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Economista explica por que acordo EUA-China não é um bom presente para o Brasil

© REUTERS / Carlos BarriaPresidente dos EUA Donald Trump saúda seu homólogo chinês Xi Jinping em Mar-a-Lago, no estado da Flórida, em 6 de abril 2017
Presidente dos EUA Donald Trump saúda seu homólogo chinês Xi Jinping em Mar-a-Lago, no estado da Flórida, em 6 de abril 2017 - Sputnik Brasil
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Enquanto EUA e China trabalham para encerrar a disputa comercial que vem afetando intensamente a economia mundial em 2019, exportadores brasileiros demonstram preocupação com os termos desse acerto entre as potências.

Após meses de debates, taxações e trocas de acusações, Washington e Pequim anunciaram neste mês um acordo parcial para estabilizar o comércio bilateral e pôr um fim à guerra comercial que vem gerando inúmeras preocupações ao redor do globo nos últimos tempos. Embora o entendimento entre os dois países traga certo alívio para a economia mundial, há, por outro lado, quem tenha motivos para continuar se preocupando com os desdobramentos desse assunto. 

​A fase um desse acordo prevê, entre outras coisas, um aumento significativo na importação de produtos agrícolas norte-americanos pela China, totalizando US$ 16 bilhões por ano até 2022 e podendo chegar a US$ 50 bilhões no médio prazo. Bom para os Estados Unidos, ruim para o Brasil.

O Brasil exportou US$ 57,6 bilhões em produtos para a China do início deste ano até novembro, o que representou um aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2018. A soja, um dos principais itens agrícolas tanto do Brasil quanto dos EUA, respondeu por 34% desse montante, graças às brigas entre americanos e chineses, que permitiram a outros países aumentar suas participações em determinados setores desses dois mercados.

Agora, o receio dos exportadores brasileiros, sobretudo de soja, não é o de voltar a um cenário anterior ao da guerra comercial, mas, sim, o de levar desvantagens com esse novo acerto entre as potências, que, na prática, criará uma espécie de reserva de mercado para os norte-americanos na China, reduzindo o tamanho desse mesmo mercado para o Brasil. 

​Para o economista Ricardo Macedo, professor do Ibmec-Rio, a empolgação demonstrada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com esse princípio de acordo com a China se justifica, evidentemente, tanto pela garantia de fortalecimento da agricultura norte-americana quanto pela provável expansão de determinados ramos da indústria associados, como o da fabricação de tratores e outras máquinas. 

Segundo o especialista, embora, a princípio, as preocupações brasileiras se concentrem na perda de mercado para a soja na China, existe a possibilidade de o Brasil também perder espaço no mercado dos EUA, já que há determinados produtos brasileiros que os chineses também exportam para lá. 

"Com essas reduções das tarifas, provavelmente, melhorem os termos de trocas chineses para poder exportar em relação aos nossos", disse ele em entrevista à Sputnik Brasil.

Se quiser evitar os efeitos negativos dessa associação China-EUA, o Brasil terá que mudar sua política comercial, buscando novos mercados para seus produtos, afirma Macedo. 

"Pelo que a gente tem verificado ao longo dos anos, a balança comercial brasileira é muito dependente tanto da China quanto dos Estados Unidos. A gente acaba até entrando em um certo conflito, como foi demonstrado no início do governo Bolsonaro, dentro da linha apresentada pelo seu plano de ação na política externa [aliança automática aos EUA]. Agora, o governo brasileiro tem que buscar novas parcerias." 

​Apesar das perdas imaginadas para o Brasil com a entrada em vigor desse acordo entre Pequim e Washington, o professor destaca que há, ao mesmo tempo, pelo menos dois pontos positivos desse cenário: um deles diz respeito justamente a essa necessidade de diversificar as parcerias aproveitando o câmbio favorável, enquanto o outro se refere a um provável aumento da oferta de certos produtos no mercado nacional, deixando-os mais baratos.

"Independentemente disso, os produtores têm que começar a buscar essas outras alternativas", ressalta. 

Ainda sobre essa questão do mercado doméstico, o economista do Ibmec explica que, dada a sua lenta recuperação, é provável que, em um primeiro momento, os produtos sejam oferecidos a preços mais acessíveis. Mas, com a gradual recuperação e o crescimento da demanda, a expectativa é a de que, no longo prazo, os produtores possam adotar preços semelhantes aos cobrados no mercado internacional. 

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