Coronavírus: medo exacerbado pelo continente africano?

© AP Photo / Themba HadebePoliciais e enfermeira com máscaras contra o coronavírus na África do Sul
Policiais e enfermeira com máscaras contra o coronavírus na África do Sul - Sputnik Brasil
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"O vírus poderá deixar milhões de mortos na África", esta é a profecia das Nações Unidas seguida por previsões da OMS e especialistas.

Ainda que inicialmente ela não devesse vir a público, uma nota diplomática francesa intitulada "O efeito pangolim: a tempestade que vem da África?" circula nas redes sociais. Esta nota procede do Centro de Análise, Previsão e Estratégia (CAPS, na sigla em francês), um centro diretamente ligado ao Ministério das Relações Exteriores da França.

Não se brinca com a morte

Desde o título, que fica mal em uma nota diplomática, é manifestado um tom forte, comenta em um artigo para a Sputnik França Leslie Varenne, diretora do Instituto de Vigilância e Estudo das Relações Internacionais e Estratégicas. "O efeito pangolim" considera como fato consumado que a pandemia afetará fortemente a África. Os autores garantem que uma "onda de choque se aproxima" e apostam em "um número demasiado elevado de mortes".

Após 10 dias de sua publicação, a propagação do coronavírus não tomou o continente da forma esperada pelos "especialistas". O secretário-geral da ONU declarou que "a doença está se desenvolvendo rapidamente também na África, portanto, é necessária uma mobilização gigantesca. Sem esta mobilização internacional, sem esta "prioridade absoluta", António Guterres teme por "milhões" de mortos.

Em seu artigo, Varenne analisa que muitos "especialistas" cometem o mesmo erro: consideram a África sempre como uma entidade, sem considerar individualmente cada um dos diferentes países africanos. Assim como na Europa e Ásia, existem grandes diferenças de país para país de um mesmo continente nas respostas contra a pandemia.

A noite não é tão escura

Os cinco países mais afetados – África do Sul, Argélia, Marrocos, Egito e Camarões – contam somados com mais de 6 mil casos. Evidentemente, sempre é possível imaginar que estes Estados realizem poucos testes, portanto, os números não retratariam a realidade.

Contudo, os Estados africanos não têm interesse em minimizar o número de contaminados, pois contam com o auxílio internacional que seria prestado, de forma que não seria útil ocultar os dados caso a doença se propague massivamente.

© REUTERS / NIAID-IRFMicrofotografia de partículas de coronavírus na célula de uma pessoa infectada
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Microfotografia de partículas de coronavírus na célula de uma pessoa infectada

As razões que explicam porque a COVID-19, até o momento, afetou pouco o continente africano são pouco conhecidas. Ainda assim, várias hipóteses são consideradas: imunidade graças a anticorpos adquiridos para se proteger de bactérias em circulação; a juventude da população; a vacina contra a tuberculose, ainda obrigatória em vários países africanos e que poderia, segundo estudos realizados atualmente, proteger do coronavírus, etc.

Além disso, não é possível esquecer que a África já lidou com outra grande epidemia: a ebola. Os governos e populações africanas conhecem epidemias e apresentam frequentemente imunidade adquirida.

Este documento diplomático revela a falta de conhecimento sobre a África, ignorando a resiliência de seus povos, solidariedade familiar, capacidade de adaptação de seus cidadãos frente a dificuldades. Para entender a África moderna, é necessário um olhar crítico e pragmático, estudando caso a caso de um continente que pode nos revelar muito sobre como lidar contra o coronavírus.

Os olhos do mundo se voltam ao continente africano.

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