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WWF: é preciso frear desmatamento para reduzir surgimento de doenças como a COVID-19

© Folhapress / Janduari SimõesVista aérea da Floresta Amazônica, na região da rodovia Santarém-Cuiabá, a BR-163, no Pará
Vista aérea da Floresta Amazônica, na região da rodovia Santarém-Cuiabá, a BR-163, no Pará - Sputnik Brasil
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Além das mudanças climáticas e da redução da biodiversidade, o desmatamento tem como consequência para a humanidade o surgimento de novas zoonoses. A reconstrução pós-COVID-19 e o medo de outra pandemia podem inspirar um novo paradigma ambiental, segundo defendem cientistas.

O WWF-Internacional divulgou um relatório no qual o Brasil aparece como um dos campeões de desmatamento e de fragmentação de florestas e outros ecossistemas entre 2000 e 2018. Além da perda de biodiversidade e das implicações climáticas, o fato de o país ter duas frentes simultâneas de destruição, a Amazônia e o Cerrado, chama a atenção também para as possibilidades de sermos local de origem de novas zoonoses. É o que aponta o relatório "Frentes de desmatamento: vetores e respostas em um mundo em evolução", fruto de uma extensa pesquisa realizada em 29 países, divulgado nesta quarta-feira (13).

Segundo a organização, o desmatamento e a degradação florestal estão entre os principais fatores para o surgimento de doenças como HIV/AIDS, Ebola, SARS, Febre do Vale Rift e, mais recentemente, a COVID-19. Mudanças no uso da terra contribuíram para quase metade das doenças zoonóticas que afetaram humanos entre 1940 e 2005. E o surgimento de novas zoonoses é elevado em regiões tropicais, biodiversas e historicamente cobertas por florestas e savanas que estão passando por grandes mudanças provocadas pelo homem, como vem acontecendo no Brasil

​"As mudanças no uso da terra, como o desmatamento, são os principais vetores de zoonoses emergentes porque, com a mudança no uso da terra, você tem o aumento do contato entre as pessoas e a vida selvagem e os seus patógenos, como vírus e bactérias", explica, em entrevista à Sputnik Brasil, Mariana Napolitano, gerente de Ciências e Conservação do WWF-Brasil. 

De acordo com a especialista, esse problema está relacionado a mais de 30% das novas doenças humanas notificadas desde 1960. E essas mudanças causam também um desequilíbrio na composição das espécies animais, aumentando também o número de vetores e hospedeiros que são capazes de se adaptar a ambientes alterados, como roedores e morcegos. 

"Além disso, o desmatamento aumenta a fragmentação e o efeito de borda, aumentando não só a presença das pessoas, mas também de animais domésticos em ambientes naturais que já estão desequilibrados, o que vai aumentar, então, o risco de um patógeno — um vírus, por exemplo — de um animal selvagem pular para o ser humano ou para os animais domésticos."

Apesar das crescentes evidências dos impactos negativos da degradação ambiental para a humanidade, em algumas partes do planeta, como no Brasil, o desmatamento segue em alta, com números cada vez mais alarmantes. 

Em parte, isso pode ser atribuído, segundo Napolitano, à persistência do falso paradigma de que o desenvolvimento econômico e social e a conservação do meio ambiente são mutuamente excludentes. Ou pode estar relacionado também a governos com visões econômicas de curtíssimo prazo, para os quais compensaria, financeiramente, todo o prejuízo causado pelo desmatamento.

Os dados mostram que tanto essa crença como essa escolha imediatista têm conseguido atrair apoiadores mesmo com a proliferação de estudos apontando para a necessidade de se buscar outros caminhos. Até agora. 

​Para o WWF, os problemas desencadeados pelo novo coronavírus e o processo de recuperação da pandemia podem proporcionar uma oportunidade significativa para que essa mudança de paradigmas, tão defendida pelos cientistas ao longo das últimas décadas, consiga finalmente prevalecer. 

"Nós vamos voltar para o mesmo ponto em que nós estávamos ou nós vamos fazer uma reconstrução que nos coloque em um lugar melhor? Como demonstra aí o relatório, nós precisamos de ações coletivas para implementar soluções personalizadas e integradas que vão beneficiar tanto a natureza mas também as populações humanas", afirma Mariana Napolitano. "E a gente está vendo que, cada vez mais, a gente não vai fazer isso pela biodiversidade. A gente vai fazer isso pela nossa saúde, pela nossa economia e pelo nosso bem-estar." 

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