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Atraso nas vacinas: 'Brasil paga preço por escolhas diplomáticas', diz especialista no BRICS

© Sputnik / Aleksei Nikolsky / Acessar o banco de imagensPresidente Jair Bolsonaro durante a 12ª Cúpula do BRICS
Presidente Jair Bolsonaro durante a 12ª Cúpula do BRICS - Sputnik Brasil
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O atraso nas entregas de insumos para produção de vacinas e de doses prontas é, em parte, "preço" que país paga por suas "escolhas diplomáticas", disse especialista à Sputnik Brasil. 

Após a aprovação de uso emergencial das vacinas CoronaVac e de Oxford/AstraZeneca, no dia 17 de janeiro, a imunização começou no Brasil. No entanto, o governo conta, até o momento, com apenas seis milhões de doses da vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac. Para que o processo continue pelos próximos meses, é preciso de mais. 

O grande problema é que, para possibilitar a produção dos imunizantes no Brasil, no Instituto Butantan e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), é necessário importar da China um composto conhecido como IFA (ingrediente farmacêutico ativo). Além disso, para a fabricação em larga escala no Brasil ainda falta registro definitivo da Anvisa. 

Para Diego Pautasso, professor do Colégio Militar de Porto Alegre, devido à pandemia da COVID-19 há uma "corrida global por esses insumos e são poucos os centros de produção". Para ele, "é difícil precisar" exatamente quais são os fatores que impedem a liberação dos compostos, mas, com certeza, a postura diplomática do governo brasileiro não ajuda. 

"É evidente que o Brasil paga um preço por suas escolhas diplomáticas. Não apenas em se afastar do BRICS do ponto de vista do agrupamento geopolítico, mas também por ter posições hostis, sobretudo aos dois principais polos produtores de IFAs, a Índia e a China", afirmou. 

Índia libera exportação

Segundo acordo com a Fiocruz, os insumos deveriam ter chegado em dezembro, mas, até agora, não houve liberação por parte do governo chinês. O Instituto Butantan também cobrou do presidente Jair Bolsonaro maior compromisso para trazer o composto. O instituto tem 4,6 milhões de vacinas prontas que aguardam nova aprovação para uso emergencial da vacina. Para fabricar mais, os IFAs são essenciais. 

Além disso, o Brasil espera o envio de dois milhões de doses prontas da vacina de Oxford fabricadas no Instituto Serum, na Índia. Um avião sairia de Viracopos, em Campinas, com destino a Mumbai, no dia 14 de janeiro para buscar a carga, mas as autoridades indianas não deram autorização para a saída do lote. 

Nesta quinta-feira (21), uma semana depois, a Índia finalmente permitiu a exportação das doses para o Brasil. A previsão é de que a primeira remessa seja enviada nesta sexta-feira (22).

'Rusgas diplomáticas'

Pautasso explica as possíveis razões para a má vontade das autoridades estrangeiras em liberar os produtos. Segundo o especialista, no caso da Índia, o governo brasileiro trabalhou em organismos internacionais "contra a posição de tornar" os IFAs e as vacinas contra a COVID-19 medicamentos genéricos. 

"Com relação à China, a quantidade de rusgas diplomáticas desde o início da posse do governo Bolsonaro são inúmeras. E isso obviamente se reflete sobre a priorização do suprimento dos insumos por parte desses dois países", disse o professor. 

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o presidente Jair Bolsonaro pretende conversar com o chefe de Estado chinês, Xi Jinping, para resolver o impasse da liberação dos insumos. O governante brasileiro teria orientado o Itamaraty a entrar em contato com autoridades de Pequim. 

Poder chinês

"Não creio que o governo chinês vai retardar de maneira deliberada, com vistas a comprometer a saúde pública e o programa de imunização de um país inteiro, por conta das relações desastradas do governo brasileiro com o chinês. Contudo, creio que pode haver, através de gestos como a prioridade a outros países, a sinalização de que as relações de governo a governo têm que ser mantidas no mais alto nível, porque existe o princípio crucial da reciprocidade diplomática", opinou Pautasso. 

"Em algum momento a China usaria sua capacidade para exigir do Brasil o respeito compatível com o nível de amizade que existe nas relações bilaterais", acrescentou o especialista. 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a se reunir com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, para tratar da questão. O governo federal, no entanto, disse que somente o corpo ministerial da gestão Bolsonaro está autorizado a conversar oficialmente com autoridades chinesas. 

Na quarta-feira (20), seis partidos de oposição (PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB e Rede) enviaram carta ao embaixador para agradecer os esforços e o apoio do governo chinês no combate à pandemia no Brasil. 

"Lideranças de outras instituições e de outros poderes estão fazendo a gestão para acelerar o acesso a esses insumos, tendo em vista as insuficiências do Ministério da Saúde em prover os mecanismos logísticos e todo o planejamento necessário para a aquisição, transporte e produção dessas vacinas", afirmou Pautasso. 

'O Brasil se isolou'

O professor do Colégio Militar lamenta a falta de uma "maior concertação diplomática com os demais países do BRICS", grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul. Segundo o especialista, o governo brasileiro adota uma postura isolacionista, o que pode trazer problemas no combate à pandemia e em organismos internacionais. 

"O Brasil não está isolado do grupo BRICS, o Brasil se isolou. Não é uma posição deliberada do agrupamento, é uma escolha diplomática de um alinhamento unilateral com os Estados Unidos, que se torna ainda mais problemática agora com a mudança de governo na Casa Branca", disse Diego Pautasso.
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