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Interferências do governo em estatais colocam em xeque liberalismo de Paulo Guedes, diz economista

CC BY 2.0 / Palácio do Planalto / Marcos Corrêa/PR / Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (à esquerda), e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, em 26 de janeiro de 2021
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (à esquerda), e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, em 26 de janeiro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 14.04.2021
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Sob pressões do governo, o Banco do Brasil é uma das estatais que passam por um período de instabilidade devido a incertezas sobre os caminhos de sua gestão. Nesta semana, mais dois executivos do BB decidiram entregar seus cargos.

No final do mês passado, o experiente André Brandão deixou a presidência do Banco do Brasil devido a críticas do presidente da República, Jair Bolsonaro, à sua gestão. Mais especificamente, aos planos de fechamento de agências e de demissão voluntária. Junto com Brandão, dois conselheiros decidiram entregar seus cargos.

No início deste mês, Fausto de Andrade Ribeiro assumiu o comando do BB sob desconfianças de parte do corpo funcional e também do mercado. Menos de duas semanas depois, o banco comunica a renúncia de mais dois alto executivos: Carlos José da Costa André, vice-presidente financeiro e de relações com investidores, e Mauro Ribeiro Neto, vice-presidente corporativo. 

© Marcelo Camargo/Agência BrasilBanco do Brasil
Interferências do governo em estatais colocam em xeque liberalismo de Paulo Guedes, diz economista - Sputnik Brasil, 1920, 14.04.2021
Banco do Brasil

Embora a instituição afirme que as duas novas baixas tenham sido motivadas por questões pessoais, a economista Maria Beatriz de Albuquerque David, professora da Faculdade de Economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), vê uma ligação forte entre essas saídas e as críticas enfrentadas pelo novo presidente do Banco do Brasil. 

"O primeiro [Carlos José da Costa André] é de relações financeiras e com investidores. Está claro que os investidores não ficaram satisfeitos com essa mudança. Porque tem uma questão de rentabilidade e os acionistas também pensam muito na sua rentabilidade. E o segundo é o vice-presidente corporativo. Internamente, no banco, se considera que o presidente nomeado não tinha percorrido todos os estágios da carreira funcional dentro do banco. Então, era melhor até que tivesse sido uma pessoa de fora do que uma pessoa de dentro que não inspira confiança", argumenta a especialista em entrevista à Sputnik Brasil. 

​Considerando a visão corporativa do BB, segundo Albuquerque, a indicação de Fausto Ribeiro para chefiar a empresa pode ser comparada a colocar no comando do Exército Brasileiro um general "que não tivesse atingido todo o pico da carreira" (um general de brigada por exemplo). E a própria trajetória de Ribeiro, segundo ela, não seria uma trajetória muito brilhante. Mas já era de se esperar, ela pontua, que haveria ajustes.

"O grande desafio é se ele vai dar uma dinâmica boa ao banco e aumentar a rentabilidade e eficiência do banco. Porque não basta, em uma era digital, você ter um banco que não se adéque às novas condições e que mantenha serviços caros e baixa rentabilidade."

Para a professora, em um primeiro momento, o BB deve passar, necessariamente, por uma fase de ajustes. 

"E o banco pode perder bastante nesse período de ajustes. Até provar que está no caminho certo. Se provar." 

Intervenção gera desconfiança sobre gestão

Para a economista Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de graduação em economia do Insper,​ as recentes baixas verificadas no BB dão sinais de instabilidade que levam a um aumento da incerteza no mercado.

"Fica nítida uma tentativa por parte do governo, que é acionista majoritário do banco, de intervir na gestão da instituição, o que confere desconfiança sobre a condução e boa gestão da mesma, e coloca em xeque a ideia de liberalismo econômico, tão defendida pelo governo e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes", diz Inhasz à Sputnik Brasil. 

A analista acredita que, "dificilmente, teremos mudanças muito abruptas em juros de curto e longo prazo", uma vez que esses sinais de mudanças no BB já estavam acontecendo desde o início do ano e que pressões já eram observadas desde 2020, de maneira que "o mercado já internalizou que as mudanças estruturais (e o BB poderia se enquadrar em parte delas) estão muito difíceis de sair do papel, e, por isso, os planos do governo não sofrem tantas alterações".

"Porém, as mudanças, iniciando pela mudança na presidência, podem indicar, sim, uma interferência externa na gestão, o que compromete a credibilidade da instituição frente a investidores e credores. Além disso, as saídas voluntárias de tantos diretores e conselheiros também podem sinalizar que se espera uma gestão pouco eficiente, cheia de intercorrências e ações que podem ir contra o que se espera de uma instituição bem gerenciada. E esses diretores não pretendem ter seus nomes envolvidos nisso." 

​Ainda de acordo com Inhasz, também é evidente que parece haver uma grande insatisfação com a presidência de Fausto de Andrade Ribeiro, por conta da sua falta de preparo para exercer o cargo no qual foi colocado. E isso, segundo ela, "pode torná-lo mais suscetível a pressões, e desvirtuar os objetivos do banco, relacionados à eficiência e alinhados ao atual momento da economia".

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