EUA não vão 'desistir' de bases afegãs para conter Rússia, China e Irã, adverte ativista pela paz

© REUTERS / Baz RatnerSoldados do Exército dos EUA disparam de um morteiro em Kandahar, Afeganistão (foto de arquivo)
Soldados do Exército dos EUA disparam de um morteiro em Kandahar, Afeganistão (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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Na opinião de Kathy Kelly, coordenadora de um programa pela paz, os norte-americanos mudaram ligeiramente de estratégia, mas terão planos a mais longo prazo para o Afeganistão.

Poucos dias depois de ter sido assinado um acordo de paz que veria as forças dos EUA saírem do Afeganistão, um ataque aéreo norte-americano atingiu posições do Talibã (organização terrorista proíbida na Rússia e vários outros países) em meio a uma série de ataques dos militantes. Contudo, uma ativista pela paz disse à Sputnik que está céptica que Washington vá desistir de uma localização tão central relativamente a países com os quais os Estados Unidos estão lutando.

Dois ataques do Talibã em Kunduz, nordeste do país, mataram na quarta-feira (4) 20 soldados e policiais afegãos, informou a Sputnik Internacional. O ataque se seguiu a outros 43 contra as tropas afegãs em Helmand, no sul do país, no dia anterior. Em resposta, as forças dos EUA no Afeganistão levaram a cabo um ataque aéreo às posições do Talibã.

No entanto, o acordo de paz foi entre os Estados Unidos e o Talibã, não entre o grupo militante e o governo afegão, o que significaria que foram os EUA que quebraram o acordo e não o Talibã.

Ativista pela paz

Kathy Kelly, coordenadora desde 2005 do programa pela paz Vozes para a Não-Violência Criativa (Voices for Creative Nonviolence, em inglês), disse à Sputnik na quarta-feira (4) que ainda que a estratégia dos EUA esteja claramente se afastando da Guerra ao Terror, a posição central das bases dos EUA no Afeganistão em relação ao Irã, Rússia e China, todos eles possíveis futuros adversários militares, torna o Afeganistão um local demasiado valioso para se desistir dele.

"Deve ter sido um pouco embaraçoso para o governo afegão perceber que uma guerra que está em curso, quero dizer, eles estão em guerra há 40 anos, mas eles estão nesta guerra tendo os Estados Unidos invadido seu país desde [...] 2001, e eles [o governo afegão] não estão sequer envolvidos nas negociações de paz", disse ela à agência.

"Mas também temos que reconhecer que o governo afegão agora é constituído por grandes senhores da guerra, cujos crimes contra a humanidade deveriam tê-los levado ao banco dos réus em Haia ou sob algum tipo de escrutínio internacional, porque o governo [do presidente afegão] Ashraf Ghani claramente não está interessado em escrutinar aqueles que cometeram crimes de guerra terríveis", observou Kelly.

"E eles ainda estão aceitando-os: [Sirajuddin] Haqqani é alguém que tem sido um criminoso notório, e ele está sendo aceito para uma nova formação de governo. Depois há Abdullah Abdullah, que diz que [...] tem um governo paralelo, porque disse que as eleições foram roubadas."

"Portanto, não há uma governança realmente confiável decorrendo no Afeganistão, mas parece que Ashraf Ghani poderia impedir a liberação" de 5.000 prisioneiros talibãs, que foi prometida no acordo de paz violado, constatou a coordenadora do Vozes para a Não-Violência Criativa.

Dificuldades em sair da região

"Houve 76 ataques talibãs em 24 províncias diferentes desde que o acordo foi assinado, e parece que o único grupo que aparentemente seria capaz de determinar o que é uma diminuição da violência seriam os representantes dos EUA na elaboração do acordo com o Talibã. De alguma forma cabe aos EUA decidir o que é uma diminuição adequada da violência. Portanto, suponho que as palavras não parecem ter muita importância."

Kelly disse que Donald Trump "quer dar a ideia que cumpriu uma promessa eleitoral, e imagino que isso signifique muito para ele. Ele tinha prometido que acabaria com a guerra no Afeganistão".

"Mas o que significa precisar de 14 meses para cumprir a retirada das tropas e o chamado acordo?" perguntou ela, observando que "muitas guerras terminam antes de terem passado 14 meses".

"Não gosto de ser puramente cínica, mas há grandes empresas fabricantes de armas que talvez não tenham se reconvertido para combater nos tipos de guerras em que parece que os Estados Unidos vão procurar combater em um futuro bastante próximo", observou Kelly. "E será que elas vão simplesmente desistir de todos os investimentos e dos lucros que têm feito com a guerra contínua no Afeganistão?"

"Depois, se os Estados Unidos pretendem fazer guerra contra o Irã, essas grandes bases no Afeganistão vão ser muito importantes. E se os Estados Unidos estão planejando fazer guerra com a Rússia, ou com a China, ou com ambas, então as principais bases no Afeganistão continuam a ser importantes", raciocinou Kathy Kelly.

"Portanto, é muito difícil para mim imaginar que eles digam: 'Ah bem, vamos simplesmente fechar essas bases, vamos trazer as tropas para casa, não vamos continuar com os empreiteiros militares'". Segundo a ativista, não encontra estes últimos "em nenhum lugar do acordo" assinado com o Talibã.

Nova estratégia dos EUA

Kelly observou que o drone MQ-9 Reaper, também chamado de Predator B, que matou o general Qassem Soleimani no Iraque no início deste ano, "deu uma fortuna para [o empreiteiro] General Atomics, mas agora os drones Predator foram cancelados" pela Força Aérea dos EUA. Isto, observou ela, representou uma viragem para a luta contra países "que podem ripostar".

No entanto, Kelly salientou que Ghani conseguiu que os EUA concordassem em acabar com seus "pequenos ataques de operações especiais", algo que a CIA tem vindo a ensinar à Direção Nacional de Segurança do Afeganistão para combater as forças talibãs. Ela caracterizou suas atividades como "desaparecimentos, torturas e incursões noturnas".

"Este é o que eu imagino seria o tipo de guerra que os Estados Unidos poderiam continuar no Afeganistão, com riscos e custos relativamente menores para os Estados Unidos", concluiu Kelly.

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