EUA poderiam ser a 1ª vítima do choque petrolífero?

© REUTERS / Angus MordantSol se põe por trás de uma de bomba de petróleo bruto em uma plataforma de perfuração em Permian Basian, no Condado de Loving, Texas, EUA, 24 de novembro de 2019 (foto de arquivo)
Sol se põe por trás de uma de bomba de petróleo bruto em uma plataforma de perfuração em Permian Basian, no Condado de Loving, Texas, EUA, 24 de novembro de 2019 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Embora os preços do petróleo estejam recuperando um pouco, EUA, Rússia e Arábia Saudita, os três maiores produtores mundiais, ainda não acordaram reduzir a produção, prejudicando sobretudo os EUA.

Em declarações à Sputnik França, Francis Perrin, especialista em energia do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas da França (IRIS, na sigla em francês) questiona se este cenário de falta de entendimento sobre os níveis de extração do ouro negro não poderia prejudicar sobretudo o petróleo de xisto norte-americano.

Em 1º de abril, a gigante estatal saudita Saudi Aramco atingiu o seu recorde de produção, com 18,8 milhões de barris de petróleo. Para o especialista, tal fato não pode ser visto como um bom sinal pelas economias mundiais e pelos mercados financeiros, em período de diminuição da demanda.

A sobreprodução de petróleo bruto e o arrefecimento econômico global levaram a uma queda do preço do petróleo Brent, do mar do Norte, para US$ 20 (R$ 105,38) por barril em 30 de março.

Idêntico cenário foi verificado com o WTI do Texas, a valer US$ 22 (R$ 115,92) por barril, contra os US$ 61 (R$ 321,4) em inícios de janeiro.

Demanda e oferta

A queda vertiginosa do preço do petróleo se deve a duas grandes razões, segundo o especialista, tendo a primeira a ver com o fracasso da cúpula OPEP-ONU em 6 de março, com a recusa dos produtores em reduzir sua produção. A Arábia Saudita, por sua vez, desejando manter sua cota de mercado, aumentou sua produção quase para o dobro, provocando excedentes no mercado e queda do preço.

Por outro lado, ocorre uma diminuição da demanda de petróleo bruto, motivada pela pandemia. Para Francis Perrin, estamos assistindo a um choque entre a oferta e a demanda.

Contudo, vemos agora uma subida relativa dos preços, com o Brent aumentando para US$ 27 (R$ 142,26) em 2 de abril. Como se pode explicar isto?

Em uma conversa telefônica em 30 de março, Vladimir Putin e Donald Trump levantaram esta questão. Um comunicado de imprensa da Casa Branca anunciou que os dois líderes concordaram "sobre a importância da estabilidade no mercado internacional de energia".

Donald Trump conversou também com Mohammad bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, com quem afirmou ter "tido uma grande conversa", embora Riad tenha anunciado que está pronta para inundar o mercado.

Em uma reviravolta em 2 de abril, vários tweets de Donald Trump anunciaram que Vladimir Putin e Mohammad bin Salman tinham falado ao telefone, mencionando mesmo um acordo sobre uma baixa de 10 milhões de barris da produção.

O anúncio provocou um aumento de 30% nos preços durante o dia. Mas a informação seria imediatamente desmentida pelo porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, que informou não estarem previstas conversações.

Embora admita que estes contatos diplomáticos ao mais alto nível entre os três maiores produtores mundiais possam estar tendo um efeito positivo no aumento dos preços, Francis Perrin acredita que é necessário mais diálogo para contrariar o impacto da enorme redução da demanda.

Alerta, contudo, que a redução da produção mundial enviaria um sinal positivo adicional aos mercados, mas não seria suficiente para os equilibrar.

Petróleo de xisto

A queda dos preços é benéfica para os importadores, mas é relevante analisar as consequências desta deflação drástica para as economias das três principais potências petrolíferas mundiais.

Dependentes das exportações de petróleo, Riad e Moscou dispõem, no entanto, de reservas cambiais significativas. Durante um discurso na televisão, em 2 de abril, Vladimir Putin afirmou que se trata de um desafio sério para a economia russa, referindo também a preocupação norte-americana, cuja rentabilidade da extração de seu petróleo de xisto variaria em torno de US$ 40 (R$ 210,76) o barril.

O especialista questiona: será que a estratégia de sobreprodução de Riad pretenderia minar a cota de mercado dos EUA e o desejo de Donald Trump de independência energética de seu país?

Os EUA estão se tornando um exportador líquido de petróleo bruto, mas a indústria petrolífera americana é muito mais frágil, sendo formada por uma rede de pequenas, médias e gigantescas empresas, como a Exxon Mobil ou a Chevron, estando muitas delas muito expostas aos caprichos do mercado.

Para Perrin, a extração de petróleo de xisto americano é também mais dispendiosa. Para ser rentável, o preço de um barril de petróleo americano deve ser, pelo menos, de US$ 50 (R$ 263,45). Para agravar a situação, o setor está muito endividado, com US$ 86 bilhões (R$ 453,13 bilhões) a reembolsar nos próximos quatro anos.

Francis Perrin prevê, assim, o fechamento de muitas empresas, mas a médio prazo, por muitas delas seguirem trabalhando "com contratos que foram assinados a preços mais elevados".

Além disso, "existem mecanismos de cobertura nos mercados de futuros que têm permitido às empresas petrolíferas, especialmente as norte-americanas, fazer a cobertura de risco através da assinatura de determinados contratos, que as protegeriam financeiramente durante vários meses", completou o analista.

Em 3 de abril está prevista uma reunião entre os produtores e o presidente dos EUA. Em sua coletiva de imprensa diária, Donald Trump manifestou a intenção de proteger a indústria petrolífera dos EUA, assegurando, sem especificar, que saberia como resolver o problema.

Para Perrin, a pretendida independência energética dos Estados Unidos seria adiada para 2021 ou 2022, continuando a atual tendência de produzir mais, importando menos.

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