Fungo hospitalar que eleva risco de morte em pacientes graves é detectado na natureza pela 1ª vez

CC BY 2.0 / Oak Ridge National Laboratory / Bactéria
Bactéria - Sputnik Brasil, 1920, 17.03.2021
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O fungo Candida auris encontrado normalmente em hospitais foi identificado de maneira inédita em praia de ilhas remotas. Aquecimento global pode explicar a super-resistência fatal do micro-organismo e preocupa cientistas.

Um superfungo mortal hospitalar encontrado em águas coletadas de oito locais ao redor das ilhas Andaman, um arquipélago tropical remoto entre a Índia e Mianmar, marca a primeira vez que os pesquisadores encontram este organismo multirresistente na natureza. Os resultados, publicados terça-feira (16) na revista mBio, podem fornecer pistas sobre as origens deste superfungo, Candida auris, que misteriosamente apareceu em hospitais de todo o mundo há cerca de uma década.

"É um mistério da medicina, de onde ele veio", disse ao Live Science, o dr. Arturo Casadevall, presidente do Departamento de Microbiologia e Imunologia Molecular da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg em Baltimore, nos EUA, que escreveu um editorial que acompanha o estudo.

Candida auris é um fungo descoberto pela primeira vez em 2009 e espalhou-se rapidamente pelo mundo, surgindo em três continentes diferentes ao mesmo tempo. O micróbio pode causar infecções graves na corrente sanguínea, especialmente em pacientes que precisam de cateteres, tubos de alimentação ou tubos de respiração, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês). Em 2019, os CDC declararam que o fungo era uma "ameaça urgente" à saúde pública.

As infecções podem ser difíceis de tratar porque o micróbio costuma ser resistente a medicamentos antifúngicos e também pode sobreviver em superfícies. Casadevall e colegas levantaram a hipótese de que o aumento das temperaturas devido à mudança climática pode ter feito o Candida auris se adaptar a temperaturas mais altas na natureza e, assim, permitindo que o fungo saltasse para os humanos, cuja temperatura corporal normal é geralmente muito alta para fungos sobreviverem.

Inspirada por essa hipótese, a autora principal do estudo, dra. Anuradha Chowdhary, micologista médica da Universidade de Deli, na Índia, e colegas isolaram as amostras coletadas do superfungo de dois locais das ilhas Andaman: um pântano salgado de rara circulação de pessoas e uma praia com mais atividade humana.

© AP Photo / Sakchai LalitPraia remota localizada no mar de Andaman
Fungo hospitalar que eleva risco de morte em pacientes graves é detectado na natureza pela 1ª vez - Sputnik Brasil, 1920, 17.03.2021
Praia remota localizada no mar de Andaman

As amostras encontradas na praia eram todas multirresistentes e estavam mais relacionadas a cepas vistas em hospitais em comparação com os isolados encontrados no pântano, conta Chowdhary. O tipo encontrado no pântano não era resistente aos medicamentos e cresceu mais lentamente em altas temperaturas em comparação aos outros.

O estudo fornece algum suporte para a hipótese do aquecimento global porque, antes de mais nada, encontrou o Candida auris em um ambiente natural, o que é um requisito para a hipótese, e identificou que o tipo "mais selvagem" pode ser uma espécie de elo perdido entre o fungo selvagem e aqueles que causam infecções em hospitais.

As novas descobertas provavelmente estimularão mais pesquisadores a procurar o Candida auris em ambientes naturais e a comparar cepas selvagens com as de hospitais, disse Casadevall. E, se comprovada, a tese de o aquecimento global ter sido um fator em seu salto para os humanos gera a preocupação de que mais patógenos possam evoluir da mesma maneira.

"Se essa ideia for validada, será preciso começar a mapear mais esses patógenos que estão por aí para não ficarmos surpresos", como nos surpreendemos com o novo coronavírus, alertou Casadevall.
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