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Bolsonaro 'não se converteu ainda ao liberalismo, ele é um estatista', avalia especialista

© AP Photo / Eraldo PeresPresidente do Brasil, Jair Bolsonaro após a cerimônia de posse do novo ministro do STF, Kássio Marques, Brasília, 5 de novembro de 2020
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro após a cerimônia de posse do novo ministro do STF, Kássio Marques, Brasília, 5 de novembro de 2020  - Sputnik Brasil
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O pedido feito pelo presidente Jair Bolsonaro ao ministro da Economia, Paulo Guedes, de demitir o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, deixa claro que Bolsonaro não é neoliberal, como ele deixou transparecer em sua campanha eleitoral – na verdade, o presidente é um estatista.

A análise é feita pelo professor da Faculdade de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Josilmar Cordenonssi, em entrevista à Sputnik Brasil nesta sexta-feira (15). Para endossar seu argumento, o especialista lembra ainda a desistência de Bolsonaro de privatizar a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), há um mês, conforme publicado pela Agência Brasil.

"É uma certa decepção para aqueles que acreditavam que o presidente Jair Bolsonaro era um liberal recém-convertido. Ficou claro que ele não se converteu ainda ao liberalismo, ele é um estatista. […] Toda a carta branca que ele tinha dado ao Guedes e também ao Moro na época da posse ele retirou. E está mostrando os limites que a equipe econômica pode trilhar. Ou seja: a privatização vai ser muito, muito limitada, se é que pode existir", avalia Cordenonssi.

Segundo uma matéria do UOL, o pedido de demissão feito por Bolsonaro foi motivado pelo anúncio do plano de reestruturação do Banco do Brasil, que prevê o fechamento de cerca de 200 agências no país e um programa de demissão voluntária com o objetivo cortar cinco mil vagas. 

Cordenonssi não acredita, no entanto, em algum tipo de erro de condução da reestruturação do banco por parte de Brandão. Pelo contrário: o professor acredita que o plano faz parte de uma tentativa de modernizar o Banco do Brasil e adequá-lo aos novos tempos, em que boa parte das transações bancárias são feitas via Internet – vide o sucesso do recém-criado PIX.

"O setor bancário no Brasil é muito inflado dado ao nosso passado, de inflação elevada. São muitas agências espalhadas pelo Brasil todo, agências grandes, que ocupam pontos caros na maioria das cidades brasileiras. Hoje em dia, [..] os clientes estão precisando no máximo de um caixa eletrônico. Os bancos têm que se adequar a essa nova realidade, e é isso o que o Banco do Brasil está tentando fazer para se manter relevante no mercado financeiro", diz Cordenonssi.
© AP Photo / Eraldo PeresPresidente do Brasil, Jair Bolsonaro aperta a mão do ministro da Economia, Paulo Guedes, durante cerimônia de posse ministerial
Bolsonaro 'não se converteu ainda ao liberalismo, ele é um estatista', avalia especialista - Sputnik Brasil
Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro aperta a mão do ministro da Economia, Paulo Guedes, durante cerimônia de posse ministerial

Por isso, Cordenonssi avalia que o pedido de demissão feito por Bolsonaro está fundamentado em duas razões. A primeira é que esta seria mais uma reação "imprevisível e intempestiva" do presidente, que desistiu de seguir o plano rumo à privatização do Banco do Brasil.

A segunda razão, de acordo com o especialista, é perder "poder de barganha" para negociar com deputados e senadores votos a favor de seus candidatos nas eleições dos novos presidentes da Câmara e do Senado — Bolsonaro apoia Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado.

Cordenonssi não acredita, no entanto, que a perda do poder de negociação do presidente será grande caso o fechamento de agências do Banco do Brasil se concretize.

"Infelizmente, a quantidade de cargos à disposição do presidente ainda é muito grande, ele tem muito poder de barganha para conquistar votos para os seus candidatos, pelo menos para aqueles deputados e senadores que se disponham a isso. A reestruturação do banco não o atrapalhará nesse intento", diz o professor de economia.

No dia 6 de dezembro, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) barrou as reeleições de Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, respectivamente, abrindo caminho para uma disputa pela sucessão do comando das Casas.

As eleições para os novos presidentes da Câmara e do Senado acontecem no dia 1º de fevereiro.

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