Acordos de paz de Israel com países árabes podem redesenhar mapa do Oriente Médio, diz especialista

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Aposentado das Forças Armadas de Israel, brigadeiro-general Meir Elran explica como o tratado de paz entre Israel, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Bahrein pode afetar o equilíbrio de forças no Oriente Médio.

No início desta semana, o Gabinete de Israel aprovou o acordo histórico com os países árabes, conhecido como os Acordos de Abraão, e, no mesmo dia, o primeiro navio vindo de Dubai, EAU, entrou no porto de Haifa, Israel, carregando eletrônicos, material de limpeza, ferro e equipamento de combate a incêndios. Os navios trarão cargas dos EAU semanalmente, afirma o jornal The Jerusalem Post.

"[…] É uma experiência muito empolgante para todos porque não é uma situação muito comum quando um navio árabe está entrando em um porto israelense. É uma grande ocasião", comenta à Sptunik Internacional Elran, que atualmente é pesquisador sênior e chefe do Programa de Segurança Interna de Israel.

Novas rotas

Os Acordos de Abraão representam um grande potencial econômico para Israel e os Estados árabes em um vasto número de campos, incluindo comércio, segurança, turismo, finanças, comunicações, tecnologia, saúde e mudanças climáticas. Elran destaca o transporte como uma das questões que podem mudar substancialmente a "geografia" regional.

© REUTERS / Tom BrennerAcordos de Abraão
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Acordos de Abraão
"Quanto à importância econômica, principalmente da questão do transporte, não há dúvida de que há uma variedade de programas e projetos promissores que podem revolucionar o transporte, e não só o transporte, mas também o mapa do Oriente Médio”, acrescenta.

Atualmente, a maioria das mercadorias que vão para a Europa do golfo Pérsico (ou da Ásia) pelo Oriente Médio são transportadas por navios que têm que passar pelo estreito de Ormuz, o de Bab el-Mandeb, o mar Vermelho e entrar no Mediterrâneo através do canal de Suez, explica o pesquisador.

"A ideia básica é que esta é definitivamente uma via marítima muito importante, mas também há perspectivas de rotas terrestres que ligariam o oceano Índico e o golfo Pérsico ao leste do Mediterrâneo e depois à Europa, através dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Jordânia e depois Israel. Acho que essa perspectiva é muito significativa e há planos para que isso aconteça", diz Elran.

O estreito de Ormuz há muito é um gargalo para os países árabes do golfo Pérsico, uma vez que o ponto mais exíguo do estreito está dentro das águas territoriais do Irã e de Omã.

Isso torna a rota marítima altamente vulnerável, dadas as tensões fermentando entre os países do Golfo e o Irã. Teerã ameaçou repetidamente bloquear o estreito, por onde os navios transportam US$ 1,2 bilhão (R$ 6,77 bilhões) em petróleo todos os dias.

Um dos projetos israelenses prevê o bombeamento de petróleo da Arábia Saudita e dos EAU através da infraestrutura existente do oleoduto Eilat-Ashkelon, a fim de contornar tanto a "rota marítima perigosa" quanto "o caro canal de Suez", afirma o jornal Globes. O oleoduto Eilat-Ashkelon foi construído em conjunto entre Israel e Irã em 1968, e pode privar Teerã de uma das vantagens sobre seus vizinhos do Golfo.

Traição à causa palestina

Anteriormente, o estabelecimento de um Estado palestino independente foi enfatizado por países árabes e muçulmanos como um pré-requisito para formalizar laços com o Estado judeu. No entanto, os Acordos de Abraão indicaram que essas duas questões agora são consideradas separadamente, destaca o pesquisador.

Teerã criticou os EAU e Bahrein pela "traição à causa palestina". Comentando sobre o desenvolvimento, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, enfatizou que Abu Dhabi e Manama seriam responsáveis por "quaisquer consequências" resultantes de seu acordo com Israel. Além disso, em setembro, alguns observadores sugeriram que o Irã pode fortalecer os laços com a Turquia e o Qatar para contrabalançar a emergente parceria de Israel com os países do golfo Pérsico.

© AP Photo / Gabinete presidencial iranianoEm Teerã, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, ajusta sua máscara em frente a um painel no qual se lê "a Presidência", em farsi, durante encontro no quartel-general de luta combate à COVID-19 no país, em 18 de julho de 2020.
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Em Teerã, o presidente do Irã, Hassan Rouhani, ajusta sua máscara em frente a um painel no qual se lê "a Presidência", em farsi, durante encontro no quartel-general de luta combate à COVID-19 no país, em 18 de julho de 2020.

Novos membros

Em meio à incerteza que se forma no Oriente Médio, surge a questão de qual país muçulmano será o próximo a normalizar formalmente as relações com o Estado judeu. De acordo com alguns relatórios, pode ser Omã ou Sudão.

"Israel é desenvolvido. O mundo inteiro trabalha com Israel. Para o desenvolvimento, para a agricultura – precisamos de Israel", disse o vice-chefe de Estado sudanês, general Mohammad Hamdan Dagalo, à emissora Sudan24 no início de outubro, reporta The Times of Israel.

No entanto, embora a justificativa de Israel para aumentar os laços com os ricos e prósperos EAU e Bahrein pareça óbvia, pode-se perguntar por que o Estado judeu está buscando fortalecer o relacionamento com o Sudão, atualmente engolfado por crises políticas e econômicas.

"A questão do Sudão é muito complicada e levará algum tempo, provavelmente, para dar esse passo […] Teremos que esperar para ver, mas o Sudão, claro, é um país muito importante […] acho que será muito importante para Israel, porque para nós o mais importante é ampliar o reconhecimento e a normalização entre Israel e o maior número possível de países árabes", enfatiza Elran.

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