovina brasileira para China está suspensa devido aos casos de vaca louca registrados em dois municípios do interior do Brasil.
De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), se o embargo continuar, estima-se um prejuízo de até US$ 1,8 bilhão (R$ 10 bilhões) para o setor.
Após a suspenção, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, anunciou que o governo russo abrirá uma cota de 300 mil toneladas de carne com tarifa zero de importação por seis meses.
Na última quarta-feira (17), a ministra reuniu-se em Moscou com o chefe do Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia, Sergei Dankvert, que garantiu a realização de uma visita de inspeção ao Brasil (ainda no primeiro trimestre de 2022), o que possibilitará a habilitação de novas plantas frigoríficas brasileiras para exportação, segundo o site Poder 360.
A Sputnik Brasil entrevistou Augusto Carneiro, trader da Sudambeef S.A responsável pelas vendas para Rússia e Leste Europeu no intuito de entender se a medida russa pode ajudar o setor agropecuário brasileiro diante do embargo chinês e se o setor pode colher benefícios futuros com a reaproximação comercial entre Moscou e Brasília.
© Folhapress / Edson SilvaFuncionários trabalham na linha de produção do frigorífico Minerva, em Barretos, interior de São Paulo (foto de arquivo)
Funcionários trabalham na linha de produção do frigorífico Minerva, em Barretos, interior de São Paulo (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 22.11.2021
Funcionários trabalham na linha de produção do frigorífico Minerva, em Barretos, interior de São Paulo (foto de arquivo)
Dentro da cota de 300 mil toneladas divulgada pela mídia e anunciada pela ministra, 200 mil toneladas se referem à carne bovina e 100 mil toneladas à carne suína, entretanto, não ficou claro se a cota seria para o Mercosul, para o Brasil ou também para outros países.
Carneiro diz que, para o setor, também não ficou esclarecido para quem a cota vale, e até agora, há apenas conhecimento sobre o volume de 300 mil toneladas, o qual contará somente com "carnes de corte, os miúdos bovinos e suínos ficaram de fora", diz o especialista.
Ao mesmo tempo, o trader ressalta que ainda não se sabe como vai ser a correspondência com os importadores, "se será através de empresas privadas ou de uma empresa estatal única", e que o setor aguarda a confirmação, uma vez que "dependendo da forma como ocorra, é que teremos a certeza da tarifação zero para as carnes".

"O Brasil é o país que mais tem condições de fornecer esse volume [de carnes], já que outros países não têm condições para atingir a cota de 200 mil carnes bovinas ao longo do ano, o único que tem essa capacidade, incluindo a cota suína, é o Brasil, só que o país também tem o problema de não ter muita planta [frigorífica] aprovada e isso limita bastante o volume", explica o trader.

No entanto, o fato de uma delegação russa vir ao país para inspecionar as plantas "é um ótimo sinal, pois há muito tempo esse procedimento não acontece", mas Carneiro enfatiza que o interessante seria se a perícia acontecesse antes do primeiro trimestre de 2022, porque "só assim poderíamos ficar um bom tempo dentro do período da tarifação zero, o qual, até o momento, entendemos ser de apenas seis meses".
© REUTERS / Aleksei MalgavkoCliente segura cédulas de rublo russo em uma barraca de carne em um mercado em Omsk, Rússia, 29 de outubro de 2021
Cliente segura cédulas de rublo russo em uma barraca de carne em um mercado em Omsk, Rússia, 29 de outubro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 22.11.2021
Cliente segura cédulas de rublo russo em uma barraca de carne em um mercado em Omsk, Rússia, 29 de outubro de 2021

Decisão do governo russo

Para Carneiro, o intuito do governo russo com a medida "é reduzir o valor do produto derivado da carne", ou seja, o produto industrializado. "Reduzindo o custo da carne utilizada no salame, na salsicha, no hambúrguer, esses produtos ficam mais baratos nas prateleiras dos supermercados para os consumidores".

