Efeito Bolsonaro? Alta dos juros futuros não aponta 'precipício fiscal', diz economista

© Folhapress / Pedro LadeiraPresidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao lado do intérprete de libras durante pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), para falar sobre as medidas de combate ao coronavírus
Presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao lado do intérprete de libras durante pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, em Brasília (DF), para falar sobre as medidas de combate ao coronavírus - Sputnik Brasil
Nos siga no
A alta dos juros futuros dos últimos dias não significa risco de "precipício fiscal" ou calote da dívida, mas reflexo da sinalização de subida da taxa pelo Banco Central, disse economista à Sputnik Brasil.

Após subirem na terça-feira (10), as taxas de contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), referência de contratos para juros futuros, saíram de 3,3% para 3,39% para janeiro de 2022, e de 4,82% para 4,96% para janeiro de 2023. 

Alguns analistas do mercado atribuíram a alta aos recentes rompantes do presidente Jair Bolsonaro, por exemplo sua declaração de que o Brasil precisava lidar com a questão da Amazônia com "pólvora", não "diplomacia". Além disso, Bolsonaro mencionou o auxílio emergencial, perguntando como ficariam "40 milhões de invisíveis que perderam tudo". 

A fala teria causado um temor de que o governo mantenha o benefício no ano que vem, descumpra o teto de gastos e não se comprometa com um ajuste fiscal. 

Bolsonaro 'certamente não ajuda'

Para o economista Ricardo Summa, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é difícil mensurar o quanto as declarações de Bolsonaro prejudicam o mercado, mas elas "certamente não ajudam". 

Por outro lado, ele diz que os "juros futuro ou de longo prazo refletem", na realidade, "a expectativa do que vai ocorrer com a taxa de curto prazo fixada pelo Banco Central". 

"É comum ocorrerem essas variações mais fortes da taxa longa, principalmente no nosso contexto de incerteza. Outros fatores são a inflação do IGPM, que continua alta, e o comunicado do BC de que elevaria a taxa de juros se o governo continuasse a expansão fiscal", afirmou o especialista à Sputnik Brasil. 

'Politização de temas técnicos'

Para o economista Pedro Rossi, do Instituto de Economia da Unicamp, existe uma "politização muito grande de temas que são mais técnicos e de variáveis que, na verdade, estão sendo termômetro de outras questões". 

Ele cita como exemplo a desvalorização do câmbio, "atribuída em grande medida ao que diz o Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, e à possibilidade de furar o teto de gastos". Quando, para Rossi, "a taxa de câmbio está respondendo ao cenário internacional e próxima de moedas parecidas". 

Sobre os juros, o economista diz que o "mercado está avaliando os movimentos do próprio Banco Central, ou seja, se houver sinalização de que taxas vão subir, a curva de juros responde antes". 

'Terrorismo fiscal'

Rossi afirma ainda que tanto as taxas de juros a curto prazo como as longas, "embora essas estejam um pouco mais altas", permanecem "historicamente baixas". Segundo o especialista, existe um pouco de "terrorismo fiscal" ao se tratar a questão. 

"Não é uma sinalização de que o país vai quebrar, um eventual calote da dívida está fora do radar. Não existe esse precipício fiscal que as pessoas apontam", disse à Sputnik Brasil. 

Rossi avalia que o mercado é movido por "convenções" e é natural a preocupação com a subida dos juros, mas é vital se discutir a concessão de algum tipo de ajuda para a população em um cenário de queda do PIB e pandemia do coronavírus. Para ele, o orçamento da União de 2021 é uma "bomba relógio". 

Orçamento é 'bomba-relógio'

"Não faz sentido cortar 8% do PIB de gastos de um ano para o outro na maior crise da história brasileira. Isso é retirar estímulos da economia em uma proporção enorme. As pessoas acham que o ajuste fiscal não vai ter nenhum efeito no PIB e emprego. É um anacronismo. O debate internacional reconhece a importância dos estímulos fiscais, e a gente está discutindo voltar ao teto", disse o especialista. 

O economista Rodolpho Tobler, da Fundação Getúlio Vargas, também considera fundamental a discussão de como "as pessoas vão conseguir sobreviver quando acabar o auxílio". 

"Isso precisa ser objeto de estudo. Um valor mais baixo, para algum grupo de pessoas. Existe debate sobre uma renda mínima, por exemplo", disse à Sputnik Brasil. 

Fonte de recursos é 'x da questão'

Por outro lado, Tobler diz que o "x da questão" é saber "de onde os recursos vão ser retirados". 

"O governo precisou agir com essa injeção de dinheiro com o auxílio, muito importante para mitigar o problema das pessoas sem renda. Mas o Brasil já vinha enfrentando uma grave questão fiscal. O grande debate é a fonte dos recursos. O mercado acaba reagindo mal porque, hoje, não se sabe de onde retirar o dinheiro. E o problema fiscal não traz apenas problemas a curto prazo para o mercado financeiro, mas também no longo prazo, estruturais, um desemprego cada vez maior", disse à Sputnik Brasil. 
Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала