Lula está 'mais ofensivo, menos conciliador', diz cientista política

© Folhapress / Zanone FraissatO ex-presidente Lula durante reunião do diretório nacional do PT (Partido dos Trabalhadores), em São Paulo (foto de arquivo)
O ex-presidente Lula durante reunião do diretório nacional do PT (Partido dos Trabalhadores), em São Paulo (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Lula está de volta, ou pelo menos pretende voltar. Em discurso publicado nas redes sociais, o ex-presidente deixa aberto seu retorno à arena eleitoral. A Sputnik Brasil ouviu uma cientista política para discutir o futuro do líder do PT.

Na mensagem publicada no Dia da Independência, Lula cita o escritor francês Victor Hugo para afirmar que "é do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos". O ex-presidente critica o teto de gastos, defende aumentar os impostos dos mais ricos e afirma que o Sistema Único de Saúde (SUS) passa por um processo de sucateamento. Lula também faz duras criticas ao relacionamento do Brasil com os Estados Unidos e avalia que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) coloca o país à serviço dos interesses de Washington "de maneira humilhante".

"Lula se apresenta hoje com a cara que a radicalidade se apresenta. Hoje em dia, a gente pode dizer, que o radical é aquele que está pautando o tema da democracia. Então o Lula, se formos olhar sobre essa ótica, se apresenta mais ofensivo, menos conciliador, menos moderado naquilo que diz respeito à crítica a um governo que, sem dúvida nenhuma, assume a feição do autoritarismo, de uma revivência traumática do processo ditatorial brasileiro", afirma à Sputnik Brasil a cientista política e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) Clarisse Gurgel. 

Gurgel acredita que o líder do PT acerta ao apontar três inimigos de seu projeto político: os Estados Unidos, a oligarquia e o mercado financeiro. "O que é o teto de gastos? É uma determinação do mercado, em especial do mercado financeiro, sobre o quanto é possível usar de dinheiro público para atender às demandas populares para que se deixe uma reserva garantida para o pagamento de juros aos credores que emprestam dinheiro e atuam em fundos de investimento", afirma.

© Folhapress / Eduardo AnizelliEx-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixando a carceragem da Polícia Federal de Curitiba
Lula está 'mais ofensivo, menos conciliador', diz cientista política - Sputnik Brasil
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixando a carceragem da Polícia Federal de Curitiba

Ficha suja e 'velho Lula'

Lula, todavia, é ficha suja. Como foi condenado pelo então juiz Sergio Moro na Operação Lava Jato, ele não poderá participar das próximas eleições. Para que o ex-presidente volte às urnas, é preciso que o Supremo Tribunal Federal (STF) anule a condenação de Moro. 

Para Gurgel, o Brasil vive hoje uma "espécie de ditadura judicial" e a Justiça serve como um "poder paralelo" de Bolsonaro. Dessa maneira, o judiciário é utilizado para implementar, e dar legitimidade, a projetos autoritários do Governo Federal — e o Rio de Janeiro é um "laboratório" dessa prática. 

Para que Lula consiga voltar a ser candidato, a professora da Unirio avalia que o ex-presidente precisa, primeiro, atrair a indústria nacional para seu projeto político. "Se o Lula consegue recompor esse grupo [da indústria nacional], ele começa a atrair a oligarquia e começa a atrair o próprio mercado financeiro. É só isso, o caminho é o contrário, não é pelo judiciário, é pelo mercado", diz.

Ainda que aponte alterações e novidades no discurso lulista, Gurgel avalia que ainda há elementos de um "velho Lula" conciliador no discurso do ex-presidente.

"Existe no Brasil um modelo de democracia, que é o da democracia viável, em que existe conciliação entre capital e trabalho. Se o pêndulo começa a pesar mais para o trabalho, e não precisa ser muito, aciona-se um alarme para que a democracia volte a ser restrita como ela deve ser, esse foi o acordo estabelecido na abertura democrática do Brasil. Esse acordo precisa ser superado e parece que o Lula não superou esse acordo. Quando esse acordo for superado, a gente vai estar falando, de fato, de soberania, de projeto nacional e aí a gente vai até mesmo superar esse modelo de contrato, a gente não vai mais estar pensando em uma sociedade que está eternizada como uma sociedade polarizada, essa polarização não vai se mostrar infinita e eterna, ela vai se mostrar algo passível de ser superada", afirma a professora da Unirio.
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