Por que taxa de mortalidade da COVID-19 é dobro do previsto pelos cientistas? Confira razão

© REUTERS / Amanda PerobelliTúmulos com vítimas da COVID-19 no Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo.
Túmulos com vítimas da COVID-19 no Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo. - Sputnik Brasil
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Coronavírus está regredindo em muitos países, mas taxa de mortalidade duplicou desde março, quando especialistas defenderam que testes massivos detectariam vírus na fase inicial, reduzindo letalidade.

As curvas de infectados pelo novo coronavírus em muitos países estão se achatando, pelo menos por enquanto. Contudo, a taxa global de mortalidade dos casos vem aumentando significativamente desde março, passando de 3,4% para 5,8% nesta semana, segundo relatos da Organização Mundial da Saúde (OMS), chegando mesmo a estar em torno de 7% em meados de abril a maio.

A tendência é contrária às expectativas anteriores de muitos especialistas de que um aumento massivo dos testes permitiria despistar a infecção em seu estado inicial, evitando a COVID-19 e dessa forma reduzindo a mortalidade, informa o site Business Insider.

Mas, aparentemente, os testes não foram aumentados ao ponto de resultar em uma trajetória significativa de queda.

Taxa de mortalidade é fenômeno mais complexo do que parece

Enquanto governos se preparam para novas ondas de infecção e estão tomando medidas graduais de desconfinamento, a questão posta de momento é: quão mortal é a COVID-19?

A resposta mais direta poderia ser obtida pela taxa de mortalidade, computando o número de óbitos confirmados por COVID-19.

Mas como os casos de coronavírus progridem semanalmente, e como os números estão em constante mudança, a taxa de mortalidade está sempre flutuando.

Alguns epidemiologistas defendem que, sendo as taxas de mortalidade tão fortemente influenciadas pelos testes e atrasos nos casos e mortes relatados, não poderão ser uma medida confiável do número de mortes pelo vírus ao longo do tempo.

Muitos países não estão testando o suficiente

Quando questionado pelo Business Insider sobre o aumento da taxa de mortalidade global, Ben Cowling, chefe do Departamento de Epidemiologia e Bioestatística da Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong, teve uma resposta simples: "Não se testa suficientemente os casos leves."

Em geral, quanto mais casos forem incluídos nos dados – incluindo pessoas com sintomas leves ou assintomáticas – menor será a taxa de mortalidade, refere o Business Insider.

Nesse sentido, as taxas de mortalidade representam a "medida de quanto se testa e quantos casos são detectados", afirmou ao Business Insider John Edmunds, professor de doenças infecciosas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

"Olhe para Singapura e Coreia do Sul para comparação, onde se testa muito mais", observou Cowling.

A Coreia do Sul, que já testou mais de um milhão de pessoas, ultrapassou de longe outros países na detecção precoce de casos e no rastreamento de contatos.

Enquanto os laboratórios dos EUA esperaram semanas por instruções sobre como corrigir kits de teste defeituosos em fevereiro, a Coreia do Sul já andava testando dezenas de milhares de pessoas.

A taxa de mortalidade do país atingiu nesta semana 2,3% a partir de quarta-feira (10). Singapura, que também foi elogiada por seus testes de grande alcance, teve uma taxa de mortalidade de apenas 0,1%, recorda o Business Insider.

Testes limitados em outros países, como a Suécia e os EUA, fazem com que seus casos apresentem resultados imprecisos e forçosamente baixos.

Especialistas estimam que nos EUA seja preciso multiplicar por dez a contagem oficial de casos confirmados para se obter uma estimativa precisa das reais infecções em todo o país, assinala o Business Insider.

"Não há como registrar todos os casos, embora provavelmente computemos a maioria das mortes", afirmou Edmunds.

Quando os países testam pouco, "perdem-se" muitos casos leves, levando a um aumento artificial da taxa de mortalidade. Países como os EUA e a Suécia, portanto, que têm taxas de mortalidade de 5,7% e 10,3%, respectivamente, poderiam estar inflando a taxa global de mortalidade.

Taxas de mortalidade podem parecer mais altas após pico epidêmico

As mortes relatadas são geralmente de pessoas que adoeceram há três ou quatro semanas, durante o pico epidêmico. Por isso, quando a contagem diária de casos cai, as mortes podem continuar subindo, em uma somente aparente contradição.

"A razão é que se trata de mortes resultantes de quando a epidemia estava se expandindo, ou pelo menos mais intensa do que agora", afirmou William Hanage, epidemiologista da Universidade de Harvard, em declarações ao Business Insider.

Esta disparidade entre o número de mortes e a contagem de casos pode criar taxas de mortalidade aparentemente muito altas. É o que parece ter acontecido em abril e maio.

Para se ter uma ideia mais precisa de como o vírus é mortal, Edmunds assegura que o necessário "é levar em conta os atrasos de forma adequada, dividindo as mortes de hoje pelos casos que ocorreram três a quatro semanas atrás".

Essa aritmética aponta para que o vírus tenha matado cerca de 1% das pessoas que deram positivo há quatro semanas. Mas novamente, como isso não inclui muitas pessoas que apresentam sintomas leves ou assintomáticas, a verdadeira proporção de pessoas infectadas que morrem é provavelmente muito menor, escreve o Business Insider.

Especialistas como Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, estimaram igualmente que a taxa real de mortalidade esteja mais próxima de 1%.

Um estudo de maio da Universidade de Washington sugeriu que se todas as infecções fossem conhecidas e tomadas em conta, a verdadeira taxa de mortalidade nos EUA seria de cerca de 1,3%, recorda o Business Insider.

Isso seria muito inferior ao que os índices de mortalidade atualmente apontam, mas seria ainda assim 13 vezes superior à taxa de mortalidade da gripe sazonal, conclui o artigo.

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