"Esses artigos estão com valor elevado na Rússia por consequência do aumento da carne bovina e suína no país, e essa é uma forma de diminuir o valor do produto importado e com isso almejar uma redução de valor nesses artigos processados."

Se abrindo essa cota Moscou estaria colocando em perigo sua produção nacional, Carneiro diz que não, uma vez que "a medida é momentânea e emergencial, com prazo de validade", podendo ter sido elaborada para enfrentar as dificuldades econômicas geradas pela pandemia.

Benefício diante do embargo chinês

O embargo da China à carne brasileira já dura dois meses e causa perdas milionárias ao setor. Se a medida russa pode ajudar os frigoríficos brasileiros a se fortificarem diante do embargo chinês, Carneiro acredita que sim, "pois é um amplo mercado que terá redução de tarifa".

"A tendência é uma acomodação de benefícios para todos os participantes da cadeia [...] e quando houver a expansão de plantas aprovadas pela Rússia, o benefício será ainda maior, pois terá mais competitividade do lado da oferta e uma melhor condição para os compradores, uma vez que há mais estabelecimentos aptos para venda do produto."

Por conta do embargo chinês, o volume de exportações de carne bovina brasileira caiu 43% no mês de outubro quando comparado ao mesmo período de 2020. Diante de uma taxa tão alta, gera-se a pergunta: para onde vai a carne produzida no país se um dos principais clientes interrompe as importações?
© AP Photo / Fu TingAçougue em mercado de Pequim (foto de arquivo)
Açougue em mercado de Pequim, 19 de outubro de 2019 - Sputnik Brasil, 1920, 22.11.2021
Açougue em mercado de Pequim (foto de arquivo)
Carneiro elucida que o próprio mercado nacional absorveu parte da produção "que até então estava indo para China", ao mesmo tempo, houve expansão para outros mercados, "como países do Oriente Médio, da América do Sul – Chile e Uruguai –, alguns países da África e nações asiáticas, que não têm o mesmo peso da China, mas também consomem nossa carne".

"O mercado interno passou a consumir mais porque os preços reduziram. Também houve uma realocação a nível externo, aumentando a exportação para países que sempre fizeram parte da lista de importadores, mas estavam levando um volume menor por conta da demanda chinesa", explicou o trader.

No entanto, Carneiro sinaliza que a compra feita por outros países tem um preço menor do que o pago pelo mercado chinês: "Eles estão ajudando a suprir a baixa de vendas causada pelo embargo, mas com níveis de preço menores dos que os praticados pelos chineses", e isso se aplicaria à Rússia também.

"Mesmo com a reaproximação do mercado russo com brasileiro, a Rússia não tem condições de competir com os preços que são praticados pelo mercado chinês", diz o especialista.

Porém, o trader destaca que se a aprovação das plantas (feita pela delegação russa) não valer para China, o Brasil teria condições "de fazer um volume grande para Moscou mesmo que Pequim retorne a importação".
"Se houver plantas aprovadas para China e Rússia ao mesmo tempo, aí haverá dificuldades, porque os produtos importados pelos russos competem com os chineses."
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Na visão de Carneiro, a maior afinidade entre Rússia e Brasil no setor é muito bem-vinda, uma vez que "os dois países são economias complementares devido à grande diferença de clima. O que tem na Rússia não tem no Brasil e vice-versa".

"O boi e a vaca não suportam clima frio, não conseguem sobreviver durante o inverno russo, portanto é necessário criar ambientes com calefação, e quando o animal é de porte grande é complicado. É muito mais fácil acomodar em lugares que tem grama à vontade como no Brasil", exemplifica o especialista.

Carneiro acredita que o mercado de cooperação entre os dois países pode ser expandido e há "bom espaço para fortalecimento do comércio bilateral", no entanto, um maior aprofundamento das relações comerciais não acontece uma vez que "até o presente momento, não há questões de preferência tributária trabalhadas de forma mais ampla, e isso interfere demais no preço final".
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