Ensaio de invasão: como Iraque de Saddam resistiu aos ataques de EUA e Reino Unido em 1998

© AFP 2023 / Rabih MoghrabiFuzileiros navais dos EUA entram em um helicóptero durante a operação Raposa do Deserto
Fuzileiros navais dos EUA entram em um helicóptero durante a operação Raposa do Deserto - Sputnik Brasil
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EUA e Reino Unido já haviam ensaiado uma agressão contra o Iraque de Saddam Hussein em 1998. Apesar dos danos à infraestrutura militar, as forças iraquianas não sucumbiram. A seguir relatamos detalhes da operação Raposa do Deserto, que ocorreu entre 16 e 19 de dezembro.

Derrotado, o Iraque saiu da Guerra do Golfo (1990-1991) praticamente em ruínas. O país árabe perdeu até 50 mil soldados e civis e foi uma lição amarga para o presidente iraquiano Saddam Hussein. Como consequência do conflito, o Iraque Baathista teve que deixar o Kuwait e conceder um certo grau de autonomia aos curdos que viviam no norte do país.

Intervenção das Nações Unidas

Zonas de exclusão aérea foram estabelecidas e uma Comissão Especial das Nações Unidas (UNSCOM, na sigla em inglês) foi criada para lidar com as inspeções do programa de desenvolvimento de armas de destruição em massa do Iraque.

Sob a supervisão da UNSCOM, o Iraque teve que destruir grande parte de seu arsenal de armas de destruição em massa. Foram eliminadas cerca de 40 mil ogivas químicas, 700 toneladas de reagentes destinados à produção de armas químicas, 3.600 toneladas de substâncias químicas e mais de uma centena de unidades de equipamentos que eram usados ​​para a produção de armas químicas.

A causa da crise militar de 1998 foi a tentativa das autoridades iraquianas de condicionar a continuação das inspeções da UNSCOM à retirada das sanções contra Bagdá, que haviam sido introduzidas em 1991. Depois que a Organização das Nações Unidas (ONU) não deu uma resposta positiva a iniciativa iraquiana, Bagdá anunciou em 31 de outubro de 1998 que suspenderia sua cooperação com a UNSCOM.

© AP Photo / Haraz N. GhanbariEx-president dos EUA Bill Clinton
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Ex-president dos EUA Bill Clinton

Após duas semanas longas e tensas, Iraque anunciou sua disposição de retomar sua cooperação com a comissão especial sem pré-condições em 14 de novembro de 1998. Porém, na altura, os EUA já haviam preparado uma operação militar contra o país árabe. O então presidente norte-americano, Bill Clinton, cancelou o ataque somente quando os aviões já haviam decolado para atacar os alvos no território iraquiano.

No entanto, a paz não durou muito. A UNSCOM continuou suas operações, mas logo percebeu que o Iraque não estava disposto a retomar a cooperação no mesmo nível que existia antes da última escalada de tensões. O diretor da UNSCOM, Richard Butler, acusou Bagdá de não permitir que a comissão visitasse certas instalações e de não apresentar documentos sobre a produção de armas químicas. A UNSCOM afirmou que não foi capaz de continuar suas operações e deixou o país em 16 de dezembro de 1998, o dia em que a operação Raposa do Deserto começou.

© AFP 2023 / Brian C. MclaughlinAeronave norte-americana F/A-18C Hornet durante a operação Raposa do Deserto
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Aeronave norte-americana F/A-18C Hornet durante a operação Raposa do Deserto

Curso da operação

A operação Raposa do Deserto foi diferente da Guerra do Golfo e da Guerra do Iraque (2003-2011) porque durante a agressão de 1998 não havia autorização oficial para o uso da força militar, uma resolução especial do Congresso dos EUA. Nem houve uma declaração de guerra. Entretanto, Bill Clinton assinou o Ato de Libertação do Iraque em 31 de outubro de 1998.

Esse documento destinava recursos a grupos de oposição iraquianos para que derrubassem Hussein e estabelecessem um governo leal aos EUA e seus aliados ocidentais. O novo ato tinha uma intenção clara: apoiar os oponentes iraquianos, mas Clinton usou esse documento também para justificar sua ordem de atacar o Iraque.

O objetivo oficial da administração Clinton não era eliminar completamente as possibilidades de Bagdá de produzir e usar armas de destruição em massa, mas degradá-las. Um Iraque completamente desarmado contradizia os interesses dos EUA, pois estava próximo de outro país que representava uma ameaça maior para Washington: o Irã.

Os preparativos para a operação começaram no dia 16 de dezembro e o ataque começou na madrugada do dia 17. Os principais alvos eram instalações de pesquisa e desenvolvimento de armas, sistemas de defesa aérea, depósitos para armas e suprimentos, quartéis e o centro de comando da Guarda Republicana Iraquiana.

© AP Photo / Iraqi TV via APTNSaddam Hussein, ex-líder do Iraque, é visto em um programa da televisão iraquiana em 7 de abril de 2003
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Saddam Hussein, ex-líder do Iraque, é visto em um programa da televisão iraquiana em 7 de abril de 2003

A operação Raposa do Deserto foi exclusivamente aérea, nenhuma ação terrestre ocorreu. Nessa agressão aérea, participaram as unidades de aviação da Força Aérea, da Marinha, do Corpo de Fuzileiros Navais e da Força Aérea Real Britânica. Os ataques continuaram até 19 de dezembro de 1998, quando os militares norte-americanos anunciaram o fim da operação.

Estatísticas e resultados

Ao todo, 97 alvos foram submetidos a ataques de aeronaves norte-americanas e britânicas. Durante a operação, os aviões dos dois países realizaram 650 missões de combate. Foram lançados 415 mísseis de cruzeiro. As unidades de aviação Reino Unido-EUA não sofreram baixas ou danos.

© Foto / Força Aérea dos EUABombardeiro estratégico estadunidense Lancer B-1B
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Bombardeiro estratégico estadunidense Lancer B-1B

No curso da operação, os bombardeiros estratégicos B-1B Lancer foram usados ​​pela primeira vez em combate. A ofensiva aérea foi marcada também pelas primeiras missões aéreas de pilotos da história da Marinha norte-americana.

De acordo com as avaliações do Pentágono, a maioria absoluta dos alvos foi destruída ou seriamente danificada. A infraestrutura iraquiana novamente, como durante a Guerra do Golfo, sofreu alguns danos irreparáveis. A operação Raposa do Deserto foi considerada um grande sucesso militar, embora não tenha alcançado seus objetivos políticos.

Mais da metade dos norte-americana apoiou as ações de Clinton e pediu que a operação continuasse até a remoção completa de Hussein. A iniciativa dos EUA e do Reino Unido recebeu apoio de alguns de seus aliados, como Canadá e Austrália. Enquanto isso, a Rússia e a China criticaram fortemente as ações militares da coalizão.

Como resultado da breve agressão, o Iraque proibiu especialistas internacionais de conduzir inspeções nas instalações iraquianas. Enquanto isso, a defesa aérea do país árabe começou a realizar operações na zona de exclusão aérea contra aviões norte-americanos e britânicos que patrulham o espaço aéreo iraquiano. Aviões da coalizão atacaram em resposta. Esses tipos de incidentes continuaram até o início da Guerra do Iraque.

A coalizão efetivamente ensaiou um ataque bem-sucedido contra o Iraque: a experiência adquirida com a Guerra do Golfo e a operação Raposa do Deserto seria aplicada na invasão de 2003.

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