Cemitério de crânios deformados revela caos após queda do Império Romano (FOTOS)

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Crânio (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Ossadas encontradas na Hungria revelam como cultura local no século V foi impactada por declínio romano e chegada de bárbaros que fugiam dos hunos a uma região abandonada à sua mercê por romanos.

Pesquisadores alemães e húngaros, em estudo publicado em 29 de abril e realizado sobre restos mortais de um antigo cemitério na Hungria, questionam-se se, no surgimento da queda do Império Romano, as tradições romanas se mantiveram, novos costumes surgiram ou ambos se amalgamaram em novas expressões culturais em um ritmo de contínua transformação cultural.

Declínio da romanização

Segundo o portal Ancient Origins, o cemitério estudado é o de Mozs-Icsei dulo, perto de Szekszard, na região da Panônia, da atual Hungria.

Estabelecido por volta de 430 d.C. e abandonado aproximadamente em 470 d.C., o cemitério foi criado no final do Império Romano, quando bárbaros germânicos, pressionados pelos hunos, se instalaram na romanizada Panônia, que tinha sido abandonada pelos romanos à sua sorte.

Os pesquisadores resolveram analisar ossadas do sítio arqueológico de Mozs-Icsei dulo, alvo de pesquisas pela primeira vez em 1961. Arqueólogos procederam a um novo levantamento arqueológico do cemitério, usando uma combinação de análises isotópicas e de antropologia biológica.

Segundo o Ancient Origin, o estudo detectou pela análise das ossadas ondas migratórias de populações que, em busca de refúgio dos hunos, chegaram à Panônia e se integraram à restante população romanizada local, desencadeando um processo de rápidas, mas caóticas transições culturais.

Análise das sepulturas

Foi sobretudo da análise de crânios deformados recuperados do cemitério de Mozs-Icsei dulo que os cientistas obtiveram importantes pistas sobre a vida e a morte durante o período turbulento.

Pesquisadores detectaram uma comunidade antiga notavelmente correspondente a pelo menos três gerações, de três grupos culturais distintos, em 96 sepulturas.

O primeiro grupo correspondia à população local romanizada, com os corpos enterrados em sepulturas de estilo romano forradas a tijolos. O segundo grupo era composto por estrangeiros sepultados após os primeiros. Já o terceiro grupo pertencia a uma cultura posterior, que misturava tradições romanas e estrangeiras.

De acordo com o estudo, as sepulturas dos elementos do segundo grupo ocorreram algumas décadas após as do primeiro, e seus esqueletos mostravam tradições estrangeiras como a modificação artificial do crânio como sua característica mais proeminente.

Teriam sido eles a estabelecer a prática de deformação craniana, porquanto os esqueletos da terceira geração apresentavam os crânios alongados.

Segundo os especialistas, a prática de deformar cabeças, com recursos a bandagens, pode ser datado à era paleolítica, tendo se difundido na Ásia Central no século II a.C., e disseminado depois pela Europa, só chegando à atual Hungria no século V d.C.

Cemitério de crânios deformados revela o caos após a queda de Roma

A deformação craniana artificial, comumente chamada de achatamento da cabeça, é uma antiga forma de alteração do corpo na qual o crânio de uma criança é deformado com blocos de madeira pressionado sob uma força constante, tendo sido praticada em todos os continentes do mundo pré-histórico.

Mozs-Icsei dulo apresenta uma das maiores concentrações deste antigo fenômeno cultural, e que era geralmente reservada às elites sociais.

Recurso a novas tecnologias

Segundo o pesquisador Doug Dvoracek, do Centro de Estudos Isótopos Aplicados da Universidade da Geórgia (EUA) e que não esteve envolvido no estudo, as proporções isotópicas de estrôncio são amplamente utilizadas como indicadores de proveniência, origem residencial e padrões de migração de humanos ancestrais, em um contexto arqueológico, refere o Ancient Origins.

Com base nas medições de isótopos de estrôncio nos esqueletos de Mozs-Icsei dulo, os autores do estudo puderam concluir que a maioria da população adulta ali sepultada viveu em outro lugar durante sua infância e migrou para a Panônia quando adolescente e adulto.

Além disso, os dados dos isótopos de carbono e nitrogênio atestaram a importância do painço na dieta humana. O painço é um cereal cultivado para alimentação humana e forragens.

Sem glúten e com elevados níveis proteicos, de antioxidantes e de fibras, o painço assegurava ossos mais fortes, músculos maiores, guerreiros mais duros e agricultores mais em forma.

Apesar de a pesquisa arqueológica e antropológica na Hungria prosseguir, a aplicação de novas tecnologias já permitiu aos cientistas apurar que, após o declínio do Império Romano, surgiu uma nova cultura local na Panônia, que combinava residentes locais romanizados e bárbaros imigrantes e que era dona de novos rituais e tradições de sepultamento.

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