Orçamento do Pentágono é receita para o desastre, diz jornalista

© AP PhotoVista aérea do prédio pentagonal de cinco lados, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Arlington, Virgínia.
Vista aérea do prédio pentagonal de cinco lados, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, em Arlington, Virgínia. - Sputnik Brasil
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Orçamento do Pentágono é um dos maiores da história, apesar de denúncias de superfaturamento na compra de armamentos e resultados inconclusivos das guerras conduzidas pelos EUA.

O Congresso dos EUA aprovou recentemente um dos maiores orçamentos militares de sua história, que ultrapassa os gastos com defesa em períodos de pico das guerras do Vietnã e da Coreia.

O orçamento totaliza cerca de US$ 738 bilhões (mais de R$ 3 trilhões), montante que ultrapassa todos os demais gastos militares mundiais combinados.

De acordo com Mandy Smithberger, jornalista do projeto Governo sob Supervisão (Government Oversight, em inglês), a aprovação sugere que o Congresso não exercerá escrutínio sobre as atividades do Pentágono, que luta em "guerras intermináveis" e, apesar das promessas de campanha de Trump, está enviando mais militares para o Oriente Médio e escalando as tensões com o Irã.

Além disso, o Congresso norte-americano estaria fechando os olhos para a falta de eficiência no uso dos recursos e má performance dos EUA em conflitos internacionais, acredita Smithberger.

De acordo com o projeto Custo do Projeto de Guerra da Universidade de Brown, Washington já gastou pelo menos US$ 2 trilhões (cerca de R$ 8,5 trilhões) somente na guerra do Afeganistão. Denúncias publicadas pelo jornal The Nation apontam que boa parte do dinheiro foi desperdiçado ou desviado por esquemas de corrupção.

Evidências apontadas pelos relatórios do inspetor-geral para a Reconstrução do Afeganistão indicam que entre US$ 10 milhões (cerca de R$ 42 milhões) e US$ 43 milhões (cerca de R$ 183 milhões) foram gastos para construir um único posto de gasolina em uma região despovoada do país, enquanto cerca de US$ 150 milhões (cerca de R$ 639 milhões) foram gastos na construção de mansões de luxo para norte-americanos enviados ao Afeganistão para aconselhar no processo de reestruturação econômica.

© REUTERS / Baz RatnerSoldados do Exército dos EUA disparam de um morteiro em Kandahar, Afeganistão (foto de arquivo)
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Soldados do Exército dos EUA disparam de um morteiro em Kandahar, Afeganistão (foto de arquivo)

Frente a essas e outras graves denúncias, o Congresso norte-americano não tomou nenhuma medida para investigar ou aperfeiçoar o sistema de supervisão do uso do dinheiro público pelo Pentágono. Ao contrário, o Congresso aumentou o orçamento da instituição, lamentou Smithberger.

Essa espécie de "blindagem" do Pentágono estaria relacionada à grande influência que o complexo militar industrial teria sobre o poder legislativo norte-americano. Outro fator determinante seria a prática conhecida nos EUA como "porta giratória", que consiste em troca constante de funcionários entre o Pentágono e as grandes empresas fabricantes de armas.

Superfaturamento na compra de armas

Smithberger ainda detalha esquemas de superfaturamento de armas, que estariam utilizando parte significativa do orçamento de defesa norte-americano. Os preços de armamentos produzidos pelas grandes empresas do ramo seriam superfaturados e normalmente entregues fora do prazo. Ainda segundo a jornalista, muitos produtos não teriam a qualidade e capacidades prometidas.

Um exemplo seria o sistema de caças F-35, produzidos pela Lockheed Martin, a aquisição mais cara da história do Pentágono. Segundo Smithberger, apesar dos caças terem taxas de prontidão para o combate muito abaixo das prometidas, seu preço pode chegar a mais de US$ 100 milhões (cerca de R$ 426 milhões) por aeronave.

© AP Photo / Chris DrzazgowskiCaças F-35A Lightning II (foto de arquivo)
Orçamento do Pentágono é receita para o desastre, diz jornalista - Sputnik Brasil
Caças F-35A Lightning II (foto de arquivo)

A maior parte dos gastos, no entanto, são feitos para cobrir a manutenção e gerenciamento das armas adquiridas pelo Pentágono. Isso significa que as fabricantes de armas podem manter o governo dos EUA refém de seus preços e serviços por anos. O projeto Governo sob Supervisão apontou que há prática generalizada de superfaturamento de peças para reposição e de manutenção de armamentos.

De acordo com dados do projeto, o Pentágono gastou cerca de US$ 435 (cerca de R$ 1.859) em um martelo. Uma tampa de plástico para vaso sanitário para aviões militares custa aos cofres públicos norte-americanos cerca de US$ 10 mil (cerca de R$ 43 mil).

Opinião pública

Recentes pesquisas de opinião pública apontam que os norte-americanos prefeririam ver o dinheiro gasto de outra forma. Dois terços dos entrevistados acreditam que o governo deveria investir os recursos em outras áreas, como saúde, infraestrutura e energia limpa.

As informações repassadas ao público sobre as guerras norte-americanas e as necessidades de aumento nos gastos militares podem ser, no entanto, bastante parciais, acredita Smithberger.

© AP Photo / Anja NiedringhausSoldada americana bate continência durante celebração do Dia dos Veteranos
Orçamento do Pentágono é receita para o desastre, diz jornalista - Sputnik Brasil
Soldada americana bate continência durante celebração do Dia dos Veteranos

Série de reportagens publicadas pelo New York Times revelou um programa do Pentágono para contratar e manter "especialistas militares", em sua maioria generais na reserva, para aparecerem na mídia defendendo a necessidade de continuar guerras como a do Iraque. Especialistas que estariam, teoricamente, dando a sua opinião pessoal, na verdade tinham relações com fornecedores do Pentágono, denunciou o jornal. Após a publicação da reportagem ganhadora do prêmio Pulitzer, o Pentágono teria encerrado o programa.

Apesar dos indícios de irregularidades, ambos os partidos do Congresso norte-americano continuam a votar de forma unânime pelo aumento do orçamento do Pentágono, nota Smithberger. Para ela, apesar de cerca de 18 anos de conflitos inconclusos e ausência de auditorias, nenhuma medida é tomada pelo legislativo.

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