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'Falta visão estratégica', diz analista sobre Brasil considerar deixar Mercosul

© Foto / Marcelo Camargo/Agência BrasilO ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante cerimônia da transmissão de cargo ao secretário-geral das Relações Exteriores, Otávio Brandelli, no Palácio Itamaraty (arquivo)
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante cerimônia da transmissão de cargo ao secretário-geral das Relações Exteriores, Otávio Brandelli, no Palácio Itamaraty (arquivo) - Sputnik Brasil
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O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não descarta a possibilidade de deixar o Mercosul por conta dos novos rumos do presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández.

"Aparentemente há na Argentina uma visão profunda que vai contra os postulados básicos do Mercosul", disse o chanceler em entrevista ao jornal Valor Econômico. "Não podemos dizer que é um projeto inquestionável, que vai durar para sempre, aconteça o que acontecer. O Mercosul não é apenas um nome, uma bandeira hasteada. Se o projeto é desvirtuado, precisa ser repensado."

Já no dia da eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, Paulo Guedes afirmou que o Mercosul não era uma "prioridade". Araújo, contudo, afirma na entrevista ao Valor que o bloco "vinha dando certo com a Argentina do [presidente Mauricio Macri]". 

O que mudou na relação entre as duas maiores economias da América do Sul foi a eleição do presidente Alberto Fernández. Na entrevista, Araújo contou estar preocupado com as posições de Paula Español, cotada para ocupar o cargo de Secretária de Comércio Exterior. 

Bolsonaro fez torcida pela reeleição de Macri e disse que o Rio Grande do Sul poderia enfrentar uma fuga massiva de argentinos caso Fernández ganhasse. O novo presidente da Argentina, que toma posse em 10 de dezembro, já classificou Bolsonaro de "racista, misógino e violento".

O presidente brasileiro quebrará uma tradição e não participará da posse de Fernández, mas será representado pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra. 

Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie Arnaldo Francisco Cardoso, a animosidade entre os dois líderes não é novidade, mas a recente fala de Araújo "ganha novos contornos" dada a proximidade da posse de Fernández. 

"Nos últimos 16 anos, tivemos superávit no comércio com o Mercosul e com a Argentina, uma quebra nessas relações pode afetar, e já vem afetando, setores importantes da produção no Brasil", diz Cardoso à Sputnik Brasil.

Ao contrário das relações comerciais que dominam as exportações brasileiras, os produtos mais vendidos do Brasil para a Argentina são itens manufaturados. Automóveis de passeio (20%), partes e peças de veículos e tratores (8%) e demais produtos manufaturados (5,4%) foram os itens que o Brasil mais vendeu para Buenos Aires de janeiro a outubro de 2019.

O Mercosul é responsável por estabelecer tarifas comuns entre os países membros do bloco e uma saída do Brasil do bloco pode dificultar negociações comerciais. 

Cardoso ressalta que o Mercosul já passou por outros momentos de tensão, mas que a resposta para a situação é fundamental: "A questão é como essa tensão pode ser encaminhada, se através da negociação ou do acirramento das divergências que pode culminar no rompimento desse relacionamento".

Ainda de acordo com o professor do Mackenzie, outro ponto preocupante sobre uma possível saída do Brasil do Mercosul é que o acordo com a União Europeia poderia correr perigo. Para Cardoso, "falta visão estratégica" do Itamaraty.

Um dos sintomas dessa falta de norte, diz Cardoso, é a agenda internacional de Bolsonaro: "Diversificar parceiros comerciais no mundo é positivo, mas isso precisa estar inserido dentro de uma estratégia, não de uma ação descoordenada, como parece ser o caso".
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