Mexicanos expostos à COVID-19: quem paga o preço pela vontade dos EUA de reabertura de fábricas?

© REUTERS / Mike BlakeUm veículo de patrulha de fronteira dos EUA passa pela divisa fronteiriça entre o México e os Estados Unidos em San Ysidro, Califórnia
Um veículo de patrulha de fronteira dos EUA passa pela divisa fronteiriça entre o México e os Estados Unidos em San Ysidro, Califórnia - Sputnik Brasil
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Conflito trabalhista vivido no norte do México deixa em evidência as condições enfrentadas pelos trabalhadores mexicanos expostos ao coronavírus.

Os trabalhadores das empresas fronteiriças carregam o peso da produção transnacional e a pressão externa para trazer de volta a produção de bens não essenciais, a custo de sua saúde.

O ramo da atividade industrial, concentrado nos estados do norte do México, responsável pela produção de peças para automóveis e de elementos para a indústria aeroespacial, não é considerado essencial. Por este motivo, esta atividade econômica deveria ter sido interrompida de maneira obrigatória desde que as autoridades sanitárias mexicanas alertaram sobre o risco da proliferação do coronavírus no país.

Contudo, ainda na metade de abril, somente 141 das 900 empresas do setor na fronteira com o Estados Unidos, entre Mexicali e Tijuana, interromperam suas atividades. Algo semelhante ocorreu na Juárez, onde a empresa norte-americana de peças Lear, que conta com 52 mil empregados no México, concentrou 14 dos falecimentos pela COVID-19 nesta cidade fronteiriça.

Uma pressão externa

Juaréz é considerada centro da origem deste modelo industrial chamado maquila, uma forma de produção que "concentrou o desenho, comercialização e fabricação de componentes estratégicos em países industrializados, enquanto transferiu a montagem de peças a lugares mais baratos", explicou à Sputnik Mundo o economista Huberto Juárez, catedrático da Universidade de Puebla.

"A indústria maquiadora mexicana inundou a zona norte do país, de Tijuana – Baixa Califórnia, ao oeste – à cidade Victoria - em Tamaulipas, no oeste – que em primeira instância gerou um espetacular crescimento de emprego, mas, com tempo, se demonstrou que a maquila depende especialmente do consumo destes produtos nos mercados para onde vai. A indústria maquiadora somente vende produtos destinados a exportar", salientou Juárez.

Isto é particularmente visível no setor de peças de automóveis, como evidenciado pelo caso da Lear, que envia toda sua produção para fábricas de automóveis nos EUA.

"Na indústria automotriz se utiliza a montagem 'just in time' [bem a tempo], que implica o envio aos Estados Unidos durante a noite da produção que se fez no México durante o dia. O sistema está organizado de forma que dispensa armazenamento. Portanto, para poder reativar as montadoras nos EUA, eles precisam que se reativem as partes da indústria automobilística que estão no México", comentou a cientista política Andrea García, especialista em relações trabalhistas, que investigou recentemente as condições precárias nas maquilas mexicanas.

García afirmou que existe um "acordo de reabertura da indústria automobilística no Canadá, EUA e México", que busca que se decrete o setor como essencial para que as fábricas sejam reabertas nas próximas semanas.

"Esta pressão ocorre durante o pico de contágios no México, para que um milhão de mexicanos que trabalham no setor maquilador automobilístico voltem aos centros de fábricas, que basicamente são centros de contágio", salientou à Sputnik Mundo García, que explicou que não há como manter uma "distância razoável" de um metro e meio sem uma reorganização completa do sistema de trabalho, que ainda não foi feita.

"Esta crise está mostrando algo muito importante: que ter um carro não é essencial para ninguém. Nem mesmo ter um celular ou alguns dos 20 produtores dinâmicos que concentram um altíssimo componente tecnológico e seu consumo é massivo, somente são essenciais em termo de lucro capitalista", concluiu Juárez.

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