Nem coronavírus impede incursões do Exército de Israel na Cisjordânia, diz responsável palestino

© REUTERS / Mustafa GaneyehPraça Manger fora da Igreja da Natividade em meio à propagação do coronavírus
Praça Manger fora da Igreja da Natividade em meio à propagação do coronavírus - Sputnik Brasil
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Ibrahim Melhim, um porta-voz da Autoridade Palestina, reconheceu os esforços israelenses para conter o coronavírus no país e na Palestina, mas critica as imparáveis incursões contra os palestinos.

O primeiro-ministro palestino Muhammad Shtayyeh anunciou no domingo (22) o fechamento parcial da Cisjordânia, durante as próximas duas semanas, em uma tentativa de impedir a propagação do coronavírus que já infectou mais de 59 pessoas.

Apesar do número de pacientes com coronavírus ser muito menor na Autoridade Palestina (AP) do que em Israel, onde o número de infectados ultrapassa o milhar, Ramallah ainda optou por introduzir uma série de medidas rigorosas, que incluem o fechamento de bancos, órgãos públicos e instituições governamentais, bem como severas limitações à circulação.

Espera-se que a população fique em casa, a menos que procure serviços essenciais, como alimentação e medicamentos.

Além disso, foi pedido aos que vêm do exterior que se coloquem em quarentena por 14 dias, e a AP prometeu penas, incluindo multas e detenção, para os que violem as instruções.

De pé, mas procurando ajuda

"Nesta fase, estamos nos concentrando em medidas de precaução para conter a propagação do vírus. Embora tenhamos as equipes médicas, não será [mesmo] suficiente [se a situação continuar se deteriorando], especialmente dado o fato de que temos uma escassez de medicamentos e equipamentos médicos", disse Ibrahim Melhim, um porta-voz da Autoridade Palestina, à Sputnik Internacional.

Mas os palestinos também vão precisar de assistência financeira. Na quinta-feira (19), o Ministro das Finanças israelense, Moshe Kahlon, assinou um decreto permitindo a transferência de cerca de US$ 33 milhões (R$ 168,3 milhões) do dinheiro dos contribuintes palestinos para a AP, em uma tentativa de manter seu sistema de saúde a funcionar.

Isto é particularmente útil dado que os palestinos já não podem ser tratados nos hospitais israelenses, não só devido à atual crise do coronavírus, mas também devido a uma disputa que eclodiu em março passado em torno da transferência de receitas fiscais para Ramallah.

© AP Photo / Nasser NasserUm artista pinta um mural gigante da ativista palestina Ahed Tamimi em parte da barreira de separação israelense, na Cisjordânia.
Nem coronavírus impede incursões do Exército de Israel na Cisjordânia, diz responsável palestino - Sputnik Brasil
Um artista pinta um mural gigante da ativista palestina Ahed Tamimi em parte da barreira de separação israelense, na Cisjordânia.

Antes do desacordo, a AP estava pagando cerca de US$ 100 milhões (R$ 509,8 milhões) pelas contas médicas dos palestinos em Israel a cada ano, tendo os hospitais israelenses tratado cerca de 50.000 pessoas em 2019.

Depois que a opção de obter assistência médica em Israel foi removida, o premiê palestino apelou aos médicos israelenses que trabalham na Cisjordânia para trabalhar voluntariamente nos hospitais palestinos como forma de economizar nos custos de enviar pacientes para Israel.

Apesar de o convite de Shtayyeh ter sido aceito pelos Médicos pelos Direitos Humanos, uma ONG israelense que reúne cerca de 3.500 profissionais de saúde e voluntários e que presta assistência aos palestinos, as chances desses médicos poderem agora entrar e sair da Cisjordânia são quase inexistentes.

Apertando o cerco

Além de Belém, que foi fechada por quase três semanas devido ao surto do vírus lá, Israel também decidiu impor um fechamento total da Cisjordânia a partir de domingo (22). O governo permitiu que apenas os palestinos empregados em Israel na construção entrassem no Estado judeu e permanecessem aí por um período de até dois meses, desde que não tivessem mais de 50 anos e obtivessem as licenças necessárias.

Relatos sugerem que a decisão de excluir os trabalhadores da construção não foi motivada apenas pelo desejo de evitar o colapso do setor de construção em Israel, que depende quase inteiramente dos trabalhadores palestinos, mas também para minimizar o golpe para a já frágil economia palestina.

De acordo com estimativas, os 150.000 trabalhadores palestinos empregados diariamente na construção e agricultura em Israel arrecadam mais de US$ 300 milhões (R$ 1,53 bilhão) por mês. Prejudicar sua possibilidade de trabalhar seria devastador para eles em termos econômicos.

Por essa razão, a decisão de permitir que trabalhadores de construção permaneçam em Israel, algo que é proibido sob circunstâncias normais, foi bem recebida pelas autoridades palestinas, com o premiê palestino apelando a Tel Aviv para fornecer a estas pessoas as condições humanitárias necessárias.

Israel já anunciou que seria responsabilidade dos empregadores alojar esses palestinos e fornecer-lhes a assistência necessária durante toda sua estadia.

"Temos uma coordenação muito forte e constante com o lado israelense para evitar que o coronavírus se espalhe", disse Melhim, referindo-se às medidas tomadas por ambos os lados.

"Ao mesmo tempo, Israel continua operando nos Territórios Palestinos como se não houvesse crise do coronavírus", referiu.

"Eles [forças israelenses] continuam suas incursões pela Cisjordânia, prendendo pessoas e confiscando terras, e isso prejudica a coordenação existente entre a AP e Israel, colocando um fardo adicional sobre a Autoridade Palestina", concluiu o porta-voz da AP.

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