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Especialista: Mourão evidencia expectativa de aproximação com China no setor aéreo

© AP Photo / Michel EulerEmbraer E195-E2
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Ao sugerir que a Embraer poderia buscar uma parceria com a China após rompimento do acordo com a Boeing, o vice-presidente brasileiro refletiu expectativas bilaterais de aproximação no setor aéreo, acredita especialista ouvida pela Sputnik.

No último sábado (25), a Boeing anunciou a rescisão do contrato com a Embraer para a criação de joint ventures na área de aviação comercial e desenvolvimento de novos mercados para o avião de transporte C-390 Millennium, alegando que a companhia brasileira não teria atendido às condições necessárias.

Entre outras coisas, a parceria estabelecia que a empresa norte-americana compraria a divisão de jatos comerciais da Embraer por US$ 4,2 bilhões, mas acabou cancelando o acordo na última hora. Segundo a parte brasileira, ao contrário do que a Boeing havia afirmado, o motivo real seria falta de vontade em concluir a transação e também falta de recursos financeiros, por conta da retração do mercado provocada pela pandemia da COVID-19 e problemas envolvendo a polêmica aeronave 737 MAX, que teve sua utilização suspensa após uma série de acidentes. 

​Nesta semana, ao comentar o fim do acordo entre as duas empresas, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse que "há males que vêm para bem" e que, se a companhia americana não estava mais disposta a seguir adiante com o contrato, talvez, a Embraer pudesse buscar outra parceria, na China, por exemplo, que amplia sua atuação na aviação doméstica.

Embora as declarações de Mourão tenham sido criticadas por apoiadores do governo de Jair Bolsonaro, que, assim como o presidente brasileiro, defendem um alinhamento maior com os Estados Unidos, em detrimento de outros países, não se pode ignorar, como refletido no pensamento do vice-presidente, o fato de que a China vem sendo o principal parceiro comercial do Brasil na última década, "superando a posição figurada pelos EUA no passado", destaca a cientista política Ariane Roder, professora na área de negócios internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

​"Além disso, sobretudo em governos anteriores, o Brasil também passou a ter a China como parceiro estratégico, compondo conjuntamente os BRICS. Sendo assim, não há como ignorar nem a posição que a China ocupa em nossa política externa tampouco o tamanho e a potência que representa esse país para o mundo", disse a especialista em entrevista à Sputnik Brasil.

De acordo com Roder, apesar da posição de aproximação preferencial com os Estados Unidos assumida pelo atual governo brasileiro, chegando a figurar como "alinhamento subordinado", isso, na prática, não exclui estreitamentos com outros parceiros, sobretudo pelo fato de o Brasil "não estar recebendo reciprocidade por parte dos Estados Unidos dessas concessões realizadas".

"Essa segunda opção de parceria para a Embraer que traz Mourão em seu pronunciamento representa um pouco deste retrato: 'Se você não me quer, tem quem queira'", explica a acadêmica.

Há muitos fatores, segundo a professora, envolvidos nesse caso da Boeing com a Embraer, com essa ruptura tendo muito mais a ver com "fatores endógenos à empresa" americana: reestruturação da gestão e impactos da crise derivada da pandemia na saúde financeira da Boeing (e da aviação civil como um todo) e nos seus projetos de expansão, indica Roder.

Mas, mesmo que esse rompimento não tenha a ver com questões relacionadas aos laços diplomáticos entre Brasil e Estados Unidos, a sugestão de Mourão, de recorrer a Pequim nesse momento, reflete, para a especialista, expectativas bilaterais de Brasil e China de aproximação nessa área.

"No ano passado, houve um encontro entre os setores da aviação civil de Brasil e China, com trocas de experiências, parcerias e iniciativas de cooperação, sobretudo na área de defesa, demonstrando um interesse mútuo de avançar nessa pauta comum. Nesse sentido, quando Mourão cita a China, também está levando em consideração esse histórico de aproximação da área de aviação, e as expectativas bilaterais nesse avanço do diálogo."

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