Análise: recusa de Bolsonaro em ir à posse de Fernández afetará principalmente Argentina

© REUTERS / Luis Cortes Presidente eleito da Argentina, Alberto Fernandez, em conferência de imprensa após reunião com o presidente do México, Andres Manuel Lopez Obrador, no dia 4 de novembro de 2019
Presidente eleito da Argentina, Alberto Fernandez, em conferência de imprensa após reunião com o presidente do México, Andres Manuel Lopez Obrador, no dia 4 de novembro de 2019 - Sputnik Brasil
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As manifestações de mútuo rechaço entre o mandatário do gigante da América do Sul e o presidente eleito da nação austral não param de aumentar, motivo pelo qual se esperam repercussões graves no campo econômico para ambos os países e uma possível fratura do Mercosul.

"Pela primeira vez em 17 anos da história do Mercosul, o presidente do Brasil não estará presente na posse do novo presidente argentino, que ocorrerá no próximo 10 de dezembro, o que é um momento extremamente negativo na relação entre os dois países e em especial para a Argentina", disse em entrevista concedida à Sputnik Mundo o analista internacional argentino Jorge Castro.

Jair Bolsonaro recusou o convite diplomático em meio a uma escalada de desentendimentos com seu futuro homólogo argentino, considerando que a população do país vizinho votou "mal" nas eleições de 27 de outubro e assegura que não felicitará o presidente eleito.

"Racista, misógino e violento" foram algumas das palavras com as quais Fernández devolveu os insultos de Bolsonaro logo que este qualificou como "bandidos de esquerda" os peronistas, partidários do movimento político argentino de longa data que voltará com força no cenário político argentino após a posse do novo governo.

A pedido do presidente dos EUA, Donald Trump, o Brasil ainda confirmou que aplicará uma cota de 750 mil toneladas de trigo para importações de fora do Mercosul sem reduzir as tarifas de 10%, praticadas para países não pertencentes ao bloco. As exportações argentinas atendem boa parte das necessidades do mercado brasileiro em grande medida graças à proteção dessas tarifas.

"Bolsonaro convocou uma reunião do Mercosul para 5 de dezembro, cinco dias antes da posse de Fernández. Lá ele comunicará aos outros membros [Uruguai e Paraguai, além dos mencionados] a decisão já tomada de reduzir a tarifa externa comum em prática para terceiros países, de 13,5% para 6% no prazo de quatro anos", destacou Castro.

Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, já haviam advertido em agosto passado que, se a Argentina oferecer resistência para a flexibilização dos acordos comerciais para fora do Mercosul, a continuidade do bloco ficará em causa, uma ruptura que provocaria graves consequências econômicas dada a estreita vinculação entre os países e suas empresas.

© AP Photo / Eraldo PeresBandeiras do Brasil e do Mercosul (foto de arquivo)
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Bandeiras do Brasil e do Mercosul (foto de arquivo)

As trocas comerciais entre Brasil e Argentina foram de 27 bilhões de dólares em 2019. A dependência da Argentina, como parceiro estratégico e segundo em escala dentro do bloco, é muito maior: o Brasil é o segundo maior mercado para suas exportações, além de ser o maior importador de bens industriais argentinos.

Ontem, Bolsonaro chegou a publicar no Twitter que três empresas multinacionais haviam decidido fechar suas plantas no país vizinho para se realocarem no Brasil, em um claro sinal de autoglorificação e descaso pela crise vivida na Argentina. No entanto, logo que foi desmentido pelas próprias empresas, o presidente apagou a publicação.

Um histórico conturbado

A tensão entre os dois presidentes sul-americanos não é de agora e se insere nas disputas ideológicas, refletindo as diferenças de modelos econômicos e rupturas políticas de todo o continente. A diferença poderia ser resumida na dicotomia entre o neoliberalismo e o que foi chamado de "socialismo do século XXI", tornando a América do Sul um complexo "quebra-cabeça" político em constante redefinição.

© Foto / PixabayMapa da América do Sul (imagem de arquivo)
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Mapa da América do Sul (imagem de arquivo)

Bolsonaro profetizava uma nova crise migratória caso o kirchnerismo retomasse o poder, o que levaria, segundo o presidente, à vinda de migrantes econômicas argentinos ao Brasil.

O forte rechaço do Brasil é devido ao posicionamento de Alberto Fernández a favor da libertação do antigo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril de 2018 após ser acusado por diversos escândalos de corrupção e ser condenado há nove anos e meio. O então candidato argentino o visitou na prisão no julho passado.

O Supremo Tribunal Federal do Brasil decidiu que as condenações à prisão só são executáveis uma vez que estejam firmes.

É o mesmo que temos reclamado na Argentina faz anos.

Valeu a pena a demanda de tantos!

Até mesmo Estanislao Fernández, filho do presidente argentino eleito, foi alvo de provocações por parte da família Bolsonaro. Em tom de ironia, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal e filho do presidente Jair Bolsanaro, entra em mais uma polêmica compartilhando a seguinte publicação em sua página no Twitter:

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