Como OTAN luta contra doutrinas russas 'inexistentes'?

© AP Photo / Alastair GrantManifestantes protestam contra a visita de Trump e contra a reunião da OTAN, em Londres, em dezembro de 2019
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Aliança Atlântica toma medidas para combater dois supostos conceitos conhecidos como "escalar para desescalar" e a "doutrina Gerasimov".

A OTAN intensificou ultimamente a "luta" contra duas doutrinas militares atribuídas à Rússia que, segundo Moscou, simplesmente não existem, expõe o jornal russo Kommersant, que cita fontes militares, tanto russas como do bloco.

Segundo o jornal, durante uma recente reunião com o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, no marco da Conferência de Segurança de Munique, o chanceler russo, Sergei Lavrov, propôs restaurar o diálogo regular ao nível dos militares.

© AP Photo / Francisco SecoSecretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, conversa com o presidente dos EUA, Donald Trump, durante o encontro dos líderes dos países da OTAN na cidade de Watford, Reino Unido
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Secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, conversa com o presidente dos EUA, Donald Trump, durante o encontro dos líderes dos países da OTAN na cidade de Watford, Reino Unido

Porém, a Aliança somente se mostrou disposta a continuar com a comunicação a nível político dentro do Conselho Rússia-OTAN. De fato, um alto representante da OTAN revelou em declarações ao Kommersant que desde 2014 todo o pessoal militar do bloco, exceto o comandante supremo para Europa e o presidente do Comitê Militar, está proibido de discutir temas de segurança com seus colegas russos.

Portanto, uma vez que se encontram em algum evento, somente podem "falar de temas abstratos, do tempo ou de esportes".

Em Moscou, por sua parte, creem que a falta de comunicação a nível militar ameaça provocar uma desconfiança mútua ainda maior e interpretações incorretas das intenções de cada parte. Segundo fontes do jornal russo na chancelaria e no Ministério da Defesa da Rússia, essa tendência já é evidente, pois a OTAN está tomando medidas cada vez mais ativas para contrapor duas supostas doutrinas russas.

'Escalar para desescalar'

Em 4 de fevereiro, os Estados Unidos embarcaram pela primeira vez mísseis balísticos com ogivas nucleares de baixa potência em seus submarinos. O então subsecretário de Defesa, John Rood, explicou que a medida era necessária para dissuadir a Rússia que, segundo ele, acredita que o uso de armas nucleares de baixa potência daria uma vantagem sobre Washington.

Em 2019, os EUA adotaram uma doutrina intitulada "Operações Nucleares", que admite a possibilidade de usar armas nucleares para mudar o curso de conflitos armados convencionais. No momento de explicar a necessidade de reduzir o limiar para o uso destas armas, o Pentágono argumentou que a Rússia já havia começado a desenvolver cenários para um ataque nuclear limitado.

  • Do que se trata?

Na OTAN esta suposta doutrina russa é conhecida como "escalar para desescalar". Segundo especialistas militares ocidentais, Moscou, supostamente, crê que o primeiro uso de armas nucleares serviria para "desescalar" um conflito convencional em termos favoráveis para a Rússia se considerar que está a ponto de ser derrotada. A suposta adoção desta doutrina pelo Exército russo foi anunciada pela primeira vez por funcionários norte-americanos em 2015, e desde então se converteu em um "axioma" no Ocidente, indica o artigo.

  • Existe ou não?

Segundo enfatiza o Ministério de Defesa russo, a doutrina militar nacional inclui o princípio de "dissuasão nuclear defensiva", que estabelece que o uso de armas nucleares só é possível em resposta a um ataque nuclear contra o país. "O uso de armas nucleares em uma guerra com meios de destruição convencionais é considerado como uma medida excepcional forçada quando é impossível deter a agressão e preservar a soberania do Estado com outras forças e meios disponíveis", salientou o Ministério da Defesa.

Desta forma, "a declaração sobre o princípio de 'escalada para a desescalada', supostamente consagrado na doutrina militar russa sobre o uso de armas nucleares, não corresponde à realidade e é uma distorção deliberada da mesma", assegurou a entidade ao Kommersant.

Contudo, as fontes da Aliança Atlântica consultada pelo diário não se mostram convencidas. "O fato de que os documentos oficiais russos não mencionam este tipo de ataque não significa que a Rússia não esteja trabalhando em tais cenários", comentou uma fonte na sede da OTAN, agregando que "os eventos recentes mostram que a Rússia vê a OTAN como uma ameaça chave e não temos direito de ignorá-la".

'Doutrina Gerasimov'

Paralelamente, a OTAN começou a tomar medidas mais ativas contra a "ameaça híbrida" russa, supostamente baseada na chamada "doutrina Gerasimov" sobre formas não militares de alcançar objetivos políticos e estratégicos, segundo revela a declaração da cúpula da OTAN de dezembro de 2019.

Ainda que a "doutrina Gerasimov" não seja mencionada neste documento, o termo é utilizado por muitos representantes oficiais do bloco, como o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace.

Em referência aos métodos híbridos de confrontação, Wallace assegurou no primeiro dia da cúpula celebrada em Londres que "as redes sociais, a esfera cibernética e uma sociedade mais aberta" oferecem a seus rivais "oportunidades sem precedentes para alcançar seus objetivos", ao mesmo que tempo que assegurou que "a 'doutrina Gerasimov' nos acompanhará por muito tempo".

  • Do que se trata?

Tudo remonta a um artigo que o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas, general Valery Gerasimov, publicou em 2013 e que analisava métodos modernos de guerra. Em sua análise, o militar russo destacava que o enfoque está se movendo para "um amplo uso de medidas políticas, econômicas, informáticas, humanitárias e outras medidas não militares, implementadas usando o potencial de protesto da população". O artigo foi publicado acompanhado de um infográfico sobre "o papel dos métodos não militares na resolução de conflitos entre Estados".

Curiosamente, em seu artigo o chefe militar russo falava de operações do Ocidente, e não da Rússia. Em particular, Gerasimov analisava os exemplos da Líbia e Síria e, sobretudo, os esforços ocidentais relacionados com a Primavera Árabe.

© AP Photo / Hani MohammedPartidários de Mohamed Morsi durante a Primavera Árabe no Egito, em 2013
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Partidários de Mohamed Morsi durante a Primavera Árabe no Egito, em 2013
Contudo, no Ocidente entenderam a publicação de uma maneira completamente diferente: "como um manual de treinamento para as Forças Armadas russas e serviços especiais para travar um novo tipo de guerra", indica o Kommersant.
  • Existe ou não?

O Ministério da Defesa russo insiste que a Rússia não possui nenhuma doutrina sobre guerras híbridas, inclusive com uso de armas cibernéticas. "O termo 'doutrina Gerasimov' foi criado artificialmente por representantes do Pentágono e da OTAN para justificar sua maior atividade militar e intimidar a opinião pública internacional com uma 'ameaça militar russa' imaginária", assegura o ministério.

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