Poderia a mentalidade de 'Guerra Fria' dos EUA em relação à China e à Rússia prolongar pandemia?

© Sputnik / Chedly Ben IbrahimVacinação contra a COVID-19 com a vacina russa Sputnik V em centro esportivo da capital da Tunísia, Tunes, 13 de março de 2021
Vacinação contra a COVID-19 com a vacina russa Sputnik V em centro esportivo da capital da Tunísia, Tunes, 13 de março de 2021  - Sputnik Brasil, 1920, 22.04.2021
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Em análise, colunista da Sputnik Finian Cunningham avalia comportamento de "nacionalismo vacinal" dos EUA e seus aliados que estaria pondo em risco um fim eficaz da pandemia da COVID-19.

O presidente dos EUA, Joe Biden, saudou nesta semana o alcance da meta de administrar 200 milhões de doses da vacina contra a COVID-19 nos 100 dias após assumir o cargo. Mas a ação pode oferecer à nação uma proteção de curta duração contra o coronavírus, de acordo com cientistas.

A explicação para isto está na estratégia norte-americana, que pode ser descrita como "nacionalismo vacinal", ou seja, o fato de vacinar todos os cidadãos dos EUA antes de contribuir para os esforços internacionais para imunizar todas as nações, relata colunista da Sputnik Internacional.

Especialistas aferem que a falta de esforço internacional é, por sua vez, refém da mentalidade da Guerra Fria em relação à China e à Rússia. A grande disparidade entre os EUA e outras nações ditas ricas e, por outro lado, a maioria dos países de baixa renda está fazendo com que os observadores condenem o que vem sendo chamado de "apartheid da vacina" e a "desigualdade da vacina".

Os EUA e o Reino Unido estão entre as nações acusadas de acumular suprimentos de vacinas superiores aos que sua própria população precisa para ter cobertura total. Isso explica em grande parte por que o programa COVAX das Nações Unidas para auxiliar a distribuição internacional de vacinas falhou miseravelmente.

Uma estratégia mais ética e clinicamente viável seria que todas as nações trabalhassem de forma combinada para garantir que a população global avance junta com uma cobertura protetora. A palavra de ordem é: nenhuma nação está segura até que todas estejam seguras.

No caso, por exemplo, da Índia e do Brasil, que ainda sofrem com surtos galopantes da COVID-19 e de novas cepas mais contagiosas, hospitais e crematórios seguem sobrecarregados. Quanto mais tempo a doença persistir por falta de vacinação, mais novos surtos podem estourar.
© Foto / Marcelo Camargo/Agência BrasilVacinação contra a COVID-19 no Parque da Cidade, em Brasília.
Poderia a mentalidade de 'Guerra Fria' dos EUA em relação à China e à Rússia prolongar pandemia?  - Sputnik Brasil, 1920, 22.04.2021
Vacinação contra a COVID-19 no Parque da Cidade, em Brasília.

Sem imunização nesses países, novos surtos podem voltar a assombrar todos os lugares do planeta, incluindo aqueles países como os EUA, onde a vacinação tem sido relativamente bem-sucedida até agora. Entretanto, há inúmeras dúvidas sobre a proteção das vacinas atuais contra novas mutações e o tempo de imunização.

Além da falta de vontade política, vários outros fatores militam contra uma abordagem internacionalista para combater a pandemia. Um grande fator é uma restrição por parte do capitalismo corporativo. Os imunizantes inovados pelos EUA, incluindo os da Moderna, Pfizer/BioNTech, Novavax, são caros e inacessíveis para ampla distribuição em países pobres e também no que tange ao armazenamento e transporte considerando os requisitos das farmacêuticas para conservação desses produtos.

Outro problema são os direitos de propriedade intelectual das empresas farmacêuticas privadas. Os EUA e outros governos ocidentais se recusaram a conceder isenções para proteger os lucros de suas empresas, embora o dinheiro público tenha sido crucial para apoiar o rápido desenvolvimento de vacinas contra o coronavírus.

Há ainda a questão da falta de confiança do público na segurança de algumas vacinas com relação aos efeitos colaterais, tendo como exemplo as vacinas Oxford/AstraZeneca e Johnson & Johnson, recentemente relacionadas à coagulação do sangue.

Especialistas levantam agora a questão: por que não adotar as vacinas fabricadas pela China e pela Rússia em uma campanha coletiva global para erradicar a pandemia?

A China tem pelo menos duas vacinas disponíveis, Sinovac e Sinopharm, com várias outras também sendo testadas. A Rússia produziu a Sputnik V. As três já foram aprovadas em cerca de 70 países até agora, incluindo em alguns Estados da União Europeia. Ambos os países também forneceram suprimentos gratuitos com base em preocupações humanitárias e fizeram acordos para produção local.

© Sputnik / Tabyldy Kadyrbekov / Acessar o banco de imagensTrabalhadores transportam um carregamento da vacina russa Sputnik V, no Aeroporto Internacional de Manas, em Bishkek, Quirguistão
Poderia a mentalidade de 'Guerra Fria' dos EUA em relação à China e à Rússia prolongar pandemia?  - Sputnik Brasil, 1920, 22.04.2021
Trabalhadores transportam um carregamento da vacina russa Sputnik V, no Aeroporto Internacional de Manas, em Bishkek, Quirguistão

Espera-se que a Organização Mundial da Saúde (OMS) conceda a permissão de uso emergencial para Sinovac, Sinopharm e Sputnik V nas próximas semanas. Entretanto, Washington e seus aliados ocidentais depreciaram os esforços sino-russos como sendo uma "diplomacia da vacina", insinuando que Pequim e Moscou estão usando a pandemia para obter vantagem de poder brando e demonstrando, segundo especialistas, uma persistente mentalidade de Guerra Fria.

Enquanto China e Rússia deixam claro que estão agindo contra a pandemia com atitude de internacionalismo, solidariedade e humanitarismo. Em contraste, os EUA e seus aliados ocidentais parecem agir de acordo com seus próprios interesses estreitos, o que está prolongando a pandemia, aumentando as mortes em todo o mundo e, em última análise, derrotando-se a eles mesmos.

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