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'Aproximação de UE com Índia, e não com Brasil, se deve a vários fatores', diz analista

© REUTERS / ADNAN ABIDIUma mulher senta-se em um riquixá em frente ao Jama Masjid ou Grande Mesquita em Jumat-ul-Vida em um dos bairros antigos de Delhi, Índia, 7 de maio de 2021
Uma mulher senta-se em um riquixá em frente ao Jama Masjid ou Grande Mesquita em Jumat-ul-Vida em um dos bairros antigos de Delhi, Índia, 7 de maio de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 11.05.2021
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UE e Índia realizaram negociações para acordos de livre comércio, proteção de investimentos e indicações de proveniência geográfica em encontro virtual entre líderes do bloco e do país asiático no final de semana passado.

Segundo analistas internacionais ilustra, em paralelo, o declínio das relações do Brasil com a União Europeia e na cena internacional. Sobre esse assunto, a Sputnik Brasil conversou com Leonardo Trevisan, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo.

Segundo ele, sem dúvida a questão das vacinas é um fator de explicação importante, mas não o único, nessa aproximação entre UE e Índia que a reunião entre as partes revelou. "De algum modo, o que os europeus percebem é a importância da Índia como um grande fornecedor dos insumos farmacêuticos ativos, mas isso não seria um fator suficiente para um tamanho giro nos interesses europeus voltado quase que exclusivamente para a Índia e não mais para uma relação com o Brasil".

​Trevisan disse que houve uma reação muito forte dos agricultores europeus à reunião, que perceberam uma oportunidade nessas negociações depois da reação brasileira de crítica que favoreceu, que facilitou, a vida dos agricultores europeus com a nossa péssima atenção em relação à questão ambiental.

"Os produtos brasileiros ganharam um carimbo ruim em torno da questão ambiental, e isto fez governantes europeus pensarem duas vezes. Neste momento, no contexto europeu, nenhum país pode desprezar a posição política dos chamados Verdes, especialmente os dois maiores, França e Alemanha", onde esse bloco pode sair vitorioso ou ser decisivo nas eleições que se aproximam, disse o especialista.

Nesse caso, explicou Trevisan, não era conveniente para a Comissão Europeia "cutucar a onça com vara curta", provocando os Verdes mantendo um acordo comercial com o Brasil seria absolutamente desnecessário. Essa razão explica mais essa proximidade com a Índia em detrimento da relação com o Brasil.

"Não há dúvida que havia um custo muito grande em empreender essa aproximação com o Brasil e foi exatamente esse o sentido do alerta dado por uma moção assinada por mais de 500 empresários brasileiros, os mais significativos em todos os setores, chamando a atenção para o ponto de que nós não podíamos permanecer nessa posição em relação à questão ambiental. Infelizmente esta posição dos empresários não foi ouvida e muito menos apoiada nem pelo Itamaraty nem pelo Palácio do Planalto", lamentou Trevisan.

Tamanho da população pode ter sido um fator para interesse europeu? 

A densidade populacional sem dúvida nenhuma teve seu peso, de acordo com o professor. Para ele, a Índia com 1,3 bilhão de habitantes contra os 212 milhões do Brasil tem uma maior relevância, mas não é uma questão decisiva. A questão central para a atenção que o país asiático recebeu no contexto europeu é pela percepção de que o Brasil, neste momento, se transformou em um competidor problemático.

© REUTERS / K.K. AroraHindus participam da festividade religiosa de Huranga no templo de Dauji, Mathura, Índia
'Aproximação de UE com Índia, e não com Brasil, se deve a vários fatores', diz analista - Sputnik Brasil, 1920, 11.05.2021
Hindus participam da festividade religiosa de Huranga no templo de Dauji, Mathura, Índia
"Temos que entender que a Europa procurava uma parceria estratégica em termos econômicos. No Brasil, nos últimos oito anos, não houve comportamento do ponto de vista econômico que facilitasse essa visão estratégica. Hoje, o que os europeus estão interessados é em uma revolução 4.0, em uma perspectiva de um mundo industrializado, em uma revolução essencialmente digital, em que um parceiro evolua junto", explicou.

E Trevisan diz que não é isto o que o Brasil está oferecendo ao mundo. É preciso lembrar, segundo ele, que o país nos últimos quatro anos em relação ao seu PIB industrial de alta e média tecnologia perdeu metade do seu peso, Na referência 2015/2019, no PIB industrial brasileiro, alta e média tecnologia representavam 10,8 em 2015 e representaram 5,1 em 2019.

"Quando nós olhamos para esse fato, comunicamos ao mundo um certo distanciamento em relação a uma revolução tecnológica. Não é gratuito que várias empresas de média e alta tecnologia estão deixando o Brasil. É este sentimento, é esta relação de atraso como alternativa estratégica que fez os europeus pensarem duas vezes e se aproximarem do contexto indiano, que é visivelmente um prestador de serviço estratégico, industrializado, digital, muito mais evoluído e com muito maiores perspectivas. As vacinas, a relação com densidade populacional tem seu peso, mas não foi definitivo neste julgamento da União Europeia de uma aproximação com a Índia", avaliou o especialista.

Relação Europa-Brasil

O presidente Jair Bolsonaro se tornou uma ideia fixa para os europeus, segundo Trevisan. Ela define uma posição que se construiu ao longo dos dois últimos anos em relação ao governo brasileiro nas principais capitais europeias, que determinam a construção de imagens das relações internacionais.

© Foto / Marcos Corrêa / Presidência da RepúblicaO presidente Jair Bolsonaro em videochamada com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, no dia 9 de abril de 2021
'Aproximação de UE com Índia, e não com Brasil, se deve a vários fatores', diz analista - Sputnik Brasil, 1920, 11.05.2021
O presidente Jair Bolsonaro em videochamada com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, no dia 9 de abril de 2021
"A posição brasileira não é das mais confortáveis. Nós não podemos esquecer que o Brasil em tempos bem recentes fez uma espécie de escolha, por uma condição de pária internacional após a derrota do presidente [Donald] Trump. Nós não recebemos nenhuma visita de um comissário europeu desde 2014. Há uma distância cautelosa das principais lideranças mundiais em relação à política no Brasil", continuou o professor de relações internacionais.

Emissários do Departamento de Estado dos Estados Unidos cautelosamente agora em abril evitaram passagem pelo Brasil ao visitarem vários países da América Latina, disse o especialista, chamando muita atenção da imprensa europeia à posição brasileira de apoio ao golpe em El Salvador.

"É curioso que o Brasil ficou numa posição de total isolamento quando a ONU, a União Europeia, os Estados Unidos e a própria OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] condenaram o golpe ocorrido em El Salvador e isso nos dá uma espécie de sinal desse isolamento, desta construção de uma ideia fixa. Na verdade cabe-nos perguntar com quem o Brasil quer negociar, quem o Brasil prefere: a União Europeia, os Estados Unidos e a OCDE ou termos a companhia de El Salvador, Filipinas de [Rodrigo] Duterte, ou Hungria", finalizou o especialista.
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