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No 'bolso' dos EUA: Brasil não tem armas para brigar por acordo com parceiro, diz especialista

© AP Photo / Manuel Balce CenetaO presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (à esquerda), e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (à direita), deixam uma coletiva de imprensa na Casa Branca em 19 de março de 2019.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (à esquerda), e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (à direita), deixam uma coletiva de imprensa na Casa Branca em 19 de março de 2019. - Sputnik Brasil
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Devido à "submissão" do Brasil aos EUA, diplomacia brasileira não tem forças para pressionar por possível acordo de livre comércio com norte-americanos, disse especialista à Sputnik Brasil.

Mencionada pelo governo brasileiro e pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, embora nunca confirmada pelo EUA, a possibilidade de um acordo de liberação de tarifas entre os dois países ficou mais distante nesta semana.

Na última quarta-feira (17), durante audiência da Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara dos EUA, o representante comercial do país, Robert Lighthizer, disse que o acordo com o Brasil não está em pauta.

Lighthizer deu a declaração após uma deputada do Partido Democrata questionar o governo Bolsonaro, que, segundo parlamentares da legenda, não respeita valores democráticos.

"O que estamos fazendo agora com o Brasil é tentar resolver problemas específicos para que o país se abra e crie empregos para a América. No momento, não temos planos para um acordo de livre comércio com o Brasil", limitou-se a responder o chefe do Escritório do Representante de Comércio dos EUA, segundo a Folha de S.Paulo.

Segundo Diego Pautasso, especialista em relações internacionais e professor do Colégio Militar de Porto Alegre, o Brasil realmente terá dificuldades para concretizar o acordo.

Brasil não é 'prioridade'

O especialista diz que, mesmo com a política do presidente estadunidense, Donald Trump, de "protecionismo" e "defesa da indústria nacional" e do "mercado doméstico", os EUA também se abrem para outros mercados, mas a diplomacia brasileira adota "estratégia equivocada" de "alinhamento automático" com o parceiro.

"Essa abertura de mercados não situa o Brasil como uma prioridade, não só porque sua economia está cambaleante, mas, sobretudo, porque o Brasil não apresenta uma política de barganha, e isso é elementar na dinâmica política. Ele é percebido pelo interlocutor como alguém que já está no bolso, como alguém que não precisa ser conquistado, a quem não precisa apresentar uma proposta atrativa", disse Pautasso.

O analista, que também é estudioso do grupo BRICS, afirmou ainda que o atual cenário político e sanitário do Brasil dificulta negociações com atores externos.

'Caminho da instabilidade institucional'

"O Brasil está trilhando um caminho de instabilidade institucional, em um contexto de crise econômica e de pandemia. As recorrentes declarações que colocam em xeque a institucionalidade, o estado democrático de direito, o STF [Supremo Tribunal Federal], tensionam não apenas internamente, mas criam uma percepção internacional de que o Brasil não está comprometido com a causa democrática", afirmou.

Pautasso acrescenta ainda "determinadas práticas contrárias aos princípios fundamentais das organizações internacionais, nomeadamente da ONU e de seus organismos dos direitos humanos", assim como atritos com "minorias", que "acabam por criar uma percepção internacional que não é favorável".

Membros da comissão repudiam acordo com governo brasileiro

Há duas semanas, 24 membros da Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara dos Representantes assinaram carta endereçada a Lighthizer afirmando que o órgão era contrário a qualquer tipo de acordo com o governo Bolsonaro, que, segundo o grupo, demonstra falta de compromisso com os direitos humanos.

O governo brasileiro respondeu à carta, por meio de seu embaixador em Washington, Nestor Foster, argumentando que os parlamentares tinham uma visão "deturpada e desinformada" sobre Bolsonaro.

O professor do Colégio Militar frisa que Trump está atualmente na "defensiva" diante do atual cenário doméstico nos EUA.

"O fato de Trump estar em uma situação defensiva, por conta da pandemia, da falência do sistema de saúde, da crise econômica, da elevação brutal do desemprego e da crescente força da oposição, faz com que recue em uma série de agendas, inclusive algumas que dizem respeito à América Latina", disse.

'Não existe simetria'

Nesse contexto, nem mesmo a amizade que Bolsonaro diz ter com o presidente norte-americano bastaria para o Brasil movimentar as peças a seu favor no xadrez político internacional.

"Amizade em politica não representa o fator determinante, sobretudo quando, para além da amizade, existe uma certa bajulação, existe submissão, não existe simetria", afirmou Diego Pautasso.
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