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Mais centrão e menos ideologia ajudaram a acalmar relação do Brasil com China, diz especialista

© AP Photo / Eraldo PeresPresidente chinês, Xi Jinping, observa os chanceleres Ernesto Araújo e Wang Yi durante cúpula do BRICS, no Itamaraty, em Brasília
Presidente chinês, Xi Jinping, observa os chanceleres Ernesto Araújo e Wang Yi durante cúpula do BRICS, no Itamaraty, em Brasília - Sputnik Brasil, 1920, 03.03.2021
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A aproximação com o centrão diminuiu as vozes mais "estridentes" do bolsonarismo, possibilitando um apaziguamento das relações do governo brasileiro com a China, disse especialista à Sputnik Brasil

Em entrevista coletiva realizada na terça-feira (2), o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que "não há absolutamente nenhum problema com a China" e, quanto aos Estados Unidos, a relação vai "extremamente bem". 

Para Williams Gonçalves, professor de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), há uma dose de verdade na declaração do chanceler, principalmente em relação à China. 

"De fato, é verdade. Já faz algum tempo que não temos nenhum solavanco, que não temos nenhuma polêmica envolvendo o Brasil com esses dois países", disse o especialista. 

Calar Bolsonarismo 'estridente'

Segundo Gonçalves, a resposta para isso é interna e externa. No plano interno, ele diz que a aproximação do governo Bolsonaro com o centrão ajudou a calar setores "mais ideológicos", "contundentes" e "estridentes" do bolsonarismo. Para o professor, a tendência "explica um comportamento mais comedido de Ernesto Araújo e daqueles que o cercam", assim como do deputado federal Eduardo Bolsonaro. 

"O governo sofreu um deslocamento. A base do governo já não é mais a mesma do início. E a responsabilidade por essa mudança foi a aproximação do Bolsonaro a um grande grupo de deputados e parlamentares, que fazem parte do chamado centrão", afirmou o professor. 

De acordo com o especialista, esse grupo "tem como principal característica a preocupação com a estabilidade política" e "preencher cargos", o que envolve a "sobrevivência política" desses parlamentares. 

"E para eles essa estabilidade é muito importante para isso", salientou Gonçalves.  

Não interessa 'solavanco' com Brasil

Durante a campanha presidencial de 2018, Bolsonaro fez muitas críticas à China. No Planalto, ele moderou um pouco o tom. Porém, tornou-se um crítico da CoronaVac, vacina chinesa desenvolvida pelo laboratório Sinovac. 

Seu filho Eduardo Bolsonaro também já fez duros ataques ao país asiático, o que levou o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, a responder às provocações. Araújo também já criticou a China e se referiu ao coronavírus como "comunavírus". 

No plano externo, Gonçalves diz que, devido às trocas comerciais do país asiático com seu parceiro, "aos chineses não interessa qualquer tipo de solavanco, qualquer tipo de polêmica com o Brasil".

"Os chineses são grandes compradores de commodities agrícolas, que para a China são muito importantes. O Brasil funciona como uma fronteira agrícola da China", disse o professor. 

Para o especialista, a relação mais tranquila "também satisfaz setores econômicos brasileiros vinculados a esse comércio".

Brasil e EUA

Sobre os Estados Unidos, Gonçalves afirma que a questão é um pouco mais delicada, devido ao "compromisso" do governo Joe Biden com "determinados temas, como meio ambiente e direitos humanos".

Ele diz ainda que o "governo brasileiro foi mais longe do que qualquer um poderia imaginar, não só apoiando [Donald] Trump, mas apoiando todas as loucuras praticadas" pelo ex-presidente estadunidense. Para o professor, Ernesto Araújo fez "aposta elevadíssima e solitária na reeleição" de Trump, mas "perdeu essa aposta".

"Naturalmente que isso só poderia resultar em dificuldades", afirmou o especialista. 

'Brasil não tem política externa'

Apesar de ver um momento mais calmo nas relações do Brasil com os parceiros, Gonçalves diz que o Brasil não tem política externa definida e é muito passivo no cenário internacional. 

"Estamos praticando o mínimo. O Brasil não tem uma política externa rigorosamente falando. Não temos objetivos nacionais definidos. A nossa relação é puramente passiva. Estabilizamos a relação com a China porque vendemos para a China. Estamos estabilizando as relações com os Estados Unidos porque nossas elites acham que é muito importante ter boas relações com os Estados Unidos", disse Williams Gonçalves.
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