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Aviação: consumidor brasileiro gosta de 'regalias' por isso low cost não 'vingam', diz especialista

© Folhapress / Eduardo KnappAviões da LATAM Airlines Brasil em solo no aeroporto Mário Pereira Lopes, em São Carlos, São Paulo. Foto de arquivo
Aviões da LATAM Airlines Brasil em solo no aeroporto Mário Pereira Lopes, em São Carlos, São Paulo. Foto de arquivo - Sputnik Brasil, 1920, 14.10.2021
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A Sputnik Brasil conversou com dois especialistas sobre os novos acordos da Embraer e as expectativas de retomada no setor aéreo após o impacto da pandemia do novo coronavírus.
As ações da Embraer (EMBR3) subiram 4,89% na segunda-feira (11) após a divulgação de que a empresa brasileira recebeu uma encomenda de US$ 1,2 bilhão (aproximadamente R$ 6,6 bilhões) da companhia aérea da Berkshire Hathaway, empresa de investimentos de Warren Buffett, para a fabricação de até 100 novas aeronaves. Outros 100 jatos executivos foram entregues recentemente.
O acordo prevê que a companhia aérea da Berkshire Hathaway, NetJets, comece a receber o modelo Phenom 300E da nova encomenda no segundo trimestre de 2023, para operação nos EUA e na Europa.
"Com este novo pedido, que inclui um abrangente contrato de serviços, a NetJets não apenas reforça seu compromisso em criar uma experiência aprimorada para o cliente, à medida que a demanda por aviação privada continua a crescer, mas também sua confiança no inovador portfólio da Embraer para oferecer a experiência perfeita a seus clientes", lê-se no comunicado da empresa brasileira, reproduzido pelo portal G1.
Na semana passada, a Eve Urban Air Mobility, empresa da Embraer, e a Avantto, líder no ramo de compartilhamento de aeronaves no Brasil, anunciaram uma parceria para o desenvolvimento de operações de Mobilidade Aérea Urbana no Brasil e na América Latina.
A parceria inclui 100 aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOL, na sigla em inglês) da Eve. O eVTOL é uma aeronave de emissão zero, baixo ruído e design simples e intuitivo. As empresas afirmam que pretendem democratizar a aviação por meio do aumento da viabilidade e da acessibilidade.
​A Sputnik Brasil conversou com Elton Fernandes, professor de Engenharia de Produção e de Transportes do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) e Samuel Barros, pró-reitor da pós-graduação do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec-RJ), sobre os novos acordos da Embraer e as expectativas de retomada no setor aéreo após o impacto da pandemia do novo coronavírus.

Embraer e novas empresas operando no Brasil

Em 2021, a Embraer acumula valorização de aproximadamente 190% na bolsa de valores. Elton Fernandes destaca que a empresa é uma das maiores do mundo na fabricação de aviões para o transporte de passageiros e que, com as últimas notícias, "podemos dizer que existe perspectiva real de avanço da empresa em sua área de atuação, mantendo o Brasil como um ator importante no mercado de aeronaves comerciais".
© Folhapress / Lucas Lacaz RuizLinha de produção e montagem da Embraer em Botucatu, São Paulo (arquivo)
Linha de produção e montagem da Embraer em Botucatu, São Paulo (arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 09.11.2021
Linha de produção e montagem da Embraer em Botucatu, São Paulo (arquivo)
O impacto das novas negociações no curto prazo, todavia, não deve ser sentido no setor aéreo brasileiro. Samuel Barros afirma que o acordo com NetJets não tem relação direta com recuperação do setor, "até porque esses jatos não são para entrega imediata".
Por outro lado, a atuação de novas companhias áreas no país pode ter um efeito mais imediato de acordo com os especialistas. Desde o início da pandemia, o Brasil ganhou três novas empresas: Itapemirim, para voos domésticos, e Southern Air e Airline Peru para voos internacionais. Além disso, segundo o portal Poder360, há a expectativa de que a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) avalie até o fim do ano o pedido de atuação no Brasil de outras três companhias aéreas em voos domésticos (Asa Linhas Aéreas, Nella Linhas Aéreas e Regional Linhas Aéreas) e uma internacional (Eastern Airlines).
© Folhapress / Miguel Noronha/Futura PressVista de Airbus A320-232 Boeing da Itapemirim. Foto de arquivo
Vista de Airbus A320-232 Boeing da Itapemirim. Foto de arquivo - Sputnik Brasil, 1920, 09.11.2021
Vista de Airbus A320-232 Boeing da Itapemirim. Foto de arquivo
"Nova empresa no mercado é sempre boa notícia, é sinal de que os empresários veem perspectivas no mercado e sempre trazem novos conceitos que ajudam na competição", comenta Fernandes. Barros complementa: "Gera movimentação para o mercado, acaba sendo interessante para tentar reaquecer o setor".
Em contrapartida, em 15 de outubro, a Alitalia vai deixar de operar no país. "A saída da Alitalia já era esperada, era uma companhia que vinha sofrendo mesmo antes da pandemia e que a pandemia só agravou a situação, fazendo com que ela encerrasse as operações no Brasil", diz Barros.

Retomar ritmo pré-pandemia

Os dados mais recentes da Anac mostram que foram transportados 390,6 mil passageiros em voos internacionais em agosto deste ano, contra 2 milhões no mesmo período de 2019. Em relação a voos domésticos, a recuperação foi melhor: 7,8 milhões em agosto de 2019 para 5,5 milhões em agosto deste ano.
© Foto / Twitter da Infraero AeroportosAeroporto Regional de Maringá, Paraná
Aeroporto Regional de Maringá, Paraná - Sputnik Brasil, 1920, 09.11.2021
Aeroporto Regional de Maringá, Paraná
"Temos expectativa de que esses números melhorem com o tempo, no entanto, ainda é bastante prematuro cravar qualquer direção para isso. Existem alguns fatores que influenciam muito esse comportamento: além da própria pandemia, há um dólar extremamente elevado, e um preço do combustível, que também precifica as passagens aéreas", explica Barros.
Mesmo com o câmbio alto, Fernandes afirma que a expectativa é que ocorra mais voos de brasileiros para fora do país do que de estrangeiros para o Brasil, movimento que sempre foi muito baixo, quase nunca saindo dos 6 milhões por ano.
"O que se espera que ocorra com maior intensidade é a volta do turista brasileiro a suas viagens para o exterior, que representa a maior parte do movimento aéreo de passageiros internacionais no Brasil. O valor do dólar e a concentração de renda no Brasil são os principais amortecedores dessa volta."
Questionados sobre como incentivar o setor aéreo e sobre a viabilidade de companhias de baixo custo (low cost) para atender um público maior, os especialistas não são muito otimistas.
© AP Photo / Eraldo PeresJair Bolsonaro mostra a foto de uma praia durante cerimônia de apresentação de um programa para reiniciar o turismo, em meio à pandemia de COVID-19, em 11 de novembro de 2020
Jair Bolsonaro mostra a foto de uma praia durante cerimônia de apresentação de um programa para reiniciar o turismo, em meio à pandemia de COVID-19, em 11 de novembro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 09.11.2021
Jair Bolsonaro mostra a foto de uma praia durante cerimônia de apresentação de um programa para reiniciar o turismo, em meio à pandemia de COVID-19, em 11 de novembro de 2020
Barros frisa que o setor aéreo brasileiro, assim como o setor de turismo, sempre foi muito caro e recorda que o país já teve uma experiência com low cost que não correu bem.
"O consumidor brasileiro tem expectativas diferentes daquelas que a low cost é capaz de entregar. O serviço das low cost são espartanos, enquanto em uma companhia mais tradicional se espera algumas 'regalias' que uma low cost é incapaz de entregar. Não há expectativa de ter low cost no Brasil tão cedo em virtude da própria expectativa do consumidor."
Fernandes enxerga como possível estratégia de crescimento o estímulo ao transporte aéreo regional. Ele ressalta que a infraestrutura atende perfeitamente ao desenvolvimento do transporte nacional e internacional, mas destaca que esses mercados dependem exclusivamente dos outros setores da economia para crescer. "Creio que a melhoria do mercado interno é o grande desafio da economia brasileira e, por conseguinte, do transporte aéreo no país."
Barros conclui com más notícias: os preços das passagens devem aumentar no curto e médio prazo.
"Observamos que o que pode acabar acontecendo é um aumento dos preços, em virtude da variação cambial e de uma necessidade das companhias de apresentarem resultados. Temos um volume menor de passageiros e, dessa forma, [as empresas] precisam compensar essa margem dentro do preço."
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