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Figura simbólica: por que com reformas falhas e promessas não cumpridas Guedes continua no governo?

© REUTERS / Adriano MachadoMinistro da Economia do Brasil, Paulo Guedes no Palácio do Planalto em Brasília, Brasil
Ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes no Palácio do Planalto em Brasília, Brasil - Sputnik Brasil, 1920, 26.10.2021
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A Sputnik Brasil conversou com Maria Beatriz David, professora da Faculdade de Economia da UERJ, para compreender os motivos que ainda seguram o ministro da Economia, Paulo Guedes, no cargo.
Apesar das declarações do presidente Jair Bolsonaro de que Paulo Guedes permanece no cargo, a ala política do governo avalia que a saída do ministro da Economia depende de encontrar um substituto com um nome credível junto ao mercado e que concorde em discutir novas manobras no orçamento para elevar os gastos às vésperas do ano eleitoral.
Para compreender o que mantém Guedes no cargo, bem como sua situação em relação aos investidores internacionais e possível mudança de perfil na política econômica para 2022, a Sputnik Brasil conversou com Maria Beatriz David, professora da Faculdade de Economia da UERJ.
Questionada sobre as principais diferenças entre o quadro econômico prometido por Guedes e o que ele está entregando, a especialista comentou que nada do que foi prometido pelo ministro foi entregue.
"A grande reforma que houve, foi a da previdência, que foi tocada pelo Congresso, especificamente pelo Rodrigo Maia, que tomou isso como uma agenda dele e levou até o fim", explicou.
De acordo com a professora, todas as medidas tomadas na pandemia para melhorar as questões relacionadas ao assunto, ou para impulsionar, também são resultado da pressão da sociedade e iniciativas do Congresso.
"Só se comprou vacinas porque houve a CPI da Covid e porque havia uma tentativa de contrapor ao governo de São Paulo, que tinha tomado como sua agenda o combate à pandemia. O Supremo teve um papel importante ao firmar a posição da Federação, ou seja, deixar os governadores de municípios exercerem seu papel, caso contrário, teríamos enfrentado uma crise ainda maior do que a que enfrentamos", declarou.
Ela também ressaltou que "vender a ideia de que o Guedes é fundamental para a manutenção de uma agenda liberal, ninguém no Brasil acredita nisso, e muito menos o setor financeiro empresarial".
Explicando os motivos pelos quais o setor financeiro empresarial não tomou medidas de contenção, ou de oposição ao governo, a professora declarou que, no Brasil, "os setores empresariais não se contrapõem diretamente a nenhum governo", fazendo um jogo que mais interessam a eles.
"Há muito que ele não representa nenhum desses setores e que, inclusive, as mudanças na FIESP [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo] apontam isso. Eu creio que este distanciamento se concretizou com a saída do secretário do Tesouro, o Mansueto, há quase dois anos. Quando o Mansueto saiu, já estava claro que não tinha a possibilidade de compatibilidade entre o bolsonarismo e uma agenda liberal. Um governo autoritário e uma política liberal só são condizentes quando se tem uma centralização de poder maior do que a que ocorreu no Brasil atualmente", explicou.
Maria Beatriz David ressalta que outro papel relevante, além da pandemia, por exemplo, a posição do Supremo, foi fundamental para firmar a Federação e para delegar as competências ao estados e municípios, e toda a ação mais efetiva veio do Congresso, com o auxílio emergencial, e dos governadores, e depois a implementação da CPI, que forçou a uma política mais contundente de compra de vacinas.
Ela também destaca que furar ou não o teto não é a questão quando se tem claramente o motivo disso, ou seja, houve um consenso durante a crise maior da pandemia, que era impossível trabalhar com o teto, e os próprios setores que já foram do governo afirmaram que não havia possibilidade de permanência do teto para todos os gastos.
"Dizer que o governo não sabia do tamanho dos precatórios, não é verdade. Há um acompanhamento permanente da Advocacia Geral da União sobre o andamento dos precatórios, e o governo é que cria essa bola de neve, porque ele recorre quando sabe que não tem nenhuma possibilidade de ganhar", afirmou.

Política econômica e desconfiança dos investidores

A professora considera um ato gravíssimo furar o teto, e afirma que essa ação é dizer que "não vai pagar o que deve", gerando uma instabilidade e uma falta de confiança na economia enorme.
"Nenhum investidor vai trabalhar em um país onde nem o passado é certo. No Brasil, você não pode contar nem com o que já passou. O grau de rentabilidade que requer investidores para correr este risco é elevadíssimo", enfatiza.
"Na minha opinião, não tem grande importância, é uma figura muito mais simbólica a permanência ou não do Guedes, porque a agenda já foi abandonada há muitíssimo tempo", segundo a professora.
Outra reforma mencionada pela professora foi a reforma tributária, contudo, o governo resolveu que não aceitava as reformas e mandou um projeto que não tem qualquer consistência e que não vai mudar nada. E acreditar, como diz o Guedes, que tudo as reformas vão resolver, também não é verdade, pois elas resolvem a longo prazo.
"A política econômica que o Guedes diz fazer nunca foi feita e já foi totalmente abandonada. Hoje, furar o teto só significa mais claramente que não existe a política econômica, e que toda a política do ano que vem vai ser respaldada em gastos, tanto pressionados pelo Congresso, no apoio que dá hoje ao governo, que a maioria do Congresso é conduzida especialmente pelo Lira, que exige para manter sua fidelidade gastos crescentes", explicou a professora.
De acordo com a professora, em ano eleitoral, com a queda de popularidade do presidente, isso vai acontecer, e o Guedes já disse isso claramente, que ele vai fazer um presidente popular.
Além disso, ela observa que se o governo quisesse cortar os gastos, ele tinha cortado todas as emendas parlamentares, incluindo o orçamento secreto. Sendo assim, não mudou nada, apenas ficou ainda mais explícito que o governo vai gastar muito mais do que foi suposto.
Para Maria Beatriz David, as consequências disso é que a inflação vai acelerar, e quem perde mais é justamente a parte da população que não pode se defender quanto à inflação.
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