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Analista: reavaliação de missões diplomáticas do Brasil é prática 'natural'

© Folhapress / Futura Press / Wallace MartinsEm Brasília, o Palácio do Itamaraty é visto pelo lado de fora, em 11 de agosto de 2020.
Em Brasília, o Palácio do Itamaraty é visto pelo lado de fora, em 11 de agosto de 2020. - Sputnik Brasil
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Uma senadora brasileira pediu ao Itamaraty um balanço financeiro sobre o custo-benefício das embaixadas do país ao redor do mundo. Diante do pedido, a Sputnik Brasil ouviu um pesquisador e uma embaixadora sobre a questão, que consideraram o pedido "razoável" e "objetivo".

Na segunda-feira (28), a senadora Kátia Abreu (PP-TO) apresentou à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal um requerimento solicitando ao chanceler Ernesto Araújo informações contábeis sobre as embaixadas e consulados brasileiros mundo afora. O pedido quer avaliar os resultados comerciais obtidos pelo Brasil com os países em que as missões diplomáticas estão alocadas.  

Segundo publicou o portal Senado Notícias, Abreu também solicita dados como o custo total das embaixadas e consulados, além de informações detalhadas sobre recursos humanos por salário médio, quantidade e demais despesas de custeio.

Leonardo Paz, cientista político, pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro (FGV-RJ) e professor de Relações Internacionais do IBMEC/Rio, encara o questionamento de forma positiva.

"A ideia de você questionar sempre qualquer esfera da máquina pública, inclusive dentro da nossa diplomacia, se o que está acontecendo está fazendo sentido, se é eficaz e eficiente [...] me parece completamente razoável", afirma em entrevista à Sputnik Brasil.

O questionamento da senadora também incluiu críticas ao tamanho da diplomacia brasileira, uma vez que a senadora entende que há um número excessivo de representações no exterior. Paz afirma que esse é um questionamento antigo feito ao Itamaraty, mas que se intensificou desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"O governo Lula, motivado inclusive pelo momento bom econômico do Brasil, enfim, expande bastante a malha diplomática brasileira. [...] Realmente houve uma expansão muito grande durante o governo Lula, expansão essa que foi criticada por alguns atores de diversos campos, não só da academia, mas jornalistas, especialistas, diplomatas", afirma, lembrando que a expansão durante o período foi parte de uma política de "tentar aumentar o perfil internacional do Brasil".

O pesquisador recorda que essa expansão também foi feita de maneira mais tímida no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas ganhou peso no governo Lula. Para o pesquisador, é natural que haja uma revisão dessa política de forma periódica.

© Folhapress / Reinaldo CanatoEm São Paulo, a senadora Kátia Abreu observa durante participação em seminário sobre impactos da pecuária realizado pelo jornal Folha de São Paulo, em 30 de janeiro de 2020.
Analista: reavaliação de missões diplomáticas do Brasil é prática 'natural' - Sputnik Brasil
Em São Paulo, a senadora Kátia Abreu observa durante participação em seminário sobre impactos da pecuária realizado pelo jornal Folha de São Paulo, em 30 de janeiro de 2020.

Balança comercial pode funcionar como critério de avaliação

Leonardo Paz afirma ainda que há diversos critérios que podem ser usados na avaliação de missões diplomáticas, como no caso da presença em países com missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) e também a balança comercial.

"Tem vários elementos que vão efetivamente ajudar a definir qual deve ser a eficácia daquela missão diplomática específica e obviamente a balança comercial é um deles, talvez um dos mais importantes para países que se propõem a ser grandes exportadores, que é um sonho do Brasil", aponta, ressaltando que há espaço para crescer nesse sentido e que é necessário ser criterioso para evitar equívocos ao cortar missões diplomáticas.

O requerimento da senadora Kátia Abreu também aponta denúncias de que há ingerência externa no Itamaraty, citando inclusive o escritor Olavo de Carvalho, considerado um mentor intelectual do atual chanceler. A senadora citou que há "um clima de terror no Itamaraty" denunciado por diplomatas.

© Folhapress / Paulo Guereta / Photo PremiumChanceler Ernesto Araújo ao lado do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo
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Chanceler Ernesto Araújo ao lado do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo

O professor Leonardo Paz explica que há de fato uma mudança evidente na orientação política do Itamaraty alinhada com as ideias do presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

"O ministro Ernesto Araújo é um ator nesse aspecto, ele compra e cumpre a agenda do presidente de basicamente tentar limitar a capacidade de determinados atores que eles julgam que sejam a esquerda e, por consequência, prejudiciais ao Brasil", avalia.

Representações diplomáticas não podem ser reduzidas a comércio

Para a embaixadora Maria Celina de Azevedo Rodrigues, presidente da Associação e Sindicato dos Diplomatas Brasileiros (ADB), não há muito o que se interpretar sobre a solicitação feita pela senadora Kátia Abreu, dado que a mesmo seria "extremamente objetiva" e "muito prática".

Apesar de ser um pedido objetivo, Celina afirma, destacando que a parlamentar muito provavelmente está ciente disso, que quantificar e reduzir tudo a expressões econômicas e comerciais dentro da diplomacia é muito complicado, já que há muitos outros fatores que também devem ser levados em consideração.

"Tem, além de tudo, laços muito mais variados, culturais, tem laços políticos, tem influência do país na região etc, que também têm que ser levados em consideração, além dos elementos comerciais", disse a embaixadora também em declarações à Sputnik Brasil.

Essa avaliação, segundo a diplomata, foi feita pelo próprio chanceler brasileiro, quando fechou uma série de representações diplomáticas na África e no Caribe, por achar que não eram necessárias.

"E é muito difícil você saber exatamente se fez certo, se foi errado, se está num contexto X, Y ou Z", opina a especialista, lembrando que muitas dessas embaixadas brasileiras foram abertas em governos anteriores com um objetivo claro de obter o apoio de mais países às pautas defendidas pelo Brasil, como o pleito a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Em resumo, Maria Celina avalia que é muito mais profunda a decisão de se ter ou não uma representação diplomática em um determinado país do que alguns podem imaginar a princípio.

"Essa análise global é o que tem que ser feito. E a senadora, de posse de todos os elementos, evidentemente, conversando também com os diplomatas, poderá entender melhor o que dita e determina a abertura ou a manutenção de certas representações diplomáticas. Também tem que se levar em conta, além das relações bilaterais do Brasil, que abrange esse espectro enorme de temas, nós temos que avaliar também o conjunto ou a influência, digamos, daquele país em que nós temos a representação no conjunto dos países à volta, às vezes, onde nós não temos representações diplomáticas." 

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