Em sua coluna mais recente no jornal The Washington Post, publicada na quinta-feira (18), o especialista em política externa Farred Zakaria questiona os altos gastos do governo norte-americano com o Pentágono.
Zakaria começa o artigo por recordar que na véspera de sua visita esta semana à Ásia, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin reafirmou que a atenção da administração do democrata Joe Biden está na China: "Nossa ameaça progressiva". O secretário destacou que, nos últimos 20 anos, os EUA se concentraram no Oriente Médio, enquanto a China vinha modernizando suas Forças Armadas. "Ainda mantemos a vantagem e vamos aumentá-la daqui para frente", concluiu Austin.
"Bem-vindo à nova era de orçamentos inchados do Pentágono, tudo justificado pela grande ameaça chinesa", afirma Zakaria.
Vantagem norte-americana
O que o secretário de Defesa chama de "vantagem" sobre a China seria mais como um abismo, defende o especialista. Os EUA têm cerca de 20 vezes o número de ogivas nucleares que a China. Tem o dobro da tonelagem de navios de guerra no mar, incluindo 11 porta-aviões nucleares em comparação com os dois porta-aviões da China, que são muito menos avançados.
Além disso, Washington tem mais de dois mil caças modernos em comparação com os cerca de 600 de Pequim e os EUA possuem uma vasta rede de cerca de 800 bases no exterior, quanto a China tem três.
"Os gastos militares dos EUA continuam maiores que os orçamentos de defesa dos próximos dez países juntos, a maioria dos quais são aliados próximos de Washington. Apenas o orçamento de inteligência dos EUA, cerca de US$ 85 bilhões (aproximadamente R$ 444 bilhões), é maior do que o gasto total da Rússia com defesa", escreve Zakaria.
Estratégias fracassadas
Ainda assim, o especialista afirma que o tamanho dos gastos militares pode ser um indicador enganoso de força, uma vez que muito mais importante são os objetivos buscados e a estratégia político-militar utilizada para alcançá-los.
Sob esse prisma, os EUA provavelmente gastaram mais do que o Talibã (grupo terrorista proibido na Rússia e em diversos países) em uma proporção de dez mil para um no Afeganistão. E, no entanto, Washington não conseguiu atingir seu objetivo: garantir que o governo de Cabul governe o país sem contestação.
"Se os EUA definirem seus objetivos com cuidado e montarem uma estratégia política e militar inteligente e consistente para alcançá-los, eles poderão ter sucesso. Sem isso, milhões de soldados e trilhões de dólares não garantirão a vitória. Tamanho não é um substituto para o cérebro", explica Zakaria.
O especialista cita outro exemplo em que a estratégia norte-americana falhou: o programa do caça F-35, que vai custar cerca de US$ 1,7 trilhão (R$ 9,4 trilhões) aos contribuintes dos EUA e está sofrendo com uma série de problemas técnicos.
"A China gastará uma quantia comparável de dinheiro em sua Nova Rota da Seda, um ambicioso conjunto de empréstimos, ajuda e financiamento para infraestrutura em todo o mundo, com o objetivo de criar maior interdependência com dezenas de países que são importantes para Pequim. Qual é o dinheiro mais bem gasto?", pergunta o articulista.
Zakaria afirma que, após duas décadas lutando em guerras no Oriente Médio sem muito sucesso, o Pentágono "agora voltará ao seu tipo favorito de conflito, uma Guerra Fria com energia nuclear". Dessa forma, argumenta o especialista, o Departamento de Defesa dos EUA pode arrecadar quantias infinitas de dinheiro para "ultrapassar" a China, mesmo que a dissuasão nuclear torne improvável que haja uma guerra real na Ásia.
"Claro, pode haver guerras de orçamento em Washington, mas essas são as batalhas que o Pentágono sabe como vencer!", conclui o especialista.