Sistema bipartidário dos EUA não é eficiente e gera 'barreira esmagadora', afirma acadêmico

© REUTERS / Brian SnyderEvento político na noite da eleição para o Senado da Geórgia, em Atlanta, Geórgia, EUA, 5 de janeiro de 2021
Evento político na noite da eleição para o Senado da Geórgia, em Atlanta, Geórgia, EUA, 5 de janeiro de 2021 - Sputnik Brasil
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O sistema representativo estadual no país norte-americano veda na prática o acesso ao poder por parte de partidos independentes, disse Charles Anthony Smith, professor de Ciência Política e Direito.

A criação do Partido Patriota por Donald Trump, ex-presidente dos EUA, está repleta de inúmeros riscos e tem pouca probabilidade de ter sucesso devido à natureza rígida do sistema bipartidário norte-americano, afirma Charles Anthony Smith, professor de Ciência Política e Direito da Universidade da Califórnia em Irvine, em entrevista à Sputnik.

Se Trump criar um novo partido, "ele vai dividir o Partido Republicano, e eles terão muita dificuldade em ganhar eleições até que seu novo partido desapareça ou o antigo partido deles desapareça", acredita.

Outro problema, aponta, é que Trump "não tem uma lista de posições políticas" e o Partido Republicano segue meramente o que Trump diz.

"É muito difícil construir um partido apenas com base em uma pessoa. Você não pode realmente construir um partido se [...] a pessoa que lidera o partido for embora".

Smith acredita que devido ao sucesso do centrismo de Joe Biden, o Partido Republicano vai, mais cedo ou mais tarde, afastar os apoiadores de Trump, se não quiser se tornar "um partido minoritário permanente."

O acadêmico prevê que o ex-presidente dos EUA poderá de novo concorrer às eleições em 2024 com um novo partido devido ao seu sucesso como político "enquanto ele puder continuar a gerar essa receita", apesar de não ter "reformado nada", devido à suas múltiplas falhas no mundo dos negócios.

Donald Trump ainda não falou sobre seus planos futuros. Na sexta-feira (22), em seus primeiros comentários à mídia como ex-presidente, ele disse "vamos fazer alguma coisa, mas ainda não agora", sem elaborar.

'Vencedor leva tudo'

Smith refere que o sistema de "o vencedor leva tudo" dos EUA, estabelecido na Constituição, requer uma maioria de votos para que um distrito estadual ganhe um assento na Câmara dos Representantes, algo que comenta ser "uma barreira institucional esmagadora para ser ultrapassada".

"Enquanto tivermos os distritos da Câmara [com base no princípio de] 'o vencedor leva tudo', o sistema bipartidário não vai a lugar algum. Porque há algo chamado Lei Duverger, [em] que o número de partidos viáveis é N+1, onde N é o número de assentos disponíveis no distrito. Se você tem um assento no distrito, o único número viável de partidos é 2 (N+1): um mais um".

"Se o distrito tiver dois ou três assentos, você verá três ou quatro partidos como viáveis, e é porque se dois partidos estiverem competindo em um lado do espectro e um partido estiver competindo no outro, um partido conquistará o meio e ganhará o assento sempre. Teríamos que mudar a estrutura constitucional fundamental para podermos nos afastar de um sistema bipartidário", explica Smith.

O acadêmico mencionou também o fato de os projetos de lei de gastos serem de iniciativa da Câmara dos Representantes, o que "realmente dita como a política acontece", mas também significa que o acesso por parte de partidos terceiros está efetivamente vedado devido a eles não conseguirem obter maioria em distritos de um único membro.

"Se você não pode fazer isso lá, você é simplesmente irrelevante", sublinha Charles Anthony Smith.

Defeitos de outros sistemas

Apesar de afirmar que o sistema norte-americano "não é eficiente", o professor reconhece que "as grandes questões são resolvidas relativamente rápido em um sistema bipartidário".

Além disso, uma alternativa multipartidária pode não ser tão perfeita assim, indica, mencionando o drama em Israel, que terá uma quarta eleição em dois anos, bem como a Itália e o Reino Unido, no qual a multiplicidade de partidos impede uma frente forte para quem se opõe ao Brexit, apoiado pelo primeiro-ministro Boris Johnson.

Segundo Smith, "todo sistema pode funcionar e todo sistema pode falhar. Muito disso tem a ver com as escolhas que as elites fazem sobre se querem avançar ou se querem apenas tentar manter o poder sem progresso e sem resultados benéficos para seu país".

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