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5G: EUA não têm condições de punir Brasil por parceria com Huawei, diz especialista

© REUTERS / Dado RuvicLogotipo da Huawei com bandeira chinesa em segundo plano
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O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, declarou que o país poderá sofrer consequências, caso não elimine a empresa chinesa Huawei da licitação internacional para a exploração do serviço de telefonia 5G, a ser implantado em 2021.

Segundo o diplomata norte-americano, "a presença da gigante de telecomunicações deve fazer com que empresas baseadas na propriedade intelectual evitem investir no Brasil".

As declarações de Chapman acontecem em meio a um novo momento de fortes tensões entre os Estados Unidos e a China, que culminou em fechamento de consulados dos dois países. Washington determinou a suspensão das atividades do Consulado-Geral chinês em Houston. Pequim, por sua vez, encerrou o funcionamento do Consulado-Geral norte-americano em Chengdu.

Os governos dos dois países se acusam mutuamente de utilizar os consulados como sedes de espionagem e de furto de propriedade intelectual.

Para Diego Pautasso, professor de Relações Internacionais e renomado estudioso do grupo BRICS, as afirmações do Todd Chapman refletem a continuidade de "uma disputa tecnológica entre os Estados Unidos e a China, que ultrapassa a dimensão comercial e tarifária". O cientista disse à Sputnik Brasil que Pequim vai tomando a dianteira nessa corrida.

"Huawei domina um quarto do mercado mundial de infraestrutura 5G, um padrão tecnológico que, certamente, vai pautar o novo ciclo de inovação no século XXI. E as outras duas empresas que disputam com a Huawei são a [finlandesa] Nokia e a [sueca] Ericsson. Portanto os americanos estão de fora de um dos núcleos tecnológicos que tende a emergir com muita força nas próximas décadas", explicou Diego Pautasso.

Dessa forma, os norte-americanos têm pressionado todos os países aliados para que não cedam espaço e mercado à infraestrutura de 5G da Huawei. As táticas de Washington já deram frutos na Inglaterra, Austrália e Japão, onde a empresa chinesa foi excluída do mercado. No Brasil, segundo o especialista, o adiamento da licitação para 2021 também pode ter tido "um dedo" dos Estados Unidos. No entanto, acrescentou Pautasso, essa não parece ser uma estratégia sustentável e a longo prazo para os EUA enfrentarem a competição tecnológica com os chineses.

"Os Estados Unidos não estão em condição de impor tantas represálias ou, pelo menos, isso pode ter um custo. Atualmente a China representa 34% do destino das exportações brasileiras, enquanto os Estados Unidos são um pouco mais de 8%. Sendo que a China representou no ano passado 80% do nosso superávit, e com os Estados Unidos o Brasil tem apresentado déficit. Então os Estados Unidos ficam em uma posição um pouco delicada. Ademais, todas as promessas americanas até então não foram cumpridas, do ponto de vista do alinhamento do governo Bolsonaro com o governo Trump, de modo que a margem de manobra dos Estados Unidos vai ficando estreita", destacou o professor.

Para Diego Pautasso, Washington estaria sem meios financeiros e sem condições de mercado para abrir as portas para os produtos brasileiros, de modo a oferecer uma contrapartida ao alinhamento diplomático de Brasília. A própria guerra comercial com a China seria o reflexo da crise econômica norte-americana.

"Me parece que as próprias promessas americanas não foram cumpridas no âmbito da OCDE, por exemplo. E a situação parece limitada por parte de Washington para oferecer um programa de ajuda ou de cooperação, nem um acordo que seja compatível com as pressões antichinesas exercidas", completou Diego Pautasso.

O interlocutor da Sputnik Brasil lembrou que a diplomacia do Brasil, historicamente, sempre optou por uma política de barganha. Ou seja, buscou extrair algum proveito em favor do seu desenvolvimento dos pólos dominantes, sem um alinhamento submisso. O atual governo, no entanto, tem rompido com essa prática.

"No atual quadro histórico, mais do que nunca, o Brasil deveria explorar as contradições das disputas sino-americanas em favor de uma inserção mais soberana, mais autônoma e com mais ganhos geoeconômicos", argumentou o especialista.

Segundo Pautasso, não há grandes alternativas para o Brasil, "senão o padrão tecnológico 5G chinês, que é o mais competitivo, e o mais barato".

"Tampouco os americanos têm um pacote tecnológico a oferecer em condições vantajosas. O governo Bolsonaro entra em uma situação delicada, tendo em vista as eleições nos Estados Unidos, que pode deixá-lo sem um aliado preferencial lá, que seria Donald Trump, e criando uma situação de litígio desnecessária com o maior parceiro comercial, que é a China", concluiu.
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