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Cientista vê possível ligação entre invasão de gafanhotos e mudanças no clima

© Sputnik / Boris Davydov  / Acessar o banco de imagensInvasão de gafanhotos (imagem referencial)
Invasão de gafanhotos (imagem referencial) - Sputnik Brasil
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A nuvem de gafanhotos que se desloca da Argentina em direção ao Brasil causa certa apreensão entre agricultores, curiosos e autoridades do país, enquanto cientistas discutem medidas para conter os riscos e entender melhor as origens desse fenômeno.

Uma nuvem de gafanhotos, comparada às pragas do Egito, segue em deslocamento na Argentina em direção ao território brasileiro, gerando preocupações para agricultores e autoridades. 

​No início da tarde desta quarta-feira (24), os insetos, capazes de consumir grandes quantidades de plantações e percorrer até 150 quilômetros por dia, se encontrava a apenas 130 quilômetros do Brasil, mas a sua chegada ao sul do país dependerá de condições climáticas adequadas na região.

"É uma nuvem muito grande de gafanhotos migratórios. Isso ocorre, geralmente, a cada duas ou três décadas. No final do século passado, nos anos 1989, 1990, teve uma nuvem semelhante vindo do Peru, e chegou até Mato Grosso do Sul", declarou à Sputnik Brasil o presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, Josélio Moura.

O especialista participou nesta manhã (24) de uma reunião no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na qual foram discutidas formas de combater essa ameaça à agricultura brasileira. 

Segundo ele, autoridades do Brasil já estariam tomando algumas atitudes em conjunto com parceiros da Argentina, do Uruguai e do Paraguai para tentar manter os insetos longe do território brasileiro. 

"Nós, hoje, temos produtos de diversas empresas que atuam sobre o controle do gafanhoto, que já utilizamos no passado. Mas, modernamente, tem o diflubenzuron, que é utilizado inclusive nos Estados Unidos, para o controle da migração de gafanhotos", explica. "Ele é inócuo para a saúde pública, é inócuo para o meio ambiente, mas tem que agir de uma forma concentrada, preventiva, para atuar sobre as nuvens. Principalmente quando essa onda de gafanhotos estiver em solo. Fica mais fácil a aplicação." 

De acordo com a bióloga Patrícia Jacqueline Thyssen, especialista em insetos do Departamento de Biologia Animal do Instituto de Biologia da Universidade de Campinas (Unicamp), apesar dos riscos que os gafanhotos representam para as plantações, eles não são considerados perigosos para a saúde de outros animais, incluindo os humanos. 

"Nós podemos ficar bem tranquilos em relação a isso", destaca a cientista.

Thyssen frisa que esses insetos prestam um importante serviço ao ecossistema, servindo como alimentos para várias espécies de vertebrados, sobretudo aves. Além disso, não carregam consigo nenhum tipo de bactéria, vírus ou outro agente nocivo. O problema, segundo ela, é justamente quando eles estão em grande número e, assim, podem causar danos às produções agrícolas.

"De modo geral, eles não estão no topo das espécies classificadas como pragas para a agricultura. Há outros insetos, como mariposas, besouros, vespas ou formigas, que causam danos bem severos. Em certas circunstâncias, quase que permanentes. E ocasionam grandes prejuízos econômicos."

Assim como Moura, a pesquisadora da Unicamp descreve o atual deslocamento dos gafanhotos na América do Sul como um evento raro para os padrões continentais. Ela defende a necessidade de investigações mais profundas para se apurar o que poderia estar por trás dessas migrações na região.

"O que nós, cientistas, sabemos é que o desenvolvimento dos insetos está fortemente ligado aos fatores ambientais, e, em particular, às temperaturas. Os insetos não têm controle metabólico da sua temperatura. Portanto, a temperatura afeta fortemente a taxa de desenvolvimento dos insetos. Desse modo, mudanças climáticas seria um fator interessante a ser explorado no monitoramento do problema atual."
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