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Analista da WWF: Brasil poderia influenciar outros países na questão ambiental

© Folhapress / Edmar Barros / Futura PressQueimada é vista em área de plantação próximo à praia de Lábrea (AM), 6 de setembro de 2019
Queimada é vista em área de plantação próximo à praia de Lábrea (AM), 6 de setembro de 2019 - Sputnik Brasil
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Na última semana, a ONG WWF apresentou uma análise inovadora e, ao mesmo tempo, preocupante sobre os possíveis impactos do declínio ambiental na economia mundial. O Brasil seria o sexto país mais afetado nesse sentido.

O estudo Global Futures, realizado em parceria com a Universidade do Minnesota e a Universidade de Purdue, traduz em números as prováveis perdas a serem registradas em 140 países / regiões ao longo das próximas décadas caso o ritmo das mudanças nos sistemas naturais da Terra permaneça como está. 

​A perda da natureza poderia tirar US$ 9,87 trilhões das economias globais até 2050, se os negócios continuarem como de costume. O Global Futures Report é um aviso severo: sem ações urgentes para proteger a natureza, a prosperidade econômica será afetada em escala global.

Os cálculos são baseados na perda dos serviços ecossistêmicos, que são benefícios que o ser humano obtém dos ecossistemas, incluindo o suprimento de água doce, alimentos e equilíbrio da temperatura. O estudo analisou como as mudanças climáticas afetarão o processo de polinização, que influencia diretamente a produtividade de algumas plantações, o aumento do nível do mar e a perda de corais, que causam a perda de área costeira e a deixam mais vulnerável a ressacas. Também considerou-se o impacto da mudança do clima nas chuvas, que afeta a disponibilidade de água, o crescimento de plantações e a disponibilidade de pescado na costa. Esses impactos são quantificados e, com isso, calcula-se o impacto na economia do país, conforme explicou, em entrevista à Sputnik, o analista de conservação da WWF-Brasil, Ricardo Fujii.

Em termos absolutos, o relatório em questão traz dados alarmantes para o Brasil. Até 2050, estima-se que o país perca cerca de US$ 14 bilhões (R$ 61,3 bilhões, na cotação atual) anuais devido à degradação da natureza, ficando atrás apenas de Estados Unidos (- US$ 83), Japão (- US$ 80), Reino Unido (- US$ 21), Índia (- US$ 20) e Índia (- US$ 20).

"Este estudo inovador mostra como a natureza perdida não apenas terá um enorme impacto na vida e nos meios de subsistência humanos, mas também será catastrófica para nossa prosperidade futura. Pessoas de todo o mundo já estão sentindo o impacto do aumento dos preços dos alimentos, secas, escassez de mercadorias, inundações extremas e erosão costeira. No entanto, para a próxima geração, as coisas serão muito piores, com trilhões varridos das economias mundiais até 2050", afirma Marco Lambertini, diretor-geral da WWF Internacional, em nota enviada à Sputnik. 

Essa ambiciosa pesquisa, apoiada por conselhos e sugestões de cientistas, economistas e especialistas em política de todo o mundo, indica que os prejuízos à economia brasileira deverão ser causados principalmente por danos ocasionados na zona costeira (US$ 12,382 bilhões), seguidos por problemas na produção florestal (US$ 1,326 bi), polinização (US$ 1,013 bi), água doce (US$ 0,690 bi) e produção pesqueira (US$ 0,108 bi). 

​"O mais alarmante é que essas são estimativas conservadoras, pois, atualmente, apenas alguns dos muitos benefícios que a natureza nos fornece podem ser modelados. Também não é possível levar em consideração os efeitos multiplicadores de riscos dos pontos de inflexão ambiental, além dos quais os habitats mudam rápida e irreversivelmente, levando à súbita perda catastrófica dos serviços da natureza. Se todas essas questões fossem levadas em consideração, os números seriam ainda mais graves", destaca Lambertini.

Nem tudo está perdido, ainda

De acordo com a WWF, em um cenário ideal de conservação global, no qual o uso da terra é cuidadosamente gerenciado para evitar novas perdas de áreas importantes para a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, os resultados econômicos seriam muito melhores do que os previstos hoje. O PIB global aumentaria 0,02% ao ano, gerando um ganho líquido de US$ 490 bilhões anuais. 

No caso do Brasil, para alcançar esse cenário de conservação, há dois grupos de medidas a serem tomadas, segundo destaca Ricardo Fujii: 

"O primeiro é reduzir as nossas emissões de gases de efeito estufa. Essa é uma responsabilidade de todos os países, e o Brasil pode cuidar de sua parte a um custo muito mais baixo e obtendo benefícios colaterais superiores à maioria, o que inclusive nos dá uma vantagem competitiva. O segundo é olhar as regiões mais vulneráveis às mudanças climáticas e tomar medidas para adaptá-las. Isso envolve ações com benefícios imediatos à sociedade, como prover bons serviços de abastecimento de água e saneamento, ter especial atenção à ocupação de áreas de risco e cuidar de áreas de proteção permanente, que protegem os rios e contribuem para a disponibilidade de água", disse o especialista em declarações à Sputnik Brasil. 

O analista afirma que, se não houver um esforço conjunto, os danos provocados em uma ou outra região afetarão todo o planeta, "mas, principalmente, os países e populações mais pobres que, além de já não terem condições adequadas de vida, têm menos recursos para fazer as adaptações necessárias". É por isso que, de acordo com ele, "o Brasil deve agir contra as mudanças climáticas: não apenas porque podemos fazer isso com relativa facilidade e com diversos benefícios diretos e indiretos, mas porque o Brasil sempre foi visto como um exemplo a ser seguido e pode influenciar outros países". 

Apesar das evidências cada vez mais abundantes dos efeitos negativos da degradação ambiental, é possível observar, ainda hoje, certa resistência à implementação de práticas econômicas mais sintonizadas com a preservação ambiental. Mas, de acordo com Fuji, a tendência é a de que isso mude.

"Hoje as grandes lideranças já sabem claramente que a conta das mudanças climáticas vai vir, de um jeito ou de outro. O que talvez ainda ocorra é que as lideranças empresariais e governamentais tem receio de tomar as medidas necessárias, as quais podem parecer duras, por isso vão postergando. Mas isso já está mudando: o setor financeiro, por exemplo, tem como uma de suas prioridades avaliar como o risco climático afetará seus negócios, evitando investir em setores problemáticos."

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