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Pesquisador: Bolsonaro busca 'benefício da dúvida', enquanto EUA querem ver Brasil baixar o tom

© AP Photo / Eraldo PeresO presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, posa com a bandeira dos Estados Unidos ao fundo durante encontro com o então conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert O'Brien, em Brasília, em 20 de outubro de 2020
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, posa com a bandeira dos Estados Unidos ao fundo durante encontro com o então conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Robert O'Brien, em Brasília, em 20 de outubro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 16.04.2021
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O presidente Jair Bolsonaro fez uma "jogada inteligente" ao enviar uma carta a Joe Biden dizendo exatamente o que seu colega americano queria ouvir, mas EUA não parecem ter clareza ainda do que fazer em relação ao Brasil, opina cientista político ouvido pela Sputnik.

Às vésperas da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, programada para os dias 22 e 23 de abril, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, enviou uma carta ao chefe de Estado norte-americano, Joe Biden, nesta semana, prometendo acabar com o desmatamento ilegal no país até 2030.

No documento, o líder brasileiro destacou que, para alcançar esse objetivo, serão necessários vultosos recursos, inclusive com apoio do governo dos Estados Unidos. 

Nesta sexta-feira (16), no entanto, senadores do Partido Democrata também se dirigiram a Biden, pedindo que o presidente americano não envie assistência financeira ao Brasil antes que sejam confirmados avanços na luta brasileira contra o desmatamento, que cresceu consideravelmente durante a administração Bolsonaro. 

​Para o cientista político Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro e professor de relações internacionais do Ibmec-Rio, a promessa feita pelo presidente brasileiro ao seu homólogo norte-americano pode ser considerada surpreendente e com uma meta muito clara e pragmática, representando uma grande mudança de discurso do atual governo do Brasil.

Em entrevista à Sputnik Brasil, ele diz acreditar que esse ajuste, além de ter uma relação direta com as atuais circunstâncias dos laços bilaterais, também reflete a recente troca ocorrida no Ministério das Relações Exteriores, onde o polêmico Ernesto Araújo foi substituído pelo embaixador Carlos Alberto França, "mais diplomático" do que o antigo chanceler.

"É muito interessante ver essa diferença de tom. E eu acho que isso pode, de uma certa maneira, marcar, em um futuro próximo, uma mudança de postura pelo menos retórica. Eu acho que essa é a grande questão", afirma.

Apesar do compromisso, o especialista manifesta ceticismo quanto à possibilidade de o governo Bolsonaro efetivamente cumprir essa promessa ambiental. Na prática, essa seria mais uma maneira de o presidente brasileiro "ganhar tempo" para se reorganizar diante das crescentes pressões exteriores que vem sofrendo.

"Biden sinaliza que pressionará, de fato, o Brasil cada vez mais", destaca.

Além do ambiente externo, Paz também vê o atual líder brasileiro muito preocupado com a situação interna, marcada pelo retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à corrida pelo Palácio do Planalto em 2022. 

"Me parece que ele está muito pressionado tanto fora quanto dentro do Brasil. Então, ele tem que tentar começar a apaziguar um pouco alguns ânimos. E essa carta é um movimento simples para ele. Quer dizer, obviamente, a base de apoio mais forte dele, enfim, não vai gostar do tom da carta, mas, certamente, vai entender que ele está fazendo isso meio que para enganar o Biden." 

​O documento, segundo o professor, não condiz com o que está acontecendo realmente no Brasil, uma vez que o governo nem está usando todo o orçamento disponível para combater de verdade o desmatamento. E isso, para ele, é mais um indicativo de que a carta em questão não passa de uma medida formal para tentar reduzir as tensões externas.

O governo Biden, por sua vez, não parece ter clareza ainda, segundo Paz, do que deverá fazer em relação ao Brasil.

"Eles estão esperando um pouco ver o Brasil abaixando o tom — como já está fazendo com essa carta — maneirando um pouco, tentar dar alguma sinalização de alguma política, uma diminuição, para que eles possam não fazer nada. O que vai ser um ganho para os Estados Unidos, porque fazer qualquer coisa vai ser uma coisa muito diferente." 

​Está em discussão no mundo, atualmente, a ideia de sanções climáticas e ambientais. Até agora, todas as sanções internacionais, de acordo com o pesquisador, acabam sendo motivadas por questões de segurança ou outras questões políticas. Mas, para ele, a possibilidade de essas novas sanções que estão sendo pensadas serem colocadas em prática justamente contra o Brasil não deve ser descartada.

"Lamentavelmente, o Brasil está se posicionando hoje para ser, talvez, o grande experimento [para] esse tipo de coisa acontecer. Vamos torcer para que não, porque a gente não sabe como isso pode prejudicar o Brasil."

Pensando também na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática de 2021, a COP26, a ser realizada em novembro, na Escócia, Leonardo Paz considera que Bolsonaro fez uma "jogada inteligente" ao dizer para Biden "exatamente o que ele queria ouvir", o que, a princípio, poderia levar a uma redução das cobranças internacionais sobre o Brasil. 

"Como a carta chega muito próxima da COP, é possível que os países ainda tentem dar algum tipo de benefício da dúvida. Agora, o quanto isso vai se sustentar no tempo é muito difícil dizer." 

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