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Como pandemia da COVID-19 vai impactar setor cultural brasileiro?

© Folhapress / Rivaldo GomesFinalização da montagem do palco e últimos preparativos para o Réveillon da Avenida Paulista
Finalização da montagem do palco e últimos preparativos para o Réveillon da Avenida Paulista - Sputnik Brasil
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Especialistas preveem que shows, espetáculos e eventos só voltarão a acontecer normalmente em 2021, e uma pesquisa da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape) aponta que 580 mil podem ser demitidos no setor em todo o Brasil.

Em pé de guerra com o governo Bolsonaro, os trabalhadores do setor cultural estão no grupo dos mais afetados pela crise e devem ser um dos últimos a começarem a trabalhar livremente com o afrouxamento das medidas de isolamento. Os conflitos com o governo podem prejudicar o auxílio ao setor?

Para Cláudio Torres Gonzaga, comediante, produtor, diretor e roteirista, o isolamento social afetou todas as vertentes artísticas, passando por música, teatro, artes visuais, cinema, televisão e até streaming.

"Está todo mundo impactado com isso, porque, na maior parte do tempo, o nosso trabalho é coletivo. A gente trabalha em grupo, a gente cria em grupo, a gente grava em grupo. Então você fazer sozinho é praticamente impossível", disse o ator para Sputnik Brasil.

Gonzaga comparou a atual situação com "atropelamento" por uma locomotiva, pois todas as produções estariam paralisadas.

"Por mais que as pessoas estejam tentando fazer suas lives, fazer suas coisas por Internet, a criação artística é coletiva e o isolamento deixa a gente muito paralisado", acrescentou.

O artista destacou que a única opção no momento seria "escrever, criar, e desenvolver projetos". Ele afirmou seguir trabalhando na criação de conteúdo, pois essa seria a única maneira real de produção durante o isolamento.

Cláudio Torres Gonzaga afirmou estar muito assustado com a pesquisa da Abrape, que projeta perda de emprego para 580 mil trabalhadores do setor cultural.

O comediante acredita que a recuperação vai ser muito lenta e não acredita na normalização ainda em 2020.

© Folhapress / Caio RochaPabllo Vittar, Festival Live Do Orgulho
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Pabllo Vittar, Festival Live Do Orgulho

"Vamos fazer eventos pequenos, talvez eventos ao ar livre, talvez volte o drive in - os espetáculos assistidos de dentro do carro que em alguns lugares estão sendo retomados - não só para cinema, mas também para shows", ponderou.

Segundo ele, o único fator positivo desta crise seria a promessa de uma busca maior por conteúdo.

"O público consumiu tudo o que está no ar. Uma nuvem de gafanhotos devorando conteúdo. Nada está sendo produzido no momento. Então quando poder ser produzido vai ter uma demanda grande, até porque as pessoas ganharam esse hábito de assistir coisas em função da COVID. Então, quem sabe, quando se retomar a produção também se retomem esses empregos que foram perdidos", disse o entrevistado.

Gonzaga criticou e lamentou a postura do governo, mas ainda tem esperanças na liberação de recursos que estavam programados.

"Esse governo, antes mesmo da COVID, já não se demonstrava muito amigo da cultura no Brasil. Os conflitos são grandes e eu acho que é quase uma revanche, pois grande parte da classe artística não apoiou esse governo. Ele está tratando a gente como inimigo. Eu acho que ele não precisa fazer nada a mais do que estava programado, é só cumprir a lei", afirmou o ator.

Para o entrevistado, o setor vai precisar de apoio para manter esses empregos, "porque se você for contar somente com a iniciativa privada, só contar com as bilheterias, a gente não consegue se manter". Assim, seria necessário um complemento para passar pela tempestade.

"Eu acho que a gente vai precisar, além de liberar aquilo que estava previsto a ser liberado e está preso, vai precisar de investimento porque os teatros e casas de espetáculos vão ter de funcionar, segundo o que está acontecendo nos outros países, com somente um quarto de suas capacidades, porque vão ser obrigados a manter a distância entre uma poltrona e outra, uma fila e outra, e vão ter que se sustentar com um quarto de bilheteria. Então eu acho que o governo vai ter que fazer uma compensação para ter os espetáculos, para manter o emprego das pessoas", concluiu.
© AFP 2023 / Ina FassbenderDrive in na Alemanha
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Drive in na Alemanha

O empresário Doreni Caramori, presidente da Abrape (Associação Brasileira dos Promotores de Eventos), mesmo com uma visão mais positiva do atual governo, concorda com o ator quanto à necessidade de apoio. Para ele, a instabilidade política e as diferenças com o setor público podem prejudicar a cultura.

"Quero registrar que, especialmente no âmbito federal, a gente tem sido recebido de maneira bastante positiva, com um cuidado bastante claro com o setor e com propostas objetivas sendo executadas efetivamente. A gente está bastante satisfeito com isso, apesar de que seria mais tranquilo num cenário de estabilidade concreta", declarou Caramori para Sputnik Brasil.

O empresário disse que o Brasil está acostumado com instabilidade, mas a atual situação, de fato, deve afetar pelo menos 25% dos 2 milhões de colaboradores diretos no setor da cultura que serão demitidos, segundo as previsões da Abrape.

"Há um impacto inicial muito claro, com 100% dos eventos cancelados, com uma redução de receitas que também beira aos 100%, e com uma incerteza muito grande na retomada, que faz com que as vendas para eventos futuros também tenham caído quase 100%. Isso gera um impacto muito negativo na gestão dos nossos negócios", afirmou.

Além dos impactos diretos da atual crise, o presidente da associação manifestou preocupação em relação ao consumidor. Ele ponderou que os procedimentos de segurança, que serão impostos pelo governo ou que serão praticados de forma individual, podem afetar o comportamento das pessoas. O reflexo disso no mercado de eventos ainda é incerto.

No entanto, acrescentou Caramori, as previsões de especialistas para retomada das atividades somente em 2021 não teriam fundamento, pois os "modelos não tem como prever com precisão". "Vai depender se o setor vai ofertar eventos" e se o "consumidor vai querer frequentar os eventos", disse ele.

"Me parece muito prematuro dizer que só haverá eventos no ano que vem. Prematuro e um pouco irresponsável. Tem eventos com capacidade de execução com mais ou menos prazo e com maior ou menor risco de contágio. Um evento que tem rapidez para execução e comercialização e pouco risco de contágio provavelmente vai poder acontecer nos próximos meses", disse o presidente da Abrape.

Já os eventos com maior planejamento e maior risco de contágio terão de ser postergados, segundo o empresário, como no caso das Olimpíadas. Não necessariamente para o ano que vem, acrescentou ele.

"Acho que é possível ter eventos em 2021 sim. Para alguns tipos de evento é muito provável. Mas também acho que qualquer tipo de antecipação neste momento soa de modo amplamente subjetiva", concluiu.

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