Que vantagem poderia Washington tirar da crescente tensão entre China e Índia?

© AP Photo / Andy WongBandeira da Índia ao lado do brasão nacional da China, em Pequim
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A crescente tensão entre China e Índia nas últimas semanas tem chamado a atenção de todo o mundo, especialmente da principal potência mundial, os Estados Unidos.

Perante a rivalidade entre os dois países mais poderosos do continente asiático, Washington adiciona os seus interesses em enfraquecer o poder e influência de Pequim, interesses que partilha com Nova Deli. Deste modo, e atendendo aos interesses norte-americanos na região, EUA e Índia têm se aproximado tanto a nível militar como diplomático, esperando trazer o equilíbrio na região, de acordo com o jornal The New York Times.

O fornecimento de armamento americano à Índia não é apenas um sinal positivo – e em certa medida, de alívio – para o governo de Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, mas antes um ato simbólico, uma mensagem para a China e para o mundo de que os EUA vão apoiar a República da Índia, disse Tanvi Madam, diretor do projeto indiano na Brookings Institution. Há, no entanto, determinados aspectos que não devem ser ignorados enquanto observamos os laços entre estas duas democracias se estreitando.

© AFP 2023 / DESHAKALYAN CHOWDHURYPilotos norte-americanos perto de aviões F-16 na base de Kalaikunda, Índia (foto de arquivo)
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Pilotos norte-americanos perto de aviões F-16 na base de Kalaikunda, Índia (foto de arquivo)

Relações EUA-Índia - o que há a ganhar?

Estados Unidos e Índia nem sempre tiveram as melhores relações. Durante a Guerra Fria, os EUA aproximaram-se do Paquistão, rival regional da Índia, enquanto a Índia se aproximou da Rússia, que fazia parte da União Soviética. Foi só uma década após o colapso da URSS, e no nascer de um novo milênio, que novos laços começaram a ser criados, após o presidente americano Bill Clinton ter visitado a Índia, algo que não acontecia desde 1978. A partir de então, sempre que há uma visita oficial de um líder norte-americano à potência sul-asiática, são exaltadas as virtudes da parceria com a maior democracia do mundo.

Porém, não nos esqueçamos que os Estados Unidos e a Índia ainda não assinaram nenhuma aliança formal. Na verdade, a Índia é há muito tempo caracterizada por sua posição de não alinhamento, mas é possível que os recentes conflitos fronteiriços com a China possam vir a mudar isso.

© AP Photo / Manish SwarupManifestantes queimam imagem do presidente da China, Xi Jinping, em Nova Deli, Índia, 22 de junho de 2020
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Manifestantes queimam imagem do presidente da China, Xi Jinping, em Nova Deli, Índia, 22 de junho de 2020

O foco crescente da Índia na China – uma reviravolta da época em que o Paquistão reclamava a maior parte de sua atenção – é um sinal de boas-vindas para os diplomatas americanos, que acreditam que a rivalidade compartilhada pode atrair a Índia para uma parceria estratégica que ajudará a neutralizar a crescente influência da China na região.
De acordo com a mídia, vários especialistas revelam interesse em saber se a disputa na fronteira levará a Índia a tomar parte de uma parceria regional com Estados Unidos, Japão e Austrália – conhecida como Diálogo de Segurança Quadrilateral, ou Quad. Este fórum é classificado como o "arco da democracia" asiático.

Para a China, este representa uma ameaça ao seu domínio na região, afirmando que o Quad é uma tentativa dos EUA de criar uma versão asiática da Organização do Tratado do Atlântico Norte – ou simplesmente, OTAN – diretamente voltada para contrabalançar seus interesses. Já o governo de Modi parece estar interessado, uma vez que em uma ligação telefônica ao primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, constatou que os dois países devem trabalhar juntos por uma "região do Indo-Pacífico livre, aberta e inclusiva", ecoando o estilo de discurso utilizado pelo Quad e pelos Estados Unidos.

O ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, também tem se tornado cada vez mais ativo sobre a parceria, dizem os especialistas, ativismo esse evidenciado com reunião com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e os ministros das Relações Exteriores do Japão e da Austrália para a segunda reunião oficial do Quad.

É também importante lembrar que, em setembro, os Estados Unidos assinaram um acordo de defesa com as Maldivas, uma pequena nação de ilhas perto da fronteira com a Índia, que oferece aos Estados Unidos uma oportunidade de conter a capacidade da China de expandir sua presença na região. Naturalmente, a Índia recebeu tais notícias com um sentimento de alívio.

O que esperar do futuro?

Os exercícios militares e testes de novo armamento vão continuar, bem como a troca de acusações entre os dois gigantes nucleares asiáticos. Ao mesmo tempo, a potência norte-americana continuará preparando terreno. De igual modo, ninguém espera que a China se deixe ficar para trás no que toca a poderio militar, estando desenvolvendo e melhorando arsenal, munições, e instrumentos de vigilância, reconhecimento e comunicação.

No futuro próximo, vamos ouvir sobre os feitos impressionantes das forças armadas de cada país rival, bem como da tecnologia avançada que as suporta. Contudo, outros problemas a nível interno continuarão prevalecendo.

Em última instância, Wasib Dar, que faz campanha pelos direitos das pessoas no território disputado da Caxemira, lamenta a hipocrisia dos EUA de Trump, que falam com tanta veemência sobre os abusos dos direitos humanos na China como parte de sua campanha, mas que estão dispostos a formar laços diplomáticos e estratégicos mais profundos com a Índia, onde situações semelhantes estão ocorrendo.

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