Werwolf era o Daesh da época, conta participante involuntário da milícia nazista de 1945

© AP PhotoCrianças alemãs em uniforme da milícia nacional Volkssturm (Tormenta do povo), abril de 1945
Crianças alemãs em uniforme da milícia nacional Volkssturm (Tormenta do povo), abril de 1945 - Sputnik Brasil
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No dia 1º de abril de 1945, um oficial da SS (organização paramilitar ligada ao partido nazista) anunciou aos estudantes de uma escola de Altenberg sobre a criação de uma milícia chamada Werwolf (Lobisomem).

O recrutamento de adolescentes para o serviço militar tinha começado ainda mais cedo.

"Eu e os meus colegas da escola fomos vítimas do abuso", relata Christoph Adam os últimos dias da guerra. O objetivo de Werwolf era espalhar o terror e isso tinha determinadas consequências.

Na primavera de 1945 Christoph Adam tinha 15 anos, pouco tempo antes ele tinha sobrevivido, juntamente com seus pais e irmão de 3 anos de idade, o horror dos bombardeios de Dresden pelas forças aéreas americana e britânica.

Sua família teve que fugir de sua cidade natal e estabeleceu-se em Altenberg. Foi aí que Adam testemunhou os últimos dias da Segunda Guerra Mundial, viu com seus próprios olhos os horrores cometidos pelos nazistas e a chegada das tropas soviéticas em maio.

Crianças-soldados para o Fuhrer

Em março o jovem Christoph Adam, após sua fuga de Dresden, começou a frequentar "regularmente" a escola de Altenberg. No dia 25 de março de 1945, um domingo, na escola foi realizada uma cerimônia especial – o recrutamento de jovens para Wehrmacht (nome das Forças Armadas da Alemanha nazista).

"A partir daquele momento, nós, estudantes, viramos soldados", conta Christoph Adam, de 90 anos de idade, em entrevista à Sputnik Alemanha. Ele mora de novo na sua cidade natal de Dresden.

Segundo ele, há 75 anos a "iniciação como soldados" teve um enorme impacto nos adolescentes. "Para nós, alunos escolares, isso significava que a partir de abril teríamos três horas de escola de manhã e treino de tiro depois do almoço. Estávamos treinando com munição real, não havia munições de salva. E em cada disparo nós, rapazinhos franzinos, sentíamos um recuo poderoso."

Além disso, os alunos cavavam trincheiras e valas, às vezes eram sobrevoados por aviões que disparavam contra eles, "seriam provavelmente caças ingleses. Eles voavam a uma altura baixa sobre o bosque a oeste da estação de trem de Altenberg, disparando a torto e a direito", conta Adam.

Os rapazes estavam literalmente em campo aberto, onde havia escassas árvores e arbustos, era aí que os "pequenos soldados" se escondiam durante os ataques aéreos, que eram totalmente inesperados para eles, sendo que havia muito tempo que não soavam sirenes de alerta aéreo.

Criação da milícia Werwolf

Segundo Christoph Adam, no dia 1º de abril, Domingo de Páscoa, na cidade tinha sido anunciada a criação da milícia Werwolf. Para o jovem Christoph, no dia 4 de abril começou a "operação militar", basicamente era um serviço em uma milícia como Hitlerjugend (Juventude Hitlerista) só que havia treino de tiro.

O dia em que foi anunciada a criação da milícia Werwolf ficou gravado para sempre na memória de Christoph Adam, porque foi quando chegou à cidade de Altenberg, vindo de Berlim, um alto oficial da SS – Harry Schmidt. O oficial disse que todos os alunos do ensino médio, daí em diante eram obrigados de cumprir o serviço militar. Segundo Adam, seus colegas de outra turma (a turma paralela) foram enviados na sua totalidade para a Boêmia, e desde então ele não teve notícias deles. "Provavelmente, muitos deles morreram" afirma Adam.

Confusão total

"Nós éramos apenas crianças, não entendíamos nada. Era uma confusão total, nós nos orientávamos pelas placas [afixadas] e por aquilo que nos diziam os adultos. Não tínhamos rádio, não sabíamos o que estava acontecendo na frente de batalha, por onde avançavam as tropas soviéticas e o que era essa Werwolf. Disseram-nos que tinham de acreditar até ao fim no Terceiro Reich e que tínhamos de aguentar. Era como se estivéssemos cegos", lembra-se.

Tal como no Daesh

Adam não tinha a menor ideia sobre o que era Werwolf. Na verdade, isso era uma organização nazista que tinha como objetivo realizar atos terroristas durante e após a guerra, tal como faz agora o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países). Em outras palavras, os membros da Werwolf deveriam ajudar o Wehrmacht se envolvendo em atividade subversiva clandestina.

"Nós, os jovens, também tínhamos que participar disso. Mas muitos, como se estivessem cegos e sabendo apenas aquilo que nos diziam, aderiram à milícia voluntariamente. Tal como os jovens e crianças que se juntam às fileiras do Daesh e que executam ataques terroristas, pensando que estão a fazer o bem. Também nessa época muitos jovens pareciam estar cegos – eles sofreram 'lavagem cerebral'. Isso foi uma instrumentalização de crianças e adolescentes – eles foram abusados", afirma Adam.

Desde 1945, Christoph Adam nunca mais pegou em uma arma. Atualmente ele participa ativamente em atividades educacionais, falando aos jovens sobre os horrores da guerra para que isso nunca mais se repita.

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