Práticas militares navais entre a Rússia e a China vêm ganhando cada vez mais atenção de analistas por sua presença constante em áreas estratégicas do oceano Índico.
No mês passado, o analista do Instituto Freeman Spogli de Estudos Internacionais da Universidade de Stanford (EUA), Oriana Skylar Mastro, citado pelo South China Morning Post, escreveu que a cooperação Rússia-China no oceano Índico representaria uma ameaça muito maior à continua presença dos EUA na região do que qualquer um dos dois se a fizessem individualmente. Como exemplo, o analista citou dois exercícios realizados recentemente: o primeiro efetuado em conjunto à África do Sul, e o segundo com o Irã, um dos atuais países que mais apresenta tensões com os EUA.
"Mais importante, eles [os exercícios] revelam que potências regionais como a África do Sul e o Irã, bem como outros países, dão boas-vindas ao papel crescente da China e da Rússia", disse Mastro citado pela mídia.
Em novembro do ano passado, a Rússia aprovou projeto para estabelecer uma base naval em Porto Sudão, na costa do mar Vermelho, que oferece saída direta para o oceano Índico. A instalação seria usada para fazer reparos em navios e reabastecer suprimentos, além de ser de natureza defensiva e destinada a manter a paz e a estabilidade na região, segundo o South China Morning Post.
Já a China, abriu sua primeira base naval no exterior em Djibuti, no Sudeste Africano, em 2017, e sua Marinha teria aumentado as operações na região nas últimas três décadas. Para Mastro, a cooperação política entre os dois países representava um desafio para a Índia, dada a "relação desconfortável entre Nova Deli e China". A China também fortaleceu sua presença ao expandir laços marítimos com países como Sri Lanka e Maldivas.
Porém, para o chefe do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Bucknell (EUA), Zhiqun Zhu, a China está se unindo à Rússia para exercícios conjuntos que visam, em sua maior parte, responder às manobras mais frequentes e assertivas de Washington na região do Indo-Pacífico, e eram mais "simbólicos do que substantivos". Para o analista, a China e Rússia podem ser parceiros políticos e diplomáticos, mas "dificilmente são aliados estratégicos" e deu como exemplo o fato de a Rússia não apoiar explicitamente a posição da China no mar do Sul da China e no estreito de Taiwan, e também acrescentou que seria difícil esperar que Moscou viesse em ajuda de Pequim se a China estivesse envolvida em um conflito militar com os EUA.
"A Rússia, percebendo sua influência global limitada e poder econômico, e também não está colocando todos os ovos na mesma cesta. Seus laços militares calorosos com a Índia obviamente não são bem recebidos por Pequim", ressaltou o analista citado pela mídia.
O ideal, é que uma análise mais detalhada e assertiva sobre a questão deva ocorrer durante este ano, principalmente após o resultado das eleições norte-americanas que trouxeram uma nova ideologia para ocupar a cadeira da presidência dos EUA. Ainda não se sabe quais serão os planos políticos de Joe Biden sobre a região e somente após seus primeiros movimentos que poderemos testemunhar a posição da Rússia e da China em relação a região do oceano Índico.