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'O século XXI é o século da África', afirma economista

© Sputnik / Renan LucioEncerramento do Fórum Brasil África 2019, em São Paulo
Encerramento do Fórum Brasil África 2019, em São Paulo - Sputnik Brasil
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Assim como a América Latina foi um grande centro de oportunidades no final do século XIX e no início do século XX, é possível dizer que o século XXI é o século da África, afirma o economista Igor de Lucena, do Instituto Brasil África.

Em entrevista para a Sputnik Brasil nesta quarta-feira, segundo e último dia do Fórum Brasil África 2019, em São Paulo, o pesquisador explicou por que considera tão importante o Brasil e outros parceiros saberem aproveitar o potencial econômico que o continente africano apresenta neste início de século. 

​"Grande crescimento populacional, uma falta de infraestrutura, mas grande potencial em riquezas naturais e possibilidades agriculturáveis. Se a gente fizer uma análise hoje do cenário africano, talvez o cenário seja até melhor do que era no Brasil", diz ele.

Segundo Lucena, ao contrário do que aconteceu no Brasil e na América Latina, quando houve uma dependência importante de investimentos europeus e norte-americanos, hoje, a África está sendo transformada com a ajuda da China, através da chamada Nova Rota da Seda, e da Índia.

"Eles estão transformando o continente africano com obras de infraestrutura. Várias elites africanas, em alguns países, já têm mais interesse que seus filhos aprendam mandarim do que inglês, porque a necessidade de relacionamentos com a China deve gerar mais lucros no longo prazo."

O economista destaca que, com o atual governo dos Estados Unidos, do presidente Donald Trump, adotando uma política geoeconômica mais fechada, isso significa que não há, por parte de Washington, interesse em realizar muitos investimentos fora dos EUA, uma vez que isso representaria uma exportação de empregos. No entanto, essa estratégia de investir no exterior, em países africanos, por exemplo, é conduzida com "recursos financeiros que voltam", e Pequim sabe muito bem disso.

"No meu ponto de vista, onde o fluxo de capital vai se alocar, principalmente dos países do Oriente — o Japão já se inclui nisso, por ter uma visão muito mais pragmática —, é no continente africano", opina o especialista, explicando que, além de todo o potencial, a África ainda oferece vantagens financeiras interessantes, como juros baixos e incentivos à migração de recursos para a economia real, para projetos de investimento.

De acordo com o pesquisador, a América Latina, com todas as suas dificuldades, tem capital suficiente, latino-americano, "para resolver grande parte dos nossos problemas", o que não acontece ainda na África.

"A própria desorganização de mercados impede a criação de poupanças. E, sem a criação de poupanças, como é que você vai investir no que precisa: novas tecnologias, startups, diversificação de produtos? Então, qual é o objetivo? Foreign direct investment [investimento estrangeiro direto]. Esses recursos não migrando para a especulação, mas, sim, para a economia real."

Igor de Lucerna acredita que o Brasil tem totais condições de ser um desses grandes investidores diretos na economia africana, uma vez que possui empresas e fundos suficientes. O que falta ainda é definir "aonde chegar e como chegar".

"No contexto dos BRICS, o Brasil é o único que não está lá dentro", sublinha o economista, indicando que a agricultura pode ser uma "porta de entrada".  

'Momento é mais de juntar do que de espalhar'

Também em entrevista à Sputnik Brasil ao final do Fórum Brasil África 2019, João Bosco Monte, presidente do Instituto Brasil África, se disse convicto da missão de sua entidade em aproximar brasileiros e africanos, independentemente de ações políticas por parte de governos. 

"Nós temos a absoluta certeza de que nossa agenda de aproximação de interesses brasileiros e africanos, tanto em nível de governo, em nível de empresas privadas, sociedade civil envolvida, organizações multilaterais, independe do humor do governo ou dos governos", disse ao ser questionado sobre uma possível diminuição recente na intensidade da cooperação entre Brasil e África, o que, de acordo com ele, não pôde ser percebido até o momento. 

​Segundo Monte, ele e seus parceiros se preocupam em definir uma agenda e então convidar o poder governamental, mas este é livre para "participar se quiser participar e se achar que é congruente com aquilo que pensa". 

"Entendo que o momento atual é muito mais um momento de juntar do que de espalhar. A nossa perspectiva, como organização internacional que cuida de uma agenda de aproximação entre organizações e pessoas do Brasil e do continente africano — e, agora, muito mais do que antes, envolvendo outras regiões —, fortalece a convicção, a gênese do Instituto Brasil África, que é de apresentar boas práticas do Brasil para a África e da África para o Brasil. E, no final, isso se transforma em oportunidades para quem está envolvido."

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