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Biden pode sinalizar 'novos tempos' nas relações comerciais entre Brasil e EUA, diz especialista

© Folhapress / Antônio GaudérioAciaria da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), onde é feita a transformação de ferro líquido em aço líquido, em Volta Redonda (RJ); a empresa tem projeto de novas usinas de placa voltadas para o mercado externo
Aciaria da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), onde é feita a transformação de ferro líquido em aço líquido, em Volta Redonda (RJ); a empresa tem projeto de novas usinas de placa voltadas para o mercado externo - Sputnik Brasil, 1920, 06.04.2021
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O anúncio do pacote de investimentos do presidente dos EUA, Joe Biden, gerou a expectativa na indústria siderúrgica brasileira de que as cotas que limitam a entrada do aço nacional, impostas por Donald Trump, poderiam ser revistas.

O presidente dos EUA, Joe Biden, informou na semana passada que pretende investir US$ 2,3 trilhões (R$ 12,89 trilhões) na infraestrutura do país. O pacote tem como objetivo ajudar os EUA a enfrentar os impactos econômicos causados pela pandemia da COVID-19. 

O professor de Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Arnaldo Francisco Cardoso, disse à Sputnik Brasil que a expectativa dos empresários brasileiros em relação a uma retomada das relações comerciais com os EUA é justificável, considerando uma "racionalidade econômica" que deve ser adotada pela nova administração norte-americana.

"Os fluxos comerciais entre Brasil e EUA nas duas últimas décadas evoluíram para atender interesses recíprocos e muitos pontos que dependem de negociações para maior evolução. Para isso, é fundamental o atendimento de interesses mútuos e o respeito ao princípio da reciprocidade. Com Biden no governo, espera-se a retomada dessa orientação", afirmou.

Ao comentar as perspectivas para as exportações de aço do Brasil para os EUA, o especialista lembrou que, com a imposição de barreiras à entrada de aço estrangeiro pelo ex-presidente Donald Trump, as importações dos EUA caíram para dois terços do volume médio importado, chegando a uma queda de 36% em 2018.

"O aço brasileiro sofreu a imposição de cota de até 3,5 milhões de toneladas por ano para o produto semiacabado, muito aquém da nossa capacidade exportadora, o que impôs ao aço acabado a restrição de 30% em relação à média de exportações do período 2015-2017. Restrições semelhantes também foram impostas ao alumínio brasileiro", destacou o pesquisador.

De acordo com Arnaldo Francisco Cardoso, existem motivos para acreditar que, com o democrata Joe Biden à frente do governo dos EUA, as restrições ao aço brasileiro impostas por Trump possam cair ou ser revisadas.

"A tendência é que o governo Biden seja mais pragmático na economia, visando os melhores resultados já para o curto e médio prazo. O pós-pandemia exigirá ações inteligentes para reativar a recuperação da economia e, sabidamente, o setor de construção civil e infraestrutura tem impactos em uma extensa cadeia produtiva, podendo ativar investimentos e gerar empregos", argumentou.

O professor de Relações Internacionais observou que o presidente Joe Biden "sabe que os EUA não são autossuficientes na produção de aço e que a importação pode ser mais eficiente e barata, especialmente importando produtos semiacabados que serão finalizados em processos industriais nos EUA". "O Brasil é competitivo nesse setor. Temos capacidade tecnológica para atender essas demandas, e isso também nos interessa muito", acrescentou.

Segundo o especialista, existem siderúrgicas brasileiras instaladas nos EUA que têm vantagem na competição com os seus concorrentes.

"Entre nossos principais competidores para a exportação de aço para os EUA, estão a Coreia do Sul, Vietnã, Taiwan, entre outros. Se o Brasil resgatar sua tradição de negociador, orientar-se pelo princípio do 'ganha-ganha', poderá ter no setor do aço um sinalizador dos novos tempos, e assim iniciar uma correção dos estragos causados nos últimos anos nas relações entre Brasil e EUA", completou.

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