Dependente do turismo, Portugal lança selo de higiene contra o coronavírus para empresas do setor

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O Turismo de Portugal, órgão do governo responsável pelas políticas do setor turístico nacional, começou a atribuir um novo certificado de qualidade para os empreendimentos da área. O selo Clean & Safe comprova que uma empresa cumpre as medidas de higiene para prevenção contra o novo coronavírus.

Em menos de um mês, 26% de todos os empreendimentos turísticos registrados junto ao governo já tiveram o selo Clean & Safe atribuído. A certificação está disponível para o setor da hospedagem, agentes de animação turística, agências de viagem, bares, restaurantes e áreas de serviço para campismo. Na próxima fase, vão poder pedir o selo empresas de outros segmentos, como cassinos, aeroportos, museus, centros de congresso e até guias turísticos.

Em entrevista à Sputnik Brasil por email (as respostas preservam a ortografia do português europeu), a secretária do Turismo de Portugal, Rita Marques, explica que a certificação vai ser renovável.

"As empresas aderem comprometendo-se a cumprir as exigências, sendo que poderão ser alvo de auditorias no futuro. O selo, que tem validade de um ano, exige a implementação de um protocolo interno que, de acordo com as recomendações da Direção-Geral da Saúde, deve assegurar o distanciamento social e higienização necessária para evitar riscos de contágio e garante os procedimentos seguros para o funcionamento das atividades turísticas", diz a secretária.

O objetivo é passar segurança para os turistas, mesmo que sejam, neste primeiro momento, apenas os próprios portugueses a viajarem pelo país. "O mercado interno alargado é naturalmente o mercado imediato, mas também é natural que neste Verão tenhamos já alguns turistas estrangeiros que nos procuram pois sabem que Portugal é um destino com excelentes ofertas que permitem fazer turismo em condições de segurança. Estamos a preparar-nos para receber os milhares de turistas que estão também desejosos por nos visitar, e contamos também com o mercado Brasileiro, que registava um forte crescimento. Continuará a ser um mercado visto de forma especial por Portugal", diz a secretária Rita Marques.

​Dependência do setor

Portugal, que encontrou no turismo a chave para a retomada da economia nos últimos anos, se vê, hoje, amarrado ao desempenho do setor. No mês passado, o diretor do departamento europeu do Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou sobre a situação, durante uma coletiva de imprensa. Para Poul Thomsen, "a dependência do turismo, a dependência do setor dos serviços, e pequenas e médias empresas, que têm almofadas financeiras limitadas e, por isso, podem ser mais fortemente afetadas no curto prazo" são os maiores fatores de risco econômico para Portugal no cenário da pandemia.

Citando números do Instituto Nacional de Estatística (INE), o geógrafo Paulo Miguel Madeira, da Universidade de Lisboa, que pesquisa as áreas da geografia social e econômica, faz uma análise semelhante à do representante do FMI.

"As atividades turísticas representavam 9,2% do PIB nacional em 2008. Em 2015, era de 12,2% e em 2018 era 14,6%. Os postos de trabalho eram 437 mil em 2014 e estavam perto de 488 mil em 2017. Isto é uma parte muito importante da economia portuguesa nos últimos anos", diz o pesquisador à Sputnik Brasil.

Para Madeira, o maior reflexo da crise causada pela pandemia no setor já é o desemprego, que poderá se manter até o ano que vem. "Com o que já sabemos da situação econômica e das características do vírus, que não haverá vacina em um ano, é de prever que não haja uma retoma muito significativa do turismo no próximo ano. É um cenário que faz pensar que grande parte da população empregada ou ativa vai perder a sua fonte de rendimento durante um período prolongado. Parte dessas pessoas não será sequer abrangida por subsídios de desemprego e portanto tudo o que se perspectiva é uma queda muito prolongada dessa atividade, da receita, com um aumento muito grande do desemprego", analisa o pesquisador.

Investimentos financeiros

De acordo com o governo, o setor do alojamento turístico em Portugal registrou, em 2019, quase 70 milhões de dormidas de hóspedes no país, crescimento de 4,1% em relação a 2018. "Destes, 61% são estrangeiros. Destaco o aumento, nas dormidas, do mercado norte-americano (+20,2%), brasileiro (+13,5%) e irlandês (+9,7%). Começamos 2020 também em aceleração, até começarem a surgir os primeiros efeitos do surto", diz a secretária Rita Marques.

Diante da crise, além de medidas gerais de apoio à economia, com foco na assistência a trabalhadores e recuperação de micro e pequenas empresas, o turismo recebeu verbas específicas. "Inicialmente foi lançada uma linha de crédito no valor de 400 milhões de euros [R$ 2,5 bi], à qual as empresas do setor turístico tinham acesso. Desde 28 de março colocaram-se no terreno 1.700 milhões [R$ 10,6 bi] de euros em linhas específicas de apoio a setores do turismo", explica Rita Marques.

De acordo com a representante do governo, houve ainda reforço significativo para projetos de aceleração e desenvolvimento de startups. A secretária do Turismo reforça que o quadro ainda é "incerto", dependente das atuais restrições de mobilidade, mas se mantém otimista. "Estamos esperançosos de que o processo de desconfinamento gradual correrá bem, e que teremos um Verão com alguma dinâmica do turismo em Portugal. Devo referir que se prevê uma recuperação rápida em 2021", diz Rita Marques.

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