Especialista explica por que acordo comercial com China 'não é mais tão importante' para Trump

© REUTERS / Kevin LamarqueO vice-premiê chinês Liu He e o presidente americano Donald Trump após a assinatura da "primeira fase" do acordo comercial EUA-China
O vice-premiê chinês Liu He e o presidente americano Donald Trump após a assinatura da primeira fase do acordo comercial EUA-China - Sputnik Brasil
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Donald Trump, presidente dos EUA, está perdendo interesse pelo acordo comercial, segundo seu assessor econômico, e a razão poderia ser estar em meio à época eleitoral, teoriza um especialista.

O acordo comercial entre os EUA e a China "não é mais tão importante" para Trump, diz Larry Kudlow, diretor do Conselho Econômico Nacional dos EUA e assistente do presidente para assuntos econômicos.

Segundo ele, o acordo comercial alcançado em janeiro permanece inalterado por enquanto, mas Trump iria "observar" o grau de cumprimento por Pequim de suas obrigações, escreve a agência Reuters.

Antes, a administração Trump não escondia que o acordo comercial com a China desempenha um papel político crucial para Trump no ano de mais uma eleição presidencial.

Os esforços feitos pelo presidente dos EUA em 2019 para obter o melhor negócio para os EUA levaram a assinar em janeiro a fase 1 do acordo, na qual a China se comprometeu a aumentar as importações de bens americanos em US$ 200 bilhões (R$ 1,11 trilhão) em dois anos, em relação ao nível de 2017, e os Estados Unidos, por sua vez, aboliram uma série de direitos tarifários.

Segundo os termos do acordo, as negociações sobre a fase 2 deveriam decorrer dependendo de como a fase 1 do acordo fosse implementada. Muitos especialistas dos EUA temeram que, devido à pandemia provocada pelo SARS-CoV-2, a China não fosse capaz de cumprir suas obrigações da compra de produtos norte-americanos.

Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, as vendas de milho e carne suína para a China aumentaram oito vezes em comparação com o nível de 2017. O algodão aumentou três vezes em relação ao mesmo ano. O fornecimento de soja para a China aumentou em um terço.

Os dados da empresa S&P Global Market Intelligence indicam que as exportações dos EUA para a China foram US$ 21,2 bilhões (R$ 112,8 bilhões) menores no primeiro trimestre do que o planejado anteriormente, sendo as estatísticas prejudicadas principalmente pelas fontes de energia, especialmente o gás natural liquefeito.

Para cumprir estritamente todas as condições em termos de volume de preços, e tendo em conta a queda dos preços do petróleo, a China teria que comprar cerca de três milhões de barris de petróleo por dia dos EUA, o que seria igual a todo o volume diário das exportações de petróleo dos EUA, uma tarefa que se afigura impossível mesmo em condições normais, quanto mais durante uma forte queda de atividade econômica.

Importância do acordo comercial

Apesar da deterioração contínua das relações entre os dois países, a China ainda enfatiza seu compromisso com o cumprimento das obrigações. Mesmo o relatório anual de Li Keqiang, número dois no Politburo do Partido Comunista do país, declara que a China fará seu melhor para implementar consistentemente a fase 1 do acordo. O relatório do primeiro-ministro pede que também as estruturas empresariais privadas se orientem pelas suas indicações.

Tendo em conta que neste ano algumas das metas mais importantes, incluindo o crescimento do PIB, não foram mencionadas no relatório e o próprio relatório foi bastante breve, a menção detalhada do acordo comercial entre a China e os EUA pode enviar um sinal claro sobre a grande importância que as autoridades chinesas atribuem ao cumprimento de suas obrigações.

Ainda assim, o conselheiro econômico de Trump diz que o negócio já não tem grande importância para o presidente dos EUA, pois ele estaria supostamente muito irritado com a China por causa do coronavírus e outros problemas.

© REUTERS / Jonathan ErnstPresidente dos EUA, Donald Trump, desembarca de avião presidencial, em Washington, 27 de maio de 2020
Especialista explica por que acordo comercial com China 'não é mais tão importante' para Trump - Sputnik Brasil
Presidente dos EUA, Donald Trump, desembarca de avião presidencial, em Washington, 27 de maio de 2020

Todo mundo se lembra da importância que o acordo comercial tinha para Donald Trump. Alguns especialistas norte-americanos chegaram mesmo a temer que Trump fizesse um acordo que seria desfavorável para os Estados Unidos apenas para assinar formalmente o documento.

Por que Trump mudou sua posição?

Wang Yiwei, diretor do Centro de Estudos Internacionais da Universidade Popular da China, disse em entrevista à Sputnik China que a atitude inconsistente de Trump tem apenas o objetivo de ser eleito para um novo mandato.

"Trump é muito volátil e imprevisível, ele é um comerciante e político tradicional. A mudança de posição de Trump está agora ligada a problemas econômicos domésticos. Ao mesmo tempo, a guerra comercial com a China não apenas falhou em conseguir atingir os objetivos de Trump de devolver a produção aos Estados Unidos e reduzir os desequilíbrios comerciais."

"Ela [também] agravou ainda mais os problemas existentes e, como resultado, a economia norte-americana está em recessão. A China continua comprometida com a implementação rigorosa da primeira fase do acordo e está pronta para tomar medidas práticas para aumentar a aquisição de bens relevantes nos EUA, mesmo com a difícil situação epidemiológica."

Para contrariar isso, diz, o déficit comercial com a China continua aumentando e a popularidade dele está caindo, o que faz o presidente norte-americano querer transferir a culpa para outros para salvar sua popularidade e criar novos tópicos para discussão.

"Em geral, podemos dizer que a situação da economia americana e as mudanças no mundo tornaram Washington muito nervoso", comenta.

Os EUA foram o país mais afetado pela COVID-19 até o momento, com mais de 1,7 milhões de infectados e 100.000 mortos, de acordo com a Universidade Johns Hopkins, EUA. De acordo com as previsões do chefe da Reserva Federal (banco central do país), Jerome Powell, o desemprego nos EUA neste ano pode chegar a um pico de 25%.

No segundo trimestre, segundo a Reserva Federal (o banco central dos EUA), a economia do país norte-americano pode sofrer uma queda de 20-30%. Os resultados anuais ainda são difíceis de prever, mas a maioria dos especialistas concorda que o crescimento será negativo.

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