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'Jogada de marketing', diz especialista sobre novo programa ambiental do governo brasileiro

© Folhapress / Alberto César AraújoVista do Parque Nacional do Jaú durante sobrevoo, em Barcelos, no estado do Amazonas (arquivo)
Vista do Parque Nacional do Jaú durante sobrevoo, em Barcelos, no estado do Amazonas (arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 11.02.2021
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Ambientalistas estão acusando o governo brasileiro de criar uma jogada de marketing para tentar camuflar uma política antiambiental que vem levando a cabo no país desde 2019, como explica em entrevista à Sputnik o secretário-executivo do Observatório do Clima.

Nesta semana, o governo do presidente Jair Bolsonaro anunciou o programa Adote um Parque, que prevê que empresas privadas ou indivíduos deem dinheiro ao Ministério do Meio Ambiente para conservar áreas protegidas. No entanto, de acordo com ambientalistas, o projeto seria uma tentativa do Planalto de criar uma "cortina de fumaça" em torno de práticas de destruição ambiental que seguem em curso no país sob a responsabilidade do governo.

De acordo com o Executivo federal, o Adote um Parque tem o potencial de canalizar R$ 3,2 bilhões ao ano, através do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), para custear a conservação de 132 parques nacionais. Os recursos deverão ser investidos em serviços como monitoramento, proteção, prevenção e combate a incêndios florestais, prevenção e combate ao desmatamento ilegal e recuperação de áreas degradadas. Mas especialistas da área desconfiam da área desconfiam das intenções do governo. Por quê? 

​"Eu tenho certeza de que a intenção do governo é de desmontar os mecanismos de proteção às florestas, de enfraquecer os órgãos de fiscalização e de facilitar o crime ambiental e o desmatamento no país. Não tenho nenhuma dúvida sobre isso", declara, em entrevista à Sputnik Brasil, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini. 

O ambientalista cita uma série de ações tomadas pelo presidente Bolsonaro e o ministro Ricardo Salles que configuram uma política claramente antiambiental, motivo que o faz acreditar que essa novidade apresentada pelo governo não passa de uma estratégia de marketing pouco convincente. Entre essas ações, ele aponta a decisão de reduzir a necessidade de comprovação da legalidade de madeiras extraídas da Amazônia, a redução das operações de fiscalização de campo, a paralisação das cobranças de multas ambientais, a tentativa de permitir a mineração dentro de terras indígenas, o fim das políticas climáticas, o favorecimento da grilagem, a intenção de extinguir o ICMBio e de rever todas as unidades de conservação federais. 

"Este governo fez apenas uma jogada de marketing. Enquanto ali, diante dos holofotes e dos microfones, eles criaram o nome de algo, de algum programa, e fizeram uma cena pública, no dia a dia, por trás daqueles microfones, longe daqueles palcos, a realidade é essa outra, a realidade é de uma operação de guerra contra o meio ambiente no Brasil."

​O Carrefour, que esteve envolvido em algumas polêmicas ao longo dos últimos anos, foi a primeira empresa a anunciar participação no novo programa do Ministério do Meio Ambiente, com um investimento de R$ 4 milhões. Na opinião de Astrini, se o governo resolveu apostar no Adote um Parque como uma grande jogada de marketing, o mesmo pode ser dito sobre a rede de supermercados francesa. 

"A jogada que aconteceu com o Carrefour foi de marketing, que serviu tanto para o governo, que acabou fazendo ali um ato público para dizer que cuida do meio ambiente — um ato mentiroso —, e para o Carrefour, que nem esperou o ato terminar e, no dia seguinte, já estava colocando em jornais que protege a Amazônia e o meio ambiente no Brasil etc. Não vai passar disso, de um ato de marketing", argumenta. "O Carrefour, inclusive, poderia fazer a sua lição de casa, ao invés de só subir no palco junto com o governo. O Carrefour poderia criar um sistema rígido para evitar que carne proveniente de desmatamento da Amazônia frequentasse as gôndolas do supermercado do Carrefour." 

Para o ambientalista, mentiras, teorias de conspiração e fuga da realidade são características marcantes do atual governo brasileiro. Umas das evidências disso na área ambiental, segundo ele, diz respeito à questão orçamentária. Isso porque, ao mesmo tempo em que cria uma nova fonte de financiamento para supostas ações de preservação, reduz o orçamento do Meio Ambiente, tem quase R$ 3 bilhões parados no Fundo Amazônia e já admitiu, em resposta a uma proposta da Alemanha, que não precisava de mais dinheiro para esse fim. 

"Então, não é falta de dinheiro, é falta de governo, é falta de vergonha na cara desse governo que está aí." 
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