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Com o avanço da COVID-19, Lula teme 'genocídio' no Brasil sob Bolsonaro

© AP Photo / Andrew MedichiniEx-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparece a um encontro em Roma, na Itália
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparece a um encontro em Roma, na Itália - Sputnik Brasil
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que teme um "genocídio" no Brasil por causa da forte oposição às medidas de contenção do novo coronavírus do atual presidente Jair Bolsonaro, a quem ele disse que deveria sofrer um impeachment.

Em entrevista à agência AFP por videoconferência de sua casa, em São Bernardo do Campo (SP), Lula, que atuou como presidente de 2003 a 2010, atacou o ex-deputado federal que agora ocupa o cargo.

"O governo está transformando qualquer um que esteja preocupado com o coronavírus em inimigo, e esse não é o caminho certo. Sou católico, por isso tenho orado para que o povo brasileiro escape deste genocídio que Bolsonaro está causando", declarou.

Ele acusou Bolsonaro de orientar o Brasil para o "caos" com seus apelos para reabrir a economia, apesar do país emergir como um dos mais atingidos pelo novo coronavírus em todo o mundo, com quase 14 mil mortes até agora.

Diante disso, o petista vem defendendo o impeachment de Bolsonaro. A posição é diferente da apresentada por ele em março quando questionado sobre o tema. Perguntado o que mudou de lá para cá, Lula destacou que o presidente cometeu, na sua opinião, crimes graves.

"Não. Eu disse que não devemos tentar impeachment de um presidente que acabara de ser eleito. A pessoa deve ter cometido crimes graves. Agora, na minha opinião, Bolsonaro fez isso. Ele atacou a democracia, as instituições democráticas e o Brasil. Ele nem respeita os que estão morrendo [da COVID-19]. Mas acho que o movimento de impeachment deve vir de algum lugar que não seja um partido político, para evitar qualquer conotação ideológica", avaliou.

O ex-mandatário brasileiro ainda opinou sobre a ampla presença de militares no governo federal. Lula pediu para que eles não tomem partido – o que se choca com o discurso recente de Bolsonaro de que teria as Forças Armadas ao seu lado.

© REUTERS / Michael Dantas Homem chora a morte de avó de 71 anos, vítima da COVID-19, no cemitério Nossa Senhora, em Manaus (AM), 6 de maio de 2020
Com o avanço da COVID-19, Lula teme 'genocídio' no Brasil sob Bolsonaro - Sputnik Brasil
Homem chora a morte de avó de 71 anos, vítima da COVID-19, no cemitério Nossa Senhora, em Manaus (AM), 6 de maio de 2020
"O Exército tem muito a contribuir para a paz e a ordem em nosso país, mas eles não podem tomar partido. O partido deles é o Brasil. Atualmente, há menos civis do que oficiais no palácio presidencial. Eles têm ainda mais influência no governo do que durante o regime militar. Os soldados estão no comando [...]. Nosso país não é um quartel [...] ele deve ser governado da maneira mais democrática possível. Os militares não sabem necessariamente administrar bem a democracia", ponderou o petista.

O ex-presidente de 74 anos foi preso em 2018 sob acusações de corrupção que, segundo ele, foram superadas para impedi-lo de concorrer à Presidência novamente.

Lula ainda respondeu às críticas em torno de uma presença mais firme e nítida como oposição ao atual governo. O ex-mandatário minimizou o fato, alegando que as pessoas estão se dando conta sobre quem é Bolsonaro.

"A esquerda se opõe ao governo todos os dias, no Congresso, nos movimentos sociais e sindicais. A diferença é que não estamos nas ruas. Muitas pessoas que elegeram Bolsonaro só entenderam agora que ele não pôde ser presidente da República. Estou certo de que o direito não está acostumado a apoiar um presidente menos civilizado", sentenciou.

O futuro político da esquerda e do próprio PT, explicou Lula, hoje ainda é difícil de prever. Ele destacou que uma grande aliança esquerdista – como vista no Uruguai em tempos recentes – hoje parece difícil, sobretudo pela quantidade de partidos.

"É difícil imaginar. Você precisa saber a diferença entre construir uma frente mais ampla e uma aliança eleitoral. Se o PT participar de uma aliança, será uma aliança de esquerda. Aqui no Brasil, é difícil imaginar uma frente mais ampla como no Uruguai. Temos mais de 30 partidos, fundos públicos para financiar as campanhas eleitorais de cada partido. Poucos partidos estão dispostos a desistir, os partidos não querem perder a autonomia. Às vezes digo: 'É melhor ir sozinho do que com más companhias'. Isso se aplica muito à política brasileira", concluiu.
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