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Epidemiologista: vacina da Pfizer é 'segura e efetiva', mas Brasil precisa de mais doses

© REUTERS / Amanda PerobelliAeronave carregada com primeiro lote de vacinas da Pfizer/BioNTech chega ao aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP)
Aeronave carregada com primeiro lote de vacinas da Pfizer/BioNTech chega ao aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP) - Sputnik Brasil, 1920, 29.04.2021
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Em entrevista à Sputnik, epidemiologista Guilherme Werneck afirma que chegada de vacinas da Pfizer/BioNTech é uma boa notícia para o Brasil, mas destaca que o número de doses ainda é pequeno para as necessidades do país.

Nesta quinta-feira (29), aterrissou no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), a aeronave carregada com um milhão de doses da vacina Pfizer/BioNTech adquiridas pelo Brasil.

O desembarque e a entrega do primeiro lote do contrato, que prevê 100 milhões de doses no total, foram acompanhados pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e pelo presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, além dos titulares das Comunicações, Fábio Faria, e das Relações Exteriores, Carlos França, entre outras autoridades.

​O voo saiu da Bélgica e fez uma escala em Miami, nos Estados Unidos, antes de chegar ao Brasil. Um forte esquema de segurança foi montado pela Polícia Federal no aeroporto para a chegada das vacinas, cujo desembarque envolveu ao menos 120 profissionais.

Em seguida, as doses serão encaminhadas de Campinas para o centro de distribuição do governo federal em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, onde serão armazenadas a uma temperatura de -70ºC.

Devido a questões logísticas, como o curto espaço de tempo entre as doses — de apenas 21 dias —  e as necessidades de armazenamento em temperaturas extremamente baixas, os imunizantes serão distribuídos apenas entre as 27 capitais do país, de maneira proporcional e igualitária, entre sexta-feira (30) e sábado (1º).

Em fevereiro deste ano, a vacina da Pfizer foi a primeira a obter o registro sanitário definitivo pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Brasil. O acordo firmado entre o Ministério da Saúde e a farmacêutica, em 19 de março, prevê a entrega de um total de 100 milhões de doses de vacinas até o final do terceiro trimestre de 2021.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o médico epidemiologista Guilherme Werneck, que também é professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), dá boas-vindas à vacina da Pfizer, um imunizante que "vem sendo amplamente utilizado em diversos países do mundo", é "seguro e efetivo", e "pode ajudar a combater a COVID-19 no país".

No entanto, Werneck aponta que a quantidade de um milhão de doses é relativamente pequena para atender às necessidades do Brasil, e ressalta que a vacina carrega uma limitação logística, que é "a necessidade de manutenção em temperaturas negativas, que não são facilmente observadas na maior parte dos serviços de saúde, e principalmente nos postos de vacinação".

Por esses motivos, o professor da UERJ acredita que a decisão do governo de enviar as doses apenas para as capitais, "onde as condições de temperaturas negativas são mais facilmente observadas, foi acertada".

Além disso, Werneck afirma que isso facilitará, por exemplo, "que doses das outras vacinas — da CoronaVac e da Covishield —, que eventualmente teriam que ficar nas capitais, possam ser distribuídas para outros municípios do país".

© REUTERS / Marko DjuricaHomem recebe segunda dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra a doença a COVID-19 em Belgrado, Sérvia, 13 de abril de 2021
Epidemiologista: vacina da Pfizer é 'segura e efetiva', mas Brasil precisa de mais doses - Sputnik Brasil, 1920, 29.04.2021
Homem recebe segunda dose da vacina da Pfizer/BioNTech contra a doença a COVID-19 em Belgrado, Sérvia, 13 de abril de 2021

Eficácia da vacina Pfizer/BioNTech em relação à CoronaVac e AstraZeneca 

Ao ser questionado se existe termo de comparação entre as eficácias das diferentes vacinas que estão sendo utilizadas no Brasil, Guilherme Werneck é taxativo em responder que essas comparações são muito difíceis de serem feitas, pois envolvem inúmeras variáveis, e que também são inapropriadas.

"Com muitas variações [envolvidas na avaliação das eficácias], eu entendo que as comparações de eficácias que estão sendo divulgadas não são apropriadas. O que a gente tem que ter em mente é que todas elas [as vacinas] foram aprovadas porque cumpriram as condições mínimas de eficácias recomendadas", ressalta.

O especialista acrescenta que as eficácias observadas nos estudos podem variar posteriormente, "quando [são] aplicadas à população", o que torna necessário o acompanhamento da efetividade das vacinas no campo.

Campanha Nacional de Imunização contra a COVID-19

Na última semana, diversos municípios do país relataram falta de doses da vacina e tiveram que suspender a campanha de imunização. Além disso, o programa de vacinação contra a COVID-19 vem enfrentando diversos atrasos, com constantes modificações nos cronogramas de envio e produção das vacinas, e de imunização dos diferentes grupos populacionais.

Para Guilherme Werneck, a chegada da vacina da Pfizer é uma ótima notícia, mas ela não responde nem de longe ao principal problema do programa de imunização contra a COVID-19 do Brasil, que são as falhas em sua gestão.

Segundo o professor da UERJ, esses problemas apareceram ainda no ano passado, quando o governo federal recusou ofertas de vacinas, inclusive da própria Pfizer, e também se refletem na falta de organização e coordenação entre os diferentes entes federativos para a execução de seus objetivos.

"[O Plano Nacional de Imunização contra a COVID-19] é um plano bastante superficial, sem metas claras, que não se baseia em uma organização entre os entes federativos, então, realmente, há muitas dúvidas, e obviamente que a gestão da vacinação no país apresenta diversos problemas. E os problemas aparecem frequentemente, primeiro, porque a gestão da aquisição da vacina, que deveria ter sido iniciada já no ano passado, foi muito precária", afirma.

Na opinião de Guilherme Werneck, a culpa pela falta de vacinas é do governo federal, e as consequências disso são muito ruins para o Brasil, pois a interrupção das campanhas de vacinação "gera descrédito" e "frustração" em uma população que tem grande expectativa nos imunizantes.

Além disso, Werneck destaca que os atrasos prejudicam "a efetividade da campanha de vacinação" e a "proteção" que as pessoas poderiam atingir mais rapidamente, se houvessem doses em maior quantidade e se as mesmas fossem distribuídas de maneira mais eficiente. 

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