Novas articulações e polêmica com corrimão marcam 1º dia do novo parlamento português

© Sputnik / Caroline RibeiroSessão da Assembleia da República de Portugal em 25 de outubro de 2019
Sessão da Assembleia da República de Portugal em 25 de outubro de 2019 - Sputnik Brasil
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Os 230 deputados eleitos no último dia 6 para o parlamento de Portugal iniciaram os mandatos nesta sexta-feira (25).

Em meio às diversas questões políticas que preocupam o país, o que mais mobilizou olhares logo no início da sessão foi a chegada do primeiro deputado nacionalista conservador ao assento que vai ocupar durante os próximos quatro anos.

O deputado André Ventura foi o único eleito pelo estreante partido Chega. A cadeira atribuída ao novo parlamentar fica no fim de uma fileira e tem um corrimão de madeira que fecha o acesso por um dos lados. Para chegar ao lugar, André Ventura precisa passar pelos deputados de outro partido, o CDS - Partido Popular (CDS-PP). 

© Sputnik / Caroline RibeiroO deputado português André Ventura, único eleito pelo estreante partido Chega
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O deputado português André Ventura, único eleito pelo estreante partido Chega

Na semana passada, durante as reuniões prévias ao início da legislatura, um dos deputados do CDS-PP se queixou da situação. Telmo Correia, segundo a ata do encontro, disse que "não há nenhum outro GP (grupo parlamentar) que tenha no meio dos seus lugares um deputado eleito por outro partido". A declaração não foi bem interpretada e houve quem dissesse que o CDS-PP não queria estar próximo do nacionalista André Ventura.

Para apaziguar os ânimos, o deputado José Luís Ferreira, do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), sugeriu que fosse feita uma abertura no corrimão da fileira para que André Ventura possa entrar sem que os deputados do CDS-PP precisem se levantar.

"Uma coisa é nós pedirmos a pessoas da mesma bancada licença para passar, outra coisa é pedir a pessoas de bancadas diferentes. O CDS levantou o problema e o que eu disse foi que se estudasse a possibilidade de se abrir uma pequena porta para dar acesso ao deputado. Mas isso tem questões de patrimônio que é preciso autorização, presumi logo", disse José Luís Ferreira à Sputnik Brasil.

'Chega pra lá, chega pra cá'

O Palácio de São Bento, onde o parlamento português funciona desde 1834, é um prédio histórico tombado. Qualquer intervenção precisa ser autorizada pela Direção Geral do Patrimônio Cultural (DGPC). Procurado pela Sputnik Brasil para saber se alguma solicitação já havia sido feita, o órgão preferiu não comentar o assunto. 

© Sputnik / Caroline RibeiroCecília Meireles (CDS-PP), deputada da Assembleia da República de Portugal pelo círculo eleitoral do Porto
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Cecília Meireles (CDS-PP), deputada da Assembleia da República de Portugal pelo círculo eleitoral do Porto

Quem também cortou as polêmicas foi a líder do partido queixoso. Questionada por jornalistas sobre a mobilidade na bancada, a deputada Cecília Meireles disse que não seguiria comentando "um problema que o CDS não colocou. Se for lá dentro ver, terá a resposta à sua pergunta, porque as imagens valem mais que mil palavras".

Dentro da sala principal logo se percebeu o desconforto. André Ventura até tentou sentar sem incomodar os vizinhos, mas pelo menos uma deputada do CDS-PP precisou levantar para que ele conseguisse. E enquanto os dois riam da situação, o momento ganhou apelido. Foi a dança do "chega pra lá, chega pra cá", em um trocadilho com o nome do partido nacionalista. 

​Depois do intervalo, André Ventura foi mais ágil. Entrou antes na sala e sentou sem dificuldades, mas logo levantou, abordado por outros deputados que queriam ver de perto o "problema de mobilidade" do novo colega. O grupo apontava para o corrimão, para o chão, para as fileiras de cima. Mesmo descontraído com o assunto, o deputado criticou a situação.

"Perder tempo a discutir estes disparates, se é preciso uma porta, ou cortar o corrimão. Os portugueses olham pra isso e pensam se é pra isso que pagam o salário dessas pessoas, agora incluindo o meu", disse André Ventura à Sputnik Brasil.

Próximos quatro anos

Corrimão à parte, os novos deputados assumiram o mandato para os próximos quatro anos em meio a algumas dúvidas sobre o futuro do governo do primeiro-ministro reempossado, António Costa, do Partido Socialista (PS). O PS elegeu a maioria dos deputados, mas não a maioria absoluta, e agora depende de novas articulações políticas.

"Esta legislatura pode durar os quatro anos, mas não vai ser fácil, porque temos um governo minoritário que não tem nenhum acordo firmado, nem de coligação nem tampouco a nível parlamentar. Neste sentido, cada lei, particularmente cada Orçamento de Estado, vai ter de ser negociado caso a caso. Vai ser um esforço maior e portanto pode, a dada altura do percurso, haver desentendimentos e o governo cair. Também vai depender naturalmente da situação econômica do país, de muitos fatores", declarou Rui Rio, líder da maior bancada de oposição ao PS, o Partido Social Democrata (PSD). 

© Sputnik / Caroline RibeiroParlamento português durante sessão inicial da nova legislatura, em 25 de outubro de 2019
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Parlamento português durante sessão inicial da nova legislatura, em 25 de outubro de 2019

A primeira ação no parlamento foi a votação para presidente da Assembleia da República. O deputado Ferro Rodrigues, do PS, foi reeleito para função. No discurso, entre as prioridades para o mandato, destacou o combate às alterações climáticas.

"Este que é, sem dúvida, o grande desafio do nosso tempo", ressaltou o parlamentar.

Neste sábado (26), vai ser realizado o último ato formal relacionado às eleições de 6 de outubro. Vão tomar posse o primeiro-ministro, os demais 19 ministros e 50 secretários de Estado, em cerimônia conduzida pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

